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A cada dia eu percebo o quanto existe de preconceito na forma de agir das pessoas nessa nossa sociedade volátil. Diante de uma verdadeira crise de valores Humanos, na qual boa parte das pessoas mostram-se sem o menor senso de bondade e de honestidade, em um tempo de verdadeira carência de empatia, percebo que existe um gigante resistente e tirano: o preconceito. A parte mais curiosa – ou alarmante – de toda a estupidez de pessoas preconceituosas é que elas alimentam esse mal passivamente, e somente por isso ele existe. A pergunta que paira pelo ar da consciência é “as pessoas são preconceituosas porque são vazias e ignorantes ou elas são ignorantes e vazias porque são preconceituosas?“
Você já ouviu a música Take me to Church, do Hozier? E você já assistiu ao vídeo-clipe dela? Sabe a tradução completa? Vamos combinar o seguinte, você assiste ao vídeo e lê atentamente a tradução e só depois prossegue com a leitura. Combinado? Isso será necessário para embasar a “conversa”!
Agora que você seguiu a minha sugestão, vamos ao assunto.
Cenas como as retratadas no vídeo estão acontecendo nesse exato momento; constantemente, LGBTs sofrem violências desde verbais até físicas seguidas de morte. Segundo a Agência Brasil, a cada 25 horas uma pessoa LGBT é assassinada por causa de sua orientação.
Vou deixar uma coisa bem clara: eu acho inadmissível que digam que somos seres altamente inteligentes e superiores a qualquer outra forma de vida no planeta enquanto coisas como essas continuarem acontecendo! Observe esses infográficos, obtidos em sites na internet:
Fonte: Relatório 2016 – Assassinatos de LGBT no Brasil/Grupo Gay da Bahia (GGB)
Mapa elenca as mortes de LGBTs por estados no primeiro semestre de 2018 (Foto: Divulgação/GGB)
Muitas pessoas compactuam com esse tipo de violência de maneiras que podem “””até””” considerar como insignificante – mas que são altamente ofensivas e fruto de profunda ignorância. Quando você está em uma roda de amigos e participa de uma piada contra LGBTs, ou quando zomba de um amigo ou de uma amiga que tem um comportamento diferente daquele estereotipado na sociedade, você está sendo homofóbico, ainda que inconscientemente. Não existe uma razão sequer para que a homossexualidade seja considerada estranha ou errada; então, se você a enxerga negativamente e ainda a transforma em puro divertimento, provavelmente você comprou a ideia da massa conservadora, intolerante e estúpida.
As “””justificativas“”” para comportamentos homofóbicos vão desde religiosas até pseudocientíficas. Certas religiões, que deveriam se preocupar com o aspecto espiritual do ser Humano, pregando os valores que possibilitariam construir um indivíduo mais amoroso e com virtudes capazes de unificar povos, preferem fixar regras altamente intolerantes e violentas contra todos que fogem aos preceitos magnos. Preocupam-se mais com o aspecto estético da população que com o metafísico. Dizer que apenas héteros têm “direitos e benefícios” enquanto seres Humanos é praticamente o mesmo que assumir que qualidades e virtudes dependem de um “sexo-tipo” para existirem. Um homossexual não é capaz de desenvolver qualidades e de praticar o Amor tanto quanto um dito heterossexual? Aonde entra a questão do gênero quando se fala de qualidades Humanas? Que diferença isso faz? Eu diria que, se uma pessoa é intolerante e superficial ao ponto de excluir o outro apenas por questões de gênero, essa sim não entendeu o que é “ser Humano”.
(trecho da música Take me to Church)
(Fonte da imagem: Clique aqui)
A pseudociência, por sua vez, busca de toda maneira uma razão para aniquilar a ideia de que ser LGBT é normal. Quem não se lembra da chamada Cura Gay? Como curar quem não está doente? Ainda não sei, isso não faz o menor sentido! O problema não é apenas eu desaprovar com quem o vizinho está se relacionando, mas também o fato de eu me importar com quem ele se relaciona; nesse caso, quem precisaria de uma cura seria eu. Minha real vontade é que não seja necessária a classificação de grupos sociais em Hetero e Homossexuais; eu gostaria muito que todos fossem chamados simplesmente de “Homo sapiens“.
É preciso acordar!
Enquanto a nossa sociedade continuar petrificando esteriótipos e reforçando a ideia de que determinadas características devem ser enaltecidas em detrimento de outras, seguiremos sob os trilhos da mediocridade. Infelizmente, conheço pessoas que assumem com alta voz que, se dependesse delas, “todos esses nojentos (segundo elas dizem) deveriam estar mortos“; como se não bastasse, elas acham nobre assumir essa postura. Outras, dizem-se “honestas”, “caridosas” e “verdadeiras almas santas”, mas demonstram uma profunda rejeição ao verem dois homens ou duas mulheres se beijando. Nas redes sociais, aqueles “varões valorosos e portadores da luz” espalham memes e mais memes dizendo que “o certo é homem com mulher, o resto é gambiarra“. Exemplos ruins sobre isso não faltam, o que falta é inteligência!
Sinceramente, não vejo possibilidades reais de uma pessoa que busca pela sabedoria conseguir alcançá-la caso mantenha em si obstáculos sob a forma de preconceitos. O primeiro passo a ser dado rumo à construção Humana é aprender a respeitar e Amar o próximo. Entender que somos seres plurais é essencial; compreender essa pluralidade é a fonte da sabedoria. Não precisamos vincular ações virtuosas à aspectos físicos. A orientação de gênero não interfere no processo de transformação mental e filosófica.
A música Take me to Church não é apenas uma excelente composição musical, ela é uma verdadeira denúncia a essa prática preconceituosa. Ela aborda detalhes que estão distribuídos na letra de forma direta ou indireta, explícita ou implícita. Uma pessoa que consegue assistir ao clipe que recomendei acima e, mesmo assim, não demonstra a menor preocupação com o cenário atual, provavelmente não sabe ao certo o que é uma vida baseada na sabedoria. Pessoas são mortas simplesmente porque desejam ser quem elas são (veja exemplos aqui), isso parece normal e/ou aceitável para você?
Eu usei essa música para abordar o tema da homossexualidade, mas entenda que inúmeras outras formas de preconceitos têm suas raízes profundas no pensamento de “pureza”. Quando os eugenistas do Século XX atuaram em “nome da ciência”, eles estavam buscando uma maneira de provar que aquilo que era diferente contaminava o “padrão”. E, como diz o historiador Yuval N. Harari, “se você quiser manter qualquer grupo humano isolado – mulheres, judeus, ciganos, gays, negros –, a melhor forma é convencer todos de que essas pessoas são fonte de contaminação“.
Temas como esse ainda são considerados como pedras no sapato para muitos. Há um grande esforço para menosprezar a diversidade; conservadores inatos agem com agressividade para sustentar essa ideia de contaminação. Acredito que fazem isso com tanto ódio e barulho porque não possuem nada que seja realmente sólido em seus argumentos, logo, só tem uma maneira de exporem seus pontos de vista: adjetivando e agindo com violência física. É como se tais pessoas estivessem “protegidas” por um único muro, e atrás desse muro não houvesse nada além do vazio; se você destruir o muro (no caso, o preconceito), elas ficarão vulneráveis – por isso que tanto ódio e tanta violência é empregada, para que você não descubra a insignificância por trás do nada. Dica: suspeite sempre de pessoas que elevam a voz quando querem defender ou expôr uma ideia – elas fazem isso para que você vá embora, já que não possuem nada melhor para te apresentar.
Enfim,
Espero que esse pequeno texto, tão raso quando comparado à imensidão de possíveis abordagens, seja útil para ao menos introduzir o debate sobre essa temática. Os seus comentários são sempre importantes para que possamos aprender juntos. Se você gostou do texto, compartilhe-o nas redes sociais, discuta-o com seus amigos e não deixe de considerar uma análise a esse respeito. Podemos fazer a diferença e contribuir para que a sociedade seja mais consciente; isso só acontecerá se sairmos da posição de meros telespectadores e passarmos a agir em prol da verdade, da honestidade e da vida. “Amar o próximo como a ti mesmo” não depende de estar ou não vinculado a uma religião específica, basta, para isso, agir com sabedoria. Vamos agir!
(Fonte da imagem: clique aqui)
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Andreone T. Medrado
Devaneios Filosóficos
Gosto desta música e procurando o significado da letra caí aqui. Obrigado pelo post, o texto está muito bem escrito. A sua abordagem do tema homossexualidade na sociedade atual é bastante didática e pegar o música como base para a discussão foi bastante inteligente e apropriada.
Obrigado.
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Nojo é de gente que espalha ódio, pois só tem isso pra oferecer. Não gosta? Só ignora, cuida da própria vida, como tantas outras pessoas.
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Eu só queria saber o nome do filme pra me assistikkk
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Nojo de viado, que morram todos! Afinal temps que ter liberdade para expressar !! Não e mesmo?!? Bando de hipócritas!! Por mim que vcs tods inclusive quem escreveu este texto chulo, vão para o quinto dos infernos
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Eu chorei quando assisti ao vídeo clip dessa música pela primeira vez! Depois de ler sua matéria, gosto ainda mais dela! Obrigada por suas palavras! O mundo precisa de mais pessoas assim!
Deixo aqui minha sugestão de vídeo (outro que me fez chorar) Calum Scott – If our love is wrong 💕
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Olá, perfeita a análise.
A melodia da música me agrada, embora a letra seja pobre ao meu ver.
Não sei qual o intuito da criacão desta música, mas para mim soa uma idolatria ao indivíduo que através da vitimizacão busca sua glória no status quo da atual sociedade. Particulamente prefiro letras que exaltam a forca humana à fraqueza (me refiro ao ato da vitimizacão).
Ademais, se o intuito é uma crítica a deus, então é realmente algo sem sentido, pois se dirigir contra alguém em quem não se acredita não é lógico. Se a crítica é feita à religião em geral através da crenca em um ser qualquer, então algumas possuem o direito de defesa, enquanto outras muito provavelmente não.
Abs (desculpe os erros de ortografia – teclado).
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quanta inteligência, evolução, perspicácia e sabedoria! Excelente texto, meus mais sinceros parabéns!
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Muito obrigado, meu Caro!
Seja bem-vindo ao Blog! 😊
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É muito bom ler um texto com tom de denúncia de algo extremamente atroz que parece normal em nossa sociedade. Eu cheguei a comentar com você em algum momento sobre a música “Mar e Lua” do Chico Buarque. A metáfora de uma relação amorosa entre duas mulheres numa cidadezinha de interior, em que a população extremamente conservadora e preconceituosa achava aquele romance pueril uma ofensa à moral e aos bons costumes. Mas, afinal, que moral é essa? Que atenta contra a felicidade, contra o amor ingênuo e voraz, que só quer poder existir e contaminar o mundo com mais amor? A saída para as amantes que estavam cansadas de viver nessa repressão e que não conseguiam materializar seu amor nesse universo, foi eternizá-lo com a morte. Ao final da canção elas cometem suicídio e uma metáfora que aos olhos limitados era inconcebível, se eternizou. O que se uniu não foi duas mulheres que atentavam contra um povoado conservador e hipócrita, mas duas almas, que acharam mais importante eternizar o amor, ao viver na hipocrisia. É triste ver que a sociedade resista tanto ao amor, rotulando as relações e abdicando do mais importante que é aceitar o amor. Não consigo entender como algo tão bonito seja tão inaceitável. E digo isso não apenas da perspectiva de alguém não religioso. Mas, de alguém que em um dado momento (dada as circunstâncias dos impactos da catequização e da imposição religiosa) também teve uma religião. Se você suprimisse todos os ensinamentos do catolicismo e resumisse-os a um único ensinamento, seria: “Amai ao próximo como a si mesmo”, como amar o próximo se você não aceita que ele também tenha direito de amar? Tento entender a infinidade de paradoxos da natureza humana… Especialmente quando eles partem de preceitos religiosos. Veja bem… Também já fui alguém que não teve o direito de escolher. Agora tenho esse direito. E por isso mesmo não consigo entender todo esse repúdio seja ele explícito ou implícito, por amor… Não faz sentido defender o amor, se você reprime quem o pratica. Sei que chega a ser de certa forma frívola minha análise, adotando essa única vertente social, existem muitas perspectivas, mas buscando a essência… Esse invólucro (aspectos físicos), faz com que a alma aprisionada (pela ignorância) estranhe quando seres de invólucros iguais se amem. Mas, se pudéssemos tirar esse invólucro (abolir a ignorância pelo esclarecimento), veríamos que são almas conectadas por um bem maior e muito repetido nesse humilde comentário, são ligadas pelo amor. Eu me vigio ao máximo para não compactuar, mesmo que inconscientemente, com diversos tipos de pré-conceitos. E não digo apenas sobre o denunciado em seu texto. Digo sobre vários. Seja na sexualidade, na origem étnica, etc. Estou lutando contra uma construção milenar que moldou o ser humano e o fez tão paradoxal… É uma luta que durará até minha expiração. Mas, que não cansarei de tentar vencer. Muito obrigado pelo texto! E desculpe se fui inconveniente ou leviano em algum aspecto. Obrigado pela possibilidade de dialogar ideias.
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Confesso que vez ou outra me pego contribuindo com piadas homofóbicas, mas ao mesmo tempo me crucifico por dentro, pois na verdade não há problema nenhum ser gay. Taxar de “viado” é de fato muito preconceituoso, e passou a me incomodar. Como já discuti em uma de minhas publicações (AnO.12) sobre este assunto, parte disso é reflexo do comportamento de “pagar de macho” que ultimamente tem me incomodado bastante, e creio ser fruto do conservadorismo e da religião, pois ainda não consigo enxergá-las a não ser de mãos dadas ou como uma única coisa.
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Fico muito contente por ver o seu comentário. Li o seu texto (AnO.12), achei incrível também. Interessantemente, falo sobre isso nos meus textos, e compartilho de sua ideia sobre o estreito relacionamento entre certas religiões (e/ou religiosos) e o conservadorismo.
Muito obrigado pela sua participação!
Convido-te a ler meus textos “Somos todos conservadores” e “Religião | todas porém nenhuma”.
Um forte abraço!
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Me lembro perfeitamente de quando você me mostrou o clipe dessa música com legenda pela primeira vez. Uma mistura de sensações, marcada principalmente pela indignação ao imaginar como hoje em dia isso ainda acontece aos montes; como pessoas podem ser vitimizadas pela sua opção sexual, que em NADA interfere na vida dos outros. E se pensarmos na infinidade de outras formas de discriminação que pairam pela sociedade, a lista de indignações só aumenta.
Essa música é incrível em vários aspectos… Que letra! Como você disse, é uma denúncia (para mim bem explícita) de “regras” que foram criadas e continuam sendo propagadas entre quatro paredes… As regras da imundície, da abominação, da condenação e da contaminação continuam vivas na ideologia de muitos.
Me surpreendo tristemente quando penso que um dia tive a capacidade de concordar com essas regras. Ainda bem que nunca é tarde para começar a pensar!
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