Um pouco de História
Como disse Teresa Melo Sousa, para o site Terra.com, “A história da massagem é tão antiga quanto a do homem. Estudos arqueológicos indicam que, já na pré-História, o homem promovia o bem-estar geral e adquiria proteção contra lesões e infecções por meio de fricções no corpo. Seriam os primórdios do que hoje se entende por massagem.
Há também registros de que civilizações da Antiguidade, como egípcios, hindus, gregos, romanos, chineses e japoneses, cerca de 300 a.C., fizeram referências sobre os benefícios da massagem para o bem-estar. Mas os primeiros a reconhecer as propriedades curativas dessa técnica de friccionar o corpo foram os chineses, que assinam a literatura mais remota que se tem notícia: o texto médico Nei Ching, escrito 2800 a.C.
A palavra massagem é de origem grega e significa amassar. Depois dos chineses, o pai da Medicina, o grego Hipócrates, fez uso das propriedades terapêuticas da massagem, que ele denominou “anatripisis”, cujo significado é friccionar pressionando os tecidos. A expressão foi traduzida para o latim como frictio e permaneceu em uso nos Estados Unidos até 1870. Frictio significa fricção ou esfregação. Na Índia, a expressão usada para designar massagem era shampooing. Na China, era Cong Fou e, no Japão, ambouk.“
Filosofando
Que a massagem oferece benefícios ao corpo físico, isso é notório. Mas você já parou para pensar nisso do ponto de vista psicológico (ou filosófico mesmo)?
Somos movidos por comparações, seja em qual for o sentido; isso pode ser ótimo, pode ser bom, pode ser ruim, como pode ser péssimo. Atualmente, vivemos uma onda de comparativos que parece solapar os mais singelos princípios humanos. Pessoas comparam-se o tempo todo umas com as outras como se fossem mercadorias de um sistema frenético. Consequentemente, surge uma competitividade às vezes violenta, mas que nem sempre é considerada um mal dos séculos. Nesse sentido, uma maneira de alimentar essa exagerada competitividade comparativa é o que chamo de massagear o ego. Quando massageamos o nosso ego estamos, na verdade, mostrando para o outro que de alguma maneira somo melhores que ele comparativamente e, claro, recebemos por recompensa um alívio ou uma sensação de prazer – o que motiva a próxima massagem. Isso acontece no plano mental. Mas, e daí, o que é massagear o ego?
[Ilustrações costumam ser mais eficientes que textos e mais textos. Então vamos lá!]
Imagine que você está passando por uma situação de tensão – começou a estudar para o vestibular e precisa ingressar na universidade o quanto antes; você estuda por várias horas, diariamente, na tentativa de se preparar da melhor maneira possível; ao final do ano, realiza as provas e, dias depois, ao saírem os resultados, descobre que foi para a lista de espera mas que são mínimas as chances de ser aprovado – ou seja, precisará estudar por mais um ano. Ao contar isso para outra pessoa, ela diz “minha amiga prestou vestibular para medicina na USP, pela primeira vez, e foi aprovada em primeiro lugar! E ela nem estudava tanto.” … Observe que esse comentário não serve de nada nessa conversa, a pessoa poderia não o mencionar, se ela fez isso foi para se sentir melhor em relação a você (com certeza não o fez para te ajudar). Ela massageou o próprio ego.
Imagine mais um pouco… vamos? Digamos que você sentiu um forte desejo por retomar as leituras e o fez com muito entusiasmo – comprou livros novos, viu-se encantado(a) com novos assuntos e novas descobertas e notou que estava em uma ótima fase. Tanta era a sua euforia que você decidiu publicar uma foto dos seus livros na sua rede social para expressar a sua conquista. Digamos que na sua legenda você tenha escrito “Livros maravilhosos! Começando uma nova fase na vida, já li dois livros em apenas um mês… #AmorPelaLeitura“. Poucos minutos após você clicar em “publicar” recebe uma notificação. Ao lê-la, vê “Que legal! Parabéns pela iniciativa! Infelizmente esse mês eu não li tanto quanto esperava – consegui ler apenas doze livros, mas tudo bem, preciso criar vergonha na cara e me dedicar mais à leitura!” Diga-me, leitor(a), qual a necessidade de um comentário como esse? Foi para ajudar alguém? Mais uma vez, o ego foi massageado, e numa intensidade de 6x.
Não pense que isso acontece só quando a resposta vem para mostrar algo superior -positivamente – em relação ao seu comentário. No entanto, não seria uma total ingenuidade pensar assim, já que, independentemente da maneira como é feita a massagem, ela sempre acaba por elevar o massageador de alguma maneira. A coisa é tão séria que não duvido que, caso alguém diga “estou profundamente preocupado com meu pai, ele foi diagnosticado com cefaleia crônica“, surja uma resposta como “Nem te conto, o meu pai foi diagnosticado com um tumor no cérebro depois de fortes dores de cabeça“; Ou, alguém diga “a minha filha foi assaltada ontem à noite” e tenha como resposta “a minha foi assaltada dezessete vezes só nessa semana e, em uma dessas vezes, quase morreu“. Egos fortemente (ou, loucamente) massageados! Tudo para não ficar sem responder algo? Tudo isso para se mostrar com argumentos mais “poderosos”? Que fosse mantido o silêncio! Mas, pelo que me parece, o prazer pelo silêncio não se compara àquele proporcionado por uma massagem bem feita! “Volte sempre! O ego agradece à preferência!”
De fato, eu já me vi (e vejo-me) por várias vezes massageando o meu próprio ego… Em assuntos que não exigiam uma resposta ou contra-argumentos eu sempre fazia questão de aplicar uma boa massagem em mim mesmo. Tento mudar esse mal hábito – não é tão simples assim, pois ele aparece sob várias faces, uma mais difícil de identificar que a outra. Pelo que tenho observado, esse comportamento surge da necessidade de nunca ficarmos para trás em uma conversa ou situação. Como se isso fosse algo que nos tornasse piores ou melhores. Todavia, suspeito de que exista uma saída para fugirmos dessa “necessidade” doentia, e tento utilizá-la sempre que me dou conta de que o ego está sendo massageado.
Por exemplo, toda vez que uma situação surgir, na qual alguém te conte algo novo – ou uma conquista, ou planos -, na mesma hora pense: “a minha resposta, ou o meu exemplo, nesse assunto, será no mínimo útil para essa pessoa que fala comigo?“. Se a resposta for não, então cale-se imediatamente. Se não acrescentaremos algo na vida das pessoas, para que fazê-lo? Lembre-se que egoísmo tem sua raiz na palavra ego. Se é para sermos egoístas, que fiquemos calados; assim, ninguém sairá no prejuízo.
Por outro lado, caso o seu exemplo, ou a sua resposta, seja útil para a outra pessoa, ajudando-a a encontrar uma melhor saída para a situação, aí sim, você pode falar. Mas faça-o com humildade, retirando o máximo possível da sua soberba e massageando o seu ego o mais brevemente possível (caso seja inevitável massageá-lo).
Portanto, se alguém te questiona sobre uma possível viagem, você não precisa dizer que viajou para 10 países; quando alguém te fala que está aprendendo um idioma novo, você não precisa dizer que é fluente em 7 línguas; caso te falem de uma obra de Machado de Assis, você não precisa dizer que conhece todas as que ele já escreveu. Nada disso será útil para a conversa, apenas massageará o seu famigerado ego. Eu penso que, caso o meu conhecimento e minhas experiências sejam de fato relevantes, eles participarão da conversa naturalmente e na medida certa. Do contrário, será feito por puro prazer! E nem todo prazer é sinônimo de coisa boa – vícios surgem do prazer – que passa a compor um quadro de necessidade incontrolável.
Contribua com o conhecimento
Como você enxerga essa temática? Com que frequência você costuma massagear o seu ego? Deixe a sua opinião e sugestão sobre esse assunto nos comentários! Aprendemos melhor quando aprendemos juntos!
#VocêJáParouParaPensar?
Você já segue o Blog Devaneios Filosóficos? Aproveite e faça essa boa ação, siga o Blog e receba uma notificação sempre que um novo texto for publicado. Também, se gostar, siga e compartilhe a nossa página no Facebook.
Andreone T. Medrado
Devaneios Filosóficos
A imagem utilizada para compor a capa dessa publicação foi obtida aqui.
Amei a reflexaõ
CurtirCurtido por 1 pessoa
Fico contente de que você tenha gostado! Muito pela visita ao Blog! 😊
CurtirCurtir
É duramente difícil controlar esse hábito quase natural de massagear o ego. É uma defesa tão instintiva, que chega a sair de forma despercebida. Como você enfatizou, ainda estou tentando detectar isso. Alguns são tão explícitos que sinto vergonha de ter usufruído. Entretanto, outros são tão sutis, que eu não percebo imediatamente, mas, alguma expressão do interlocutor me faz ter esse discernimento gradualmente… Quando eu percebo que poderia dizer algo que enfatize apenas meus adjetivos em vez de trazer acréscimo, eu tento pensar em algo que apenas conforte a pessoa. No final. ela deu uma notícia para buscar um conforto, se eu trocar esse conforto pelo meu próprio, não seria justo. Então, se percebo que sairá algo que não traga valia, tento mudar para um acalanto aprazível, desde que não seja nada forçado. Se não surgir nada, fico em silêncio dando sinal de que entendi. rsrs É difícil lidar com isso. Mas, reconhecer como um problema a ser trabalhado é importantíssimo. Seria bom se esse “vírus” se propagasse e atingisse outras pessoas, para que essa atitude fosse mais recíproca.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Muito bom o texto!
Realmente é muito fácil cair nas ciladas do próprio ego.
Acredito que isso acontece também porque não somos bons ouvintes, nem nos treinamos para ser. Quer dizer, tendemos a ouvir mas não a escutar o que o outro quer nos dizer; é mais comum planejarmos mentalmente uma resposta para rebater o que a pessoa está dizendo do que se entregar a simplesmente ouvi-la e validar o que foi dito.
Como você disse, é um treino prático constante!
CurtirCurtido por 1 pessoa