“Vocês leem o que?” – cuidado com o pensamento de burguês intelectual!

Quando o assunto é ampliar o meu conhecimento de mundo, eu tento considerar a importância de se ler obras chamadas Clássicas; mas tento fazer isso com certa moderação. Então, se é para ser clássico, vale aqui a máxima grega “Mêdén ágan“, que significa algo como “Nada em excesso!“.

Talvez vocês já repararam que, quando o assunto é o excesso de demonstração de “saberes”, entra em cena uma sombra que há muito está no encalço da sociedade: o pensamento de Burguês Intelectual. Acreditar que ler os clássicos deva ser uma regra e que isso per si serve de nivelamento intelectual, parece mais um sintoma neurótico, para não dizer que é carência de identidade. Pensar que será elevad@ inclusive ao status de cult@ somente quem já navegou pelos três volumes de “A divina comédia“, já leu a “Ilíada” e a “Odisseia” ou que já leu “Alice no país das maravilhas” – e não vale assistir ao filme, dizem – é um comportamento característico de quem ainda não entendeu o verdadeiro valor da leitura na vida e na sociedade.

Se eu não sou capaz de extrair uma reflexão sobre mim e sobre o mundo a partir de qualquer que seja a leitura, mas, antes, preciso invariavelmente recorrer aos clássicos para isso, o problema está em mim. Treinar o nosso olhar para interpretar as coisas, os livros e as pessoas à nossa volta é muito mais importante que colecionar títulos de obras que, às vezes, não somam mais que um punhado de papel na estante. Nesse sentido, o pensamento de Burguês Intelectual mede-nos não pelo que depreendemos de nossas leituras, mas sim dos títulos que propriamente lemos; vocês não acham isso um tanto quanto medíocre?

Eu não ficaria muito satisfeito se os livros que eu leio servissem apenas para aumentar o número de palavras lidas no Skoob – isso é, além de vazio, patético [eu acredito nisso; e vocês?]. O que dizer então de colecionar clássicos apenas para me servir de um fator que me “diferencie” de quem não os lê?

Aqui cabe uma observação muito importante: dentro do universo acadêmico sempre existiu um medo irracional de que um trabalho – fruto de anos de pesquisa e de leitura – seja facilmente entendido por pessoas não acadêmicas, que já receberam o material todo preparado. É uma vaidade descabida e inútil querer dificultar a linguagem de uma informação somente para ter o gostinho de ouvir um “não entendi o que você falou, isso é muito complexo para mim!“. Mais uma vez: isso é irracional. O conhecimento só tem sentido e valor se ele puder ser compartilhado com todas as pessoas. Atribui-se a Einstein o dizer de que “se você não é capaz de explicar algo de forma simples é porque você não entendeu bem o suficiente“. Mas é justamente o oposto disso que fazem certos acadêmicos – que sentem prazer em ser incompreensíveis. Disso, não me espanta que eles recorram também a um repertório seleto de obras (ditas clássicas) como simbolismo de um conhecimento erudito/elitista/exclusivista – desclassificando qualquer outro tipo de livro, autores ou leitores que não tenham trafegado pelo “hall da fama burguesa“.

Daí percebemos também que certas pessoas necessitam – talvez compulsoriamente – de desmerecer qualquer divulgação científica ou qualquer obra contemporânea que tenha uma linguagem realmente acessível e que, sim, pode satisfazer o gosto dos diversos leitores e leitoras. Hesíodo, Homero, Virgílio, Platão, Aristóteles, José de Alencar, Machado de Assis, Eça de Queirós, são excelentes opções de leitura, mas não são as únicas – tampouco, as melhores. Eu acredito que livro bom é aquele que me faz pensar, que me envolve e me diz “agora fazemos parte um do outro“. Não é preciso possuir o título de “leitor de clássicos” para sermos leitores e leituras realizad@s. Suspeito de que quem se autoafirma demais pode estar carente; e, por isso, acaba buscando na humilhação alheia uma forma de aplacar a sua triste solidão e a falta de si mesmo.

Quando, após recitar uma coletânea de clássicos “famosinhos“, alguém ficar “perplexo” porque vocês nunca leram nenhuma das suas citações e te perguntarem “vocês leem o quê?“, eu sugiro uma ação: saiam de mansinho, retirem-se e não deem corda. Ou, como diria um professor de história da Unicamp, “não toque tambor para maluco dançar“. Certamente você estará diante de um Pensamento de Burguês Intelectual. Sigam as suas leituras e sejam felizes!

Agora, sem soberba ou maldade alguma, quero perguntar de forma amiga e aberta: Vocês leem o quê? Compartilhem aqui nos comentários que tipo de leitura mais vos agrada, e que livro vocês estão lendo ultimamente. Se não estiverem lendo muita coisa, e houver um espacinho para leituras novas, que tal ler os textos aqui do Blog? Fica o convite para vocês! E, claro, independentemente do que esteja nas suas filas de leitura, curtam cada palavra e cada frase; e tentem aprender com elas. #VocêJáParouParaPensar nisso?

Para reflexão, deixarei algumas frases coletadas da internet… é “vivendo e aprendendo“:

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Andreone T. Medrado
Devaneios Filosóficos

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NOTA: as imagens utilizadas para compor a capa dessa publicação foram coletadas na internet.