#22 – o amor é falta. E se eu te perguntasse sobre o que é o amor, e considerando que ele exista, o quê você me diria? Mas e se, de um jeito mais sádico e tentador, eu te dissesse que mais ninguém além de ti seria capaz de saber da sua resposta, e que portanto você poderia responder somente na sua mente, apenas para você e em seus escombros, o que você diria sobre o que é o amor? […] (Risos chorosos!) Pobre bando de hipócritas e de seres hipocondríacos emocionais que nós somos! Mendicantes de prazer, corpos sedentários que repousam sobre a ilusão altruísta; animais pacatos e descompreendidos de si! Cadê aquela coragem que se assenta no trono de nossa consciência quando estamos sozinhos/as e ninguém mais nos vê? E aquelas frases sussurrantes que lançamos ao ar quando sabemos que ninguém as ouvirá, aonde estão? Quando falamos que amamos alguém, por que é tão difícil admitir que na realidade o que amamos é aquilo que a outra pessoa provoca em nós? Digo melhor: por que em vez de um brilhantismo romântico não assumimos que estamos mais interessados/as em alimentar nossos prazeres mais profundos? Ah, é porque você, em sua magnificência, não é desse jeito? Nem eu? […] Já disseram isso antes, mas a repetição é parte do processo: Amor é falta! Não estremeçamos mesmo que aqui você e eu tenhamos encontrado o que nos fere as entranhas. Mas quem disse que não sabíamos dessas coisas? Relaxemos, então! Talvez só tenhamos demorado muito tempo para percebermo-nos na trama. Roubamos as carcaças alheias e corremos rápido demais, isso que faz quem tem medo de virar presa tornar-se o próprio predador. O amor, supondo-o existente ou considerando-se o vigente, é aquilo que, faltando em nós, se faz necessário ser vivido, buscado e perseguido em outro corpo. A realidade não depende de nós, mas nós somos serviçais dela! Ao amar alguém, amamos sobretudo aquilo que em nós é insuficiente para – de nós por nós mesmos/as – se atingir a satisfação e o gozo. Seria mais estarrecedor se, quem sabe, essas palavras fossem tais como um grito inédito. Mas não o são. Elas atravessam gerações de séculos. Elas estão aí, postas à mesa em todos os cafés da manhã do tempo humanizado; e se tem uma coisa que não se esconde nas curvas da história é que o humano coloca e sempre colocou acima de deuses, Estados e de leis as suas realizações libidinosas, seus prazeres concretizados e concretizáveis – o amor; vale ainda dizer que os mesmos deuses, Estados e leis existem não para outra coisa senão para manter possíveis essas realizações interesseiras e interessantes – foram acidentalmente inventados pelo ser humano, mas insistentemente aperfeiçoados; e mesmo que apenas uma parcela do todo social seja atendida em suas satisfações, é para isso que se prestam os frutos do amor. Agora, se o que temos de mais qualificatório e prodigioso no dito ser humano é esse amor, esse mesmo travestido e lapidado com o tempo, o que faremos? Se ao descobrir-se em posse de uma herança, mas que elá é na verdade um baú repleto de escorpiões, o que fazer? Ora, não façamos quase nada! Mas que também não fiquemos no mesmo lugar! Que continuemos “amando”, o contrário nos desclassificaria enquanto seres humanizados. Se amar é deixar ir, esse “deixar ir” simboliza entre outras coisas um desprendimento dos nossos egoísmos que podem ser desprendidos. Assim, em nossos egoísmos vitais, aqueles mesmos que você e eu tomamos em doses diárias e vitalícias, poderiam ser ao menos um pouco mais empático na atuação. Digo, empático ou diplomático o suficiente para não se cuspir no prato em que se come. Amor é falta, e é falta de nós mesmos/as! E às vezes também é falta de empatia e de respeito! Mas segue sendo amor. Sei que pouco importa, mas ao menos nisso eu e Freud concordamos: o amor é falta!

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vjppp

Andreone T. Medrado
Devaneios Filosóficos

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NOTA: a imagem utilizada para compor a capa dessa publicação foi obtida aqui.