Do dia a dia à Metáfora
É em uma viela, localizada na Cidade de Osasco, que ocorre um fenômeno muito comum e que você provavelmente já o presenciou em algum momento de sua vida. Entretanto, eu observei tal fenômeno não pelo seu lado “irritante”, mas sob a luz da reflexão filosófica. O resultando você pode conferir abaixo.
Praticamente todos os dias – entre as 10h e as 11h -, nessa viela, acontece um alarido. Quando digo “alarido” estou sendo bastante gentil; o barulho é de fato infernal. Acontece o seguinte: de um lado e do outro dessa viela tem casas com cachorros; praticamente todos os dias pela manhã alguém trafega por ela passeando com seu animalzinho de estimação, ou, então, algum entregador está deixando um pedido na fábrica de roupas que fica ali. Nessas ocasiões, o que era um silêncio quase que sombrio transforma-se em um Armagedom – os cachorros começam a latir ferozmente, como se desejassem destruir os portões e avançar sobre quem quer que passe pela viela. Isso dura exatamente o período em que alguém ande por ali. Quando o entregador ou aquela pessoa que passeava com o animalzinho vai embora, o silêncio retorna ao seu estado inicial. É como se tudo não houvesse passado de uma alucinação matinal. Dá até para achar que não existem cachorros por ali. Se não fosse o dia seguinte para me relembrar do pandemônio, eu seguiria achando que tive um pesadelo.
#VocêJáParouParaPensar em como isso dialoga com as redes sociais?
Eu percebo que nas redes sociais acontece algo muito parecido com o evento diário da viela. Você já observou que quando alguma notícia passa pela sociedade é como se os “latidos” começassem explosivamente? A gritaria e a mobilização de “ideias e opiniões” é absurda, senão catastrófica. Você pode observar isso em diversas ocasiões, seja a morte de um cientista famoso, um crime em larga escala, um desvio de conduta de alguma pessoa [famosa], uma greve geral de caminhoneiros ou em eventos repetitivos como “Dia das mães, dos pais, das crianças, etc“.
Quando dessas ocasiões, as redes sociais começam a fervilhar com comentários – geralmente incitando ao ódio e disseminando as famosas “fake news” – que espalham-se em milésimos de segundos por todo o mundo. Tudo parecer girar em torno do assunto que está em alta no momento, como se fosse o entregador que passa pela viela às 10h. Mas, enquanto o entregador leva alguns minutos em seu ofício, as notícias nas redes sociais podem durar até uma semana; no entanto, da mesma maneira que na viela, quando o motivo do alarido vai embora, tudo cessa. Nas redes sociais, de forma idêntica, as pessoas parecem que nunca falaram nada do assunto que morreu na semana passada e que agora é substituído por um novo.
Uma coisa, todavia, é curiosa: os cachorros podem fazer essa algazarra por um instinto canino ou porque simplesmente estão “desocupados” sem saber o que fazer com o seu tempo de vida (como se pudessem escolher outra coisa que não a prisão a que estão submetidos… se não fosse a brecha no portão, seus dias não teriam nem essa distração). Dizem, ainda, que animais não pensam, que racionais somos nós (os supremos Homo Sapiens). Uma sigela prova de que somos tão animais quanto os cachorros é que os comportamentos são “parecidos” – mas será que essa semelhança é somente biológica? Nós os imitamos ou seriam eles nossos imitadores? A questão é: somos assim – frívolos e facilmente alienáveis nas redes sociais – porque de fato não pensamos, ou não pensamos porque somos assim?
Depois de associar essas coisas – a viela, os latidos e as redes sociais – não consigo mais olhar para esses eventos como algo qualquer. Preste atenção a partir de agora. Observe alguma notícia que ganhou destaque na mídia, veja como as redes sociais ficarão em ebulição por um período e depois tudo desaparecerá, cedendo lugar ao próximo entregador. Por que a efemeridade é mais importante que a solidez do conteúdo? Só porque não exige o ato de pensar? Quiçá!
#VocêJáParouParaPensar?
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Andreone T. Medrado
Devaneios Filosóficos