Romantize a razão e tenha vida! Seus pensamentos sangram em uma jaula porque quando te dão ácido dizem ser bom vinho, a carne se engana, mas a alma sente e queima lentamente. De quanto veneno você precisará para sentir as feridas e marcas dentro de si mesmo? Não é um comichão, um incômodo passageiro; é um pedido de socorro da consciência, o mundo está caindo e as cordas se rompem, os corpos fétidos e apodrecidos pela vaidade se penduram em penhascos, visão grotesca, uma lamúria que suga a vida de seus olhos e julgam assim ser o tempo e a vida, apenas uma única dose lenta de veneno.

Mas eu te abraço, eu te acolho, eu te alimento e te vigio, eu me esquivo das armadilhas à frente e te levo comigo em segurança pelo caminho atordoado e obscuro da verdade. Eu te chamo de dor e te juro fidelidade até o fim. Não fugirei mais! Não correrei mais; aceito meu fardo aqui e agora e o carrego até a cova porque se triste e injuriado tiver de ser, assim o serei, mas não irei mais correr.

A vida que me foi apresentada não me serve mais – eu rejeito a sua dose de veneno, sociedade -, eu te rejeito e repugno em minha alma; meu corpo não é compatível com sua doença, minha mente não quer a sua loucura, se nada tiver, nada levarei, mas conhecerei a mim, andarei em meu vale e alimentarei a minha fome e, no fim da vida, seja no alto ou no solo irei, partir sabendo que fui quem deveria ser e ninguém mais além de mim.

(Texto da leitora dos Devaneios Filosóficos,
Raquel Teles Medrado)