As semelhanças extravasam pelas portas e janelas;
invadem a sala, a cozinha, e o quarto;
esparramam-se pelo quintal e preenchem o sentido…
Pois tal qual o vazio e o cheio,
é ela:
como o vento forte e a calmaria;
a luz e o escuro;
o grito e o silêncio;
o seco e o molhado;
como a ilusão e a realidade;
o tudo e o nada;
a tristeza e a alegria;
a vida e a morte;
o azar e a sorte…
Tal é a minha confiança e a possibilidade de em ti confiar.
Cada uma existe em um lugar, cada lugar no seu espaço.
Embora, assim como as outras coisas, caminhem próximas,
quando [só] eu estou, a confiança não está;
e quando a possibilidade de confiar em ti está [só], sou eu quem não me encontro mais ali.
E, apesar de toda aquela semelhança, a diferença é que confiança, na melhor das hipóteses, pode voltar a conviver junta da possibilidade de confiar.
Essas coisas, às vezes, mudam.
Mas nunca sozinhas; e jamais por uma só via.
Deve ser algo de com fiança.
Tal qual um tecido, mas tal qual os líquens que fiam sua existência,
associam-se em suas diferenças,
formam-se em seu mnodo de habitar;
fiar é tecer, tecer é viver…
Con.fiar, que vem de com fiar,
fiar com,
fiar o tecido dos vínculos,
construir a rede de afetos,
tecer o [im]possível,
fiar a vida…
Talvez o termo “fiado” tenha aí suas tecituras,
se deixa “fiado” porque não está acabado,
está em processo,
inconclusivo,
tal qual nossas redes que se fiam no tempo,
que não têm um começo meio e fim,
mas que num espiral de [des]fazer-se se fia a rede da existência.
Comfiar pede vontade, desejo, presença, afeto.
que fiemos nossos afetos,
que confiemos [em] nossas vidas,
que tenhamos conversas fiadas.
Lembre-se de comfiar seus sonhos,
pois o sonhar se faz em bando.
* * *

Andreone T. Medrado
Devaneios Filosóficos
Escrito originalmente em 17/04/2020.
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Foto da capa: ©Andreone Teles Medrado.

