Uma coisa que me deixa cada vez com menos estímulos de fazer,
e isso numa escala geométrica,
é formar novos vínculos;
sempre achei que eu realmente gostava disso
[e pode ser que de fato já gostei um dia],
mas ultimamente é tudo tão efêmero
que me desanima muito rápido pensar em puxar uma conversa nova.
As pessoas não têm sustentado a profundidade [tal como eu enxergo, obviamente],
logo retornam para a borda da piscina…
nem falo do mar,
isso elas parecem ter mesmo é pavor!
Mas também me pergunto se não sou eu que não sustento a realidade geral,
aquela que se faz real pra maioria
e, por isso, me aprofundo para enxergar outra coisa…
outra coisa que faça sentido na minha redoma de vidro,
na minha gaiola de expectativas,
no meu reduzido espaço experiencial…
seja como for, não tenho tido nem vontade de me explicar sobre isso,
mas aqui estou, idiotamente explicando a mim mesme sobre a ausência de explicações;
e é isso,
eu digo que formar novos vínculos tem sido cada vez mais custoso;
dá até vontade de me fechar em mim mesme,
como já quis fazer algumas vezes,
como de fato tentei fazer no limite das coisas;
queria me abster da vida;
numa solidão protusa e profunda,
num abismo que me observa na mesma intensidade atenta e fixada que o olho,
um olhar na ânsia pelo nada, pela ausência,
pelo vazio que me preenche por dentro,
mas aí vem ela e me diz:
Esse é um dilema importante na vida de todo mundo (ou deveria ser);
fazer novos vínculos ou não,
porque, assim, agora a gente se sente confortável para rejeitar isso,
mas e depois?
E quando não tivermos mais a juventude
e um rosto bonito para atrair pessoas quando bem entendemos,
como vamos fazer para não morrer de solidão?
E, assim, você pode falar que não se importa com solidão
ou que já está sozinho de qualquer forma,
mas existe a solidão de um[a] jovem que habla e cativa,
mas existe aquela solidão cruel da velhice
(veja nossos pais como exemplo).
Eu fico pensando nisso,
eu vou ser velha e nada mais vai fazer as pessoas me darem atenção,
eu vou ser mais invisível do que sou agora
e isso me dá muito medo.
Envelhecer é o truque dos “deuses”
a puxada de tapete,
porque ser jovem é maravilhoso, pelo menos em tese kkkk
mas aí o preço disso é envelhecer
e ser velho é horrível porque as pessoas não ligam pra você.
Não é que eles cobram muito,
eles simplesmente perdem todo tipo de interesse.
Você envelhece e automaticamente fica feio, chato,
não pode sair, não pode namorar (sem julgamentos)
não pode nada porque ninguém quer nada de você.
E ainda mais para pessoas como eu e você
que não quer filhos ou família,
somos ainda mais descartáveis.
Mas me pergunto: que velhice?
Eu não consigo imaginar a minha velhice, por mais que eu tente.
Não tenho vontade de chegar na idade dos meus pais.
Não queria nem ter chegado aos 37. Ponto!
Parece um certo tipo de birra com a existência;
parece uma dramatização acerca do ato de existir;
parece, digamos, um mecanismo de defesa…
pois é, tenho pensado esses pensamentos,
tenho observado um por um, e não vi nada que os tornassem válidos;
em vez disso, é algo mais intenso,
mais nublado,
mais profundo que essas suposições;
e no momento só não me vejo envelhecendo.
Pode ser fruto de uma sociedade genocida de pessoas negras,
pode ser as estatísticas para a velhice negra,
quem sabe role até um desencanto pelo futuro,
que evidentemente tem influência da materialidade de história;
são tantas possibilidades que prefiro só sentir;
ou, que seja, não sentir…
não sentir vontade no depois.
É estranho perceber o quanto ser você,
estar em contato com quem você é,
e poder expressar suas ideias tal como aparecem no fluxo dos pensamentos
são possibilidades desde que seja eleito um meio específico onde eles podem circular…
um Blog como esse não é o ambiente mais aberto que existe,
mas não tenho a menor dúvida de que é o espaço, dentre as possibilidades vigentes,
no qual posso dizer coisas a mais…
a mais do que poderia dizer em outros meios…
porém, “a mais” não chega nem perto de ser o “satisfatório”.
Não consigo mais imaginar a ideia de ter um relacionamento no qual eu realmente possa ser eu,
isso está longe de ser uma alucinação,
e, se for, todes alucinamos o tempo todo,
já que ninguém se conhece por inteiro,
e, não se conhecendo, não pode dizer que está sendo “em si” realmente,
como se o realmente fosse em alguma medida a realidade em si;
quiçá sejamos mais aquilo que acreditamos ser;
e nisso já basta para que sejamos “nós”,
ao menos na “nossa” percepção.
Nesse sentido, por exemplo,
vejo que é cada vez mais difícil eu ser essa “minha percepção” de mim;
na qual eu possa ser uma pessoa deprimida,
ser sem desejos “fantásticos” pela vida,
na qual eu possa viver com os meus desânimos constantes,
falar da minha apatia sazonal,
ser simplesmente alguém que fala da morte sem ressentimentos […];
Mas parece haver uma impossibildiade no “se eu em mim”;
fazer tudo isso é impossível sem que as pessoas queiram imediatamente me salvar de algo para o qual nunca pedi socorro;
as pessoas, além do mais, não suportam compartilhar a vida com alguém assim sem propor uma cura;
querem me curar de mim?
querem me levar para a normalidade que elas aprenderam ser normal?
Mas também não estou pedindo por isso!
Sinceramente, ter de fingir uma normalidade é fácil demais,
enganar as pessoas é bem simples,
simular uma vida com propósitos, metas e objetivos não é uma tarefa complexa;
dizer o que querem ouvir é fácil quando se observa o fluxo efêmero e superficial das comunicações;
mas fácil não é sinônimo de agradável;
é fácil, estrategicamente;
mas é difícil porque para isso é preciso um despregar-se de si, para fantasiar as expectativas;
é não ser,
não estar…
quantas pessoas vivem vidas medíocres, miseráveis e esvaziadas de sentido, e mesmo sabendo disso simulam a cartilha da prosperidade?
quantas vezes eu respondi um “estou bem”, só para agradar a plateia,
ou, dito de outro modo, quantos “estou bem” já foram ditos só para não fazer a plateia se armar de argumentos para me animar?
E o que aconteceu depois?
Acreditaram!
Já disse “estou bem” em dias que a vida era o pior lugar para estar…
e obviamente que mesmo pessoas treinadas para rastrear mentiras não perceberam;
por isso repito: ter de fingir uma normalidade é fácil demais,
enganar as pessoas com isso é bem simples,
mas nem por isso é bom;
nem por isso pesa menos.
o dilema é nítido:
(I).
mantenho minha maneira de agir,
que busca pela profundidade,
que oferece uma escuta sincera e amiga,
que está ali atenciosamente e, depois,
descubro que só queriam meu acolhimento em crises e em tempestades,
e depois foram embora, ou
(II).
deixo de ser essa pessoa intensa, emocionada,
deixo de querer desde o começo,
esfrio meus tatos,
me mantenho com mais distância,
em suma, visto uma fantasia que não sou eu,
e com isso evito todas essas aproximações descartadoras?
Bom, tenho optado por ser o mais perto do que sou;
todavia, com mais exigências;
se me sinto um objeto descartável,
solicitado apenas para desabafos utilitaristas,
se me percebo como uma peça exclusivamente de enfeite,
um chaveirinho de gente metida a desconstruída,
se noto que não querem também me escutar, mas só serem escutadas,
me afasto!
Por mais que hoje seja mais fácil me afastar,
por mais que numa velhice esse afastamento talvez nem dependa da minha escolha,
sinto que é o que posso fazer nesse momento.
Honestamene falando,
quero que essas pessoas que buscar só pelo raso
vão à merda,
que não me procurem como um vaso insanitário para suas descargas;
se quiserem desabafar e se quiserem uma escuta,
e exclusivamente isso,
paguem pela minha hora,
agendamos uma sessão,
e estaremos num ambiente adequado, honesto, justo e feito para isso.
Só não me venham com articulações braratas,
fingindo uma proximidade afetuosa,
mas escondendo o grande desejo utilitarista!
Aqui não!
Lutar contra um sistema gigante,
que se baseia na desigualdade, no descartes e no utilitarismo
me parece algo importante,
mas quem tem forças que deve fazer isso mais e melhor que eu;
por hora digo: basta!
mas, enfim, não vou me explicar ainda mais…
nada do que eu disse explica algo do que eu não estou aqui para dizer.
* * *

Andreone T. Medrado
Devaneios Filosóficos
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Há como uma tese que envelhecer “hetero” seja garantia de ter companhia de uma familia: esposa e filhos! Mas filhos casam ou namoram e a menopausa, muitas vezes, chega como que finalizando o conjugal do casal! Ontem fui a uma relação fluída com o coroa/maduro que vamos nos permitindo completar! Tenho uma vizinha que bem raramente transa com o marido, que como diz a máxima: “mal amada”! Ontem, ao “acolher ele” ainda pensei, quem diria sendo “companheiro” de marido, quando muitos gays já dizem terem se aposentado do “relacionamento homossexual”! Não se pode avaliar casais heteros pais, como parâmetro do envelhecer que possa nos parecer “entediado”: eles se uniram mais como reprodutores do que pelo conjugal em si! Numa ocasião fui sendo paquerado apenas e, quando ele soube que seria pai pela segunda vez, me confidenciou que era o momento de viver o momento bissexual (experiência homo)! Não pretendiam que a prole fosse maior! Como ele foi intenso comigo e percebi como me queria! Um ano bem caliente tivemos!!!
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