ONTEM UM, HOJE OUTRO, MAS NADA MUDOU!
Não mais os navios de Castro Alves chegam até nós com corpos contrabandeados do velho mundo. Todavia, o fazemos a todo instante com as ideias, com as identidades; capturamos tudo com a nossa nua e voraz vontade, não importando o que acontece a nada nem a ninguém. Se o “bom selvagem” de J. J. Rousseau existiu, hoje, ele, além de corrompido, corrompe por prazer aqueles que por incapacidade e limites não se enxergam em seu próprio ser. Sim, levados por grilhões, açoitados por esmolas e promessas ocas, garantidos pela miséria dos que mentem, pelo crime de haver aberto a caixa de Pandora numa hora onde já haviam males excedentes… sim, ainda há entre nós muitos que não veem nada além de benefícios às custas do outro, que não veem nada além do corpo. O que disse Castro Alves, dizem ainda hoje os ventos na terra de Vera Cruz, que não se cansam de tapar as vergonhas com um manto verde, azul e amarelo, onde só há sombras, nada de luz. Estamos escravizando nossos bens, nosso pensamento, nossa dignidade. Em troca de quê? De prazer e comodidade.
Observe o trecho de “O Navio Negreiro” – de Castro Alves:
“Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!”
[…]
“Existe um povo que a bandeira empresta
P’ra cobrir tanta infâmia e cobardia!…
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!…
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa… chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! […]
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança…
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!…
Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! … Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!”
Não é difícil perceber que há muita semelhança entre nossa sociedade e a antiga mesmo após quase 150 anos, nosso comportamento ganancioso mudou a vítima, mas não o objetivo.
#VocêJáParouParaPensar?
Créditos da Imagem: http://www.lanchaarare.com/blog/?paged=35
Autoria da Imagem: Ararê