A Elevação do Virtual sobre o Real   

    “As pessoas desfazem a amizade na vida real da mesma maneira que, por exemplo, nas redes sociais. Basta, para isso, um click”. Essa frase – dita pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman – é um convite à reflexão no que se refere ao efeito das redes sociais sobre as pessoas. No entanto, em uma análise mais delicada, ela fornece à sociedade a percepção de que, caso não haja a valorização do contato humano, bem como a diferenciação entre o real e o virtual, ao invés de estreitar os laços entre as pessoas, o uso das redes poderá torná-las mais egoístas e, até, mais narcisistas.

    Por um lado, como explorado pelo historiador Yuval Noah Harari – no seu livro “Sapiens: uma breve história da humanidade” -, uma das principais causas do sucesso do Homo sapiens (no que se refere à convivência e formação de grandes grupos) foi a sua capacidade de imaginação. Essa abstração, como a criação de deuses, de superstições, de ambientes fictícios e, sobretudo, de laços familiares, foi uma ferramente decisiva para os sapiens, uma vez que tais especulações projetavam sobre o grupo um cenário nem sempre condizente com o real, todavia era otimista e teria, assim, favorecido a união do grupo; era uma espécie de “rede social primitiva”.

    Por outro lado, passados mais de setenta mil anos da chamada “Revolução Cognitiva“, observa-se algo que deveria manter o seu papel fundamental no estreitamento dos laços pessoais; entretanto, o oposto revela-se crescente. Nota-se que, com a possibilidade de exposição e reação instantâneas oferecidas pelas redes sociais modernas, as pessoas passaram a desconsiderar as emoções humanas, enaltecendo as virtuais e demonstrando-as por emojis. Ademais, o que deveria aproximar indivíduos distantes acaba por separar aqueles que estão por perto. Tal conclusão pode ser feita a qualquer momento; basta que, para tanto, observe um grupo de pessoas – seus membros portarão um celular conectado à internet , enquanto suas mentes, suspeita-se, poderão estar desconectadas do mundo real, como ações imiscíveis.

    Dessa forma, percebe-se que o poder de interação entre grupos humanos é histórico e dinâmico. No entanto, bem como diz a música de Caetano Veloso, “narciso acha feio o que não é espelho“, parte da sociedade parece que perdeu a capacidade de enxergar a beleza no outro, no afeto físico, pois ela – assim demonstra acreditar – só busca a autoafirmação. Isso, portanto, demonstra o egoísmos estabelecido – que figura, metaforicamente, um câncer em fase de metástase.

    Logo, enquanto o mundo virtual predominar em valores em relação ao material, as relações humanas que assumem um caráter egoísta existirão e, pior, crescerão a cada click sobre a opção “desfazer amizade”.”

(Andreone Teles Medrado – Transcrição corrigida da Redação escrita para o processo seletivo da Universidade Federal de São Paulo. 2017.)

 

Abaixo está a redação tal como foi feita (cópia fornecida pela Vunesp). A nota máxima para a redação é de 50 pontos, esta recebeu 43,182:

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Se ficou curioso, ou curiosa, em saber qual o tema da redação, é este:

Redação UNIFESP 2018

 

Andreone T. Medrado
Devaneios Filosóficos

 

#VocêJáParouParaPensar?