- “Filosofia é coisa de gente que não tem o que fazer”
- “Filósofo gosta de falar difícil. Fala a mesma coisa que todas as pessoas, mas enfeita o texto para parecer inteligente”
- “Odeio Filosofia, não sei para quê decorar tantas frases de pensadores”
- “Não vejo necessidade de ficar estudando tantos filósofos. Prefiro pensar por mim mesmo. Não quero ser um citador qualquer”
- “Ah!, não entendo nada de Filosofia. Por isso não vou conseguir discutir com você sobre assuntos como esse [a vida, a felicidade, o amor, etc]”
- “Pronto! Lá vem ele/ela com esses negócios de Filosofia”
- “Depois que ele/ela começou a estudar Filosofia saiu da igreja”
Essas frases representam apenas uma minúscula parte daquilo que circula no senso comum quando falamos de Filosofia. Eu, por exemplo, estou acostumado com todas elas. Na maioria dos casos, as pessoas associam a palavra filosofia àquela disciplina aprendida na escola ou a um conhecimento de alto nível intelectual. Infelizmente isso é bem recorrente no dia a dia. Mas, adianto: está errado!
Outra coisa bastante curiosa no que diz respeito à Sociedade Pós-moderna é o fato de que, geralmente, uma pessoa só é chamada de filósofa em duas ocasiões: (I) quando se resolve fazer alguma reflexão sobre determinado assunto e/ou (II) quando se faz um curso superior em Filosofia. Daí advém quatro considerações importantíssimas: [a] de fato, quem faz [profundas]reflexões pode ser um/a filósofo/a; [b] quem se forma em uma faculdade de Filosofia tem no seu diploma o título de filósofo/a; [c] na nossa sociedade, as pessoas que pertencem ao grupo I não são vistas como filósofas, esse termo é usado mais como uma zombaria que como uma característica e, por fim, [d] acredite se quiser, mas, a maioria daquelas pessoas possuem o título acadêmico de “Filosofo/a” não vive a filosofia em suas vidas, mas contribui muito com a propagação e consolidação da frase citada logo no início desse post (a saber, a de número 2).
Dito tudo isso, como se não bastassem tantas considerações, que tal mais uma?: Existe alguma razão aparente para a Filosofia ser tão reservada ao campo acadêmico? Eu arrisco o meu palpite dizendo que SIM – e ela foi elitizada!
Pausa para uma digressão necessária…
Não foi apenas a Filosofia que sofreu esse processo de elitização. Sintomas semelhantes são observados na música clássica, nas artes plásticas e na literatura, por exemplo. Em uma sociedade extremamente segregadora, na qual o conhecimento era (e é) mantido como se dentro de uma caixa de Pandora – na qual, uma vez aberta, deve lançar os males sobre o mundo -, somente os “deuses e semi-deuses” têm o poder de possuí-lo. (A tradição judaico-cristã exemplifica muito bem isso no livro de Gênesis, quando é dito ser proibido comer do fruto da árvore da vida. Esse, por ser o que daria ao homem o conhecimento, deveria ser evitado, do contrário, a punição seria garantida [obviamente, essa passagem é muito mais profunda, mas aqui não prolongarei mais que o exposto]) Nesse sentido, observa-se que um concerto é considerado um evento para pessoas “cultas” e “educadas”, visitar exposições em Galerias de Artes é algo que exige “requinte” da pessoa, valendo inclusive o dizer “você não acha essa obra linda porque não entende de arte”. Se adentrarmos no campo da literatura, pronto, aquela pessoa representada com os óculos caídos sobre o nariz branco e fino e com uma roupa bem ajeitada, de fala lapidada e que leu centenas de livros no último ano entrará em cena.
Para colocar lenha na fogueira do discurso, quero dizer que raras são as representações de pessoas negras e/ou mulheres nesses meios – cabe dizer que a representação feminina é praticamente excomungada e raríssima se essa for simultaneamente negra e mulher. Entenda: não digo que não existem tais pessoas nesse meio que cito ou que mulheres e/ou negros são incapazes de serem pensadores, músicos e artistas, quero apenas deixar claro que não são levados em consideração tal como são os europeus, homens e brancos. É difícil de ver como a Elite tem cor e posição social bem definida e, nesse “universo” tudo parece ser estamental – em que a condição do nascimento determinará o futuro – seria uma conspiração da genética ou é pura ignorância e estupidez mesmo? Eu sei que na sua mente pode ter surgido nomes como Lima Barreto, Machado de Assis, entre outros… mas use da estatística básica e observe a proporção. Depois reflita sobre o resultado. #VocêJáParouParaPensar?
Retomando o assunto…
Atuar na vida como um ser que pensa e que reflete sobre suas ações no mundo, questionando-se sobre tudo e sobre os mais variados porquês existenciais não lhe garante a qualidade de filósofo/a – todavia já é um grande passo. A palavra filosofia, traduzida de forma plena, significa “amigo/amante da sabedoria“. E aqui entra o grande e óbvio detalhe: é impossível ser amigo/amante da sabedoria sem que se busque pela sabedoria; além disso, não se pode buscar pela sabedoria sem que exista Amor genuíno pela vida (em todas as suas formas e vertentes). Ser filósofo é mais que uma nomeação, é um comportamento; o ser filósofo está mais ligado ao agir que ao dizer, ao ser que ao ter.
A filosofia está em toda parte. Como em uma sala cheia de móveis onde mal se pode andar, ela seria o ar – e, embora não o vejamos, ele está em todos os lugares, por entre todos os objetos. Assim como a filosofia está por entre os detalhes da vida.
No livro Em Busca da Sabedoria, logo no primeiro capítulo, N. Sri Ram diz o seguinte:
“O Verdadeiro filósofo, como se entendia nos tempos da antiga Grécia e também na Índia, não era o mero teórico ou intelectual com uma tendência a ser bastante inútil na vida prática. Tal pessoa debate algo que lhe interessa e tenta estabelecer a verdade da sua tese, porém pode agir diferentemente. Mas, de acordo com a visão antiga, a filosofia terá de refletir-se na vida da pessoa, e isso realmente se verifica. […] Sabedoria significava, antigamente, o verdadeiro pensar, não meramente com relação a determinados assuntos abstraídos da vida, porém com relação a tudo que pertence à vida da pessoa. A sabedoria foi considerada algo mais valioso que a pessoa pode possuir, constituindo verdadeira fonte de sua felicidade. […] Em Platão, esta descrição de um filósofo é bastante interessante: ele é um espectador da totalidade do tempo e da existência“
Se Platão estava certo e “a Sabedoria é a única moeda verdadeira pela qual todas as coisas deveriam ser trocadas”, suspeito fortemente que não estamos em bons tempos de seara. Poucas são as pessoas que enxergam valor na sabedoria. É nosso direito e dever buscarmos por ela. O que você acha?
Para finalizar, acredito que viver a Filosofia não é estudar os livros clássicos e saber de todas as linhagens de pensadores do passado e do presente, tendo com clareza todos os seus pensamentos e ensinamentos. Isso chama-se “decorar” assuntos e/ou ser informado/a. Ler os livros pode sim nos ajudar no crescimento enquanto seres humanos pensantes, mas o que nos fará de fato seres de valor é a nossa ação no mundo. Aprender com o conhecimento e as experiências dos sábios passados é um ato de sabedoria.(Aprender não é o mesmo que imitar) Um filósofo não usa títulos para que assim seja considerado, ele é identificado a partir da maneira como responde às adversidades da vida. Quer saber se uma pessoa é sábia? Observe como ela reage às diferentes preocupações existenciais – olhe bem como ela responde aos momentos em que existe raiva, estresse, dúvida, responsabilidade, egoísmos, injustiça, entre outros.
E sim, qualquer pessoa que decidir lutar contra o próprio casulo do ego pode torna-se um filósofo. É uma atitude exigente, não costuma ser fácil nem trivial se comparada à facilidade de ser inerte e alienado. Mas é transformador em todos os sentidos.
Na SUA opinião,
…haja vista todo o exposto, você acredita que podemos ser filósofos, independentemente do diploma? Estudar/praticar/viver a filosofia é algo chato para você; ou você estaria disposto a viver essa experiência? Diga nos comentários como é a sua experiência com a vida de modo geral! Quais os seus anseios como ser humano? Vamos filosofar?
Andreone Teles Medrado
Devaneios Filosóficos
Eu não queria comentar nada, mas vou comentar mesmo assim isso é uma chatice, perda de tempo não muda nada.
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