Pensar… Uma das palavras mais consagradas de todos os tempos. A história humana praticamente gira em torno desse verbo em qualquer que seja sua conjugação e flexão. Tudo começou quando as conexões neurais possibilitaram interações cerebrais e percepções cada vez mais sofisticadas, ou, se preferir, mais complexas. “Pensar” é uma palavra tão abrangente que, até hoje, representa o tema de pesquisas acadêmicas, com respostas nem sempre aceitas na comunidade científica. Curiosamente, todas as pessoas pensam, nem que seja de acordo com a definição básica da palavra:

Pensar (Significado)

Entretanto, eu te pergunto: Você já parou para pensar?

Você pode até me responder com outra pergunta: Por que não posso pensar andando/correndo/dirigindo/etc?

E aí que começo, efetivamente, com o meu texto.

Nossa vida é sempre repleta de coisas que fazer. E, partindo da definição mais simplória – como da supracitada -, precisamos pensar e emitir um julgamento em relação a tudo. Em alguns casos, o julgamento é “mecanizado”, em outros, nem tanto. Os atos pensados mecanicamente podem ser exemplificados a partir de duas categorias.

Na primeira categoria, temos aqueles neutros (pensamentos mecânicos que não fazem mal a ninguém, e também não acrescentam em nada por serem “impensados”), como abrir e fechar uma torneira, trancar uma porta, enviar figurinhas de “bom dia, boa tarde e boa noite” em grupos de Whatsapp, ou curtir e compartilhar fotos no Facebook. A segunda categoria – a do pensamento “interjetivo” -, por sua vez, é a preocupante, pois nela transformamos em mecânicas determinadas atitudes que deveriam envolver uma  certa sinceridade e pureza de pensamento. Como exemplos, temos o ato de dizer “bom dia” para alguém que cruza o nosso caminho, responder “obrigado” no caixa do supermercado, ir à escola ou à igreja, dizer “eu te amo” ou “Deus que te abençoe”. Essas ações um dia foram pensadas por alguém, que encontrou razão para fazê-la. Seus sucessores, no entanto, vivem à base do “copia e cola“, e o resultado só poderia ser a indiferença declarada. [Saiba mais sobre isso na publicação chamada “Deus: a interjeição nossa de cada dia“]

À parte os pensamentos mecanizados, tratemos doravante daqueles que sequer percebemos! Quando digo parar para pensar, estou falando sério! Nossa mente, como eu disse logo de início, está preocupada com inúmeras tarefas. A todo instante estamos raciocinando sobre vários detalhes, simultaneamente, sejam eles significativos ou não, decisivos ou inúteis, benéficos ou prejudiciais.

Por exemplo,
Da última vez que você tomou um banho, qual a sensação do momento?
Da sua última refeição, qual o gosto que está em sua memória?
Do último abraço que deu em alguém, qual a lembrança que existe dele?

Ou será que, durante o banho, você estava pensando naquela foto que ficou sem o filtro adequado; ou, estava atrasad@ para um compromisso, que ligou e desligou o chuveiro no intervalo de 5 minutos?; ou, estava pensando no mofo da parede? E durante a sua última refeição, você estava muito ocupad@ digitando uma mensagem?; ou, estava assistindo à série preferida? ou, aquela novela estava mais saborosa que a sua comida? Quanto ao abraço, se você lembrar de quem você abraçou, já é alguma coisa!

Seja como for, se você se identificou com essas situações, a sua mente estava tão ocupada que não sentiu o prazer da água escorrer pelo seu corpo, a comida acabou tão rapidamente que ficou apenas a sensação do prato vazio e o abraço foi apenas um hábito.

Precisamos silenciar a nossa mente, parar o burburinho que existe na nossa consciência e passar a ouvir mais o que, às vezes, grita dentro de nós. Sabe aquela angústia sufocante que tira a nossa “paz”, que nos incita a questionar tudo e todos o tempo todo, sem nem sabermos o porquê? Então, pode ser a nossa consciência querendo nos dizer algo. E, dado o barulho interno, ela precisa gritar. Mesmo assim, nem sempre é ouvida, pois, quanto mais alto ela grita, mais aumentamos o volume da música, mais compromissos marcamos, mais e mais fotos postamos nas redes sociais. Não nos permitimos um momento de conversa puramente pessoal. Incluímos o mundo em nossa vida, mas nos excluímos dela na primeira oportunidade. Tudo isso para não ter um diálogo interior, em uma sessão puramente particular – “de mim para mim“, de “você para você“. Acredite, nem os deuses precisam participar dessas conversas. Elas são as mais importantes de nossas vidas!

Pitágoras dizia que existe uma nota que soa continuamente no universo, mas que não a ouvimos porque estamos constantemente saturados com o barulho que produzimos. Isso faz muito sentido! Na medida em que a tecnologia surge com a proposta de nos permitir realizar cada vez mais tarefas em um tempo menor, encontramos cada vez mais coisas a serem feitas. O resultado é uma vida sem tempo seja lá para o que for. Mal ouvimos o que diz o próximo, que dirá uma nota que soa no universo. Sinta-se bem por saber que temos certas funções orgânicas que independem de nossa vontade. Você já parou para pensar se a respiração, os batimentos cardíacos e a cadeia respiratória fossem de nossa responsabilidade?

Por isso e muito mais, pare e pense! Não faz sentido vivermos nossos médios 75 anos em troca de uma agitação perturbadora. Ela é tão perturbadora que deixa de nos incomodar, passando a ser incorporada em nossas vidas como se fosse algo inerente à nossa existência; quando muito, vivemos incomodados e não procuramos saber o motivo – acredita-se inocentemente que uma divindade salvará a humanidade dessa inquietação, quando na verdade isso só depende de nós. Nas palavras de um brilhante filósofo indiano – Nilakantha Sri Ram, no seu livro Em Busca da Sabedoria – existe a possibilidade de transformarmos a nossa maneira de seragir pensar, desde que tomemos consciência do que estamos fazendo:

[…] Foi dito que a mente é “assassina do real” porque tem uma tendência, enquanto ainda se encontra sob a influência de forças que não controla ou compreende, de ficar pensando que está atendendo às suas inclinações, obliterando as próprias percepções. Suprime o real e projeta ideias que ocupam lugar do real. Reage de acordo com o seu condicionamento. […] É apenas quando a mente se liberta das sensações e emoções nas quais fica presa em um estado de não percepção, que ela reconquista o caráter Manas, pura e simples. Somente então ela é verdadeiramente ela mesma e não algo diferente em que se tenha tornado. A pessoa que atingiu esta liberdade nela própria não deixa de ser humana, incapaz de emoções ou sentimentos. A natureza psíquica não é eliminada, porém transformada, de maneira que ela começa a vibrar com uma liberdade que não havia experimentado previamente, manifestando uma qualidade tão diferente de sua condição anterior quanto um céu límpido o é de um céu coberto de nuvens.

[…] Não podemos evitar ter sentimentos, tampouco as ideias com eles relacionadas. O homem é constituído de tal maneira que seria um ser truncado e sem vida senão as tivesse. O que está errado em sua vida é a fonte da qual elas surgem, a base das ilusões. […] A mente vê verdadeiramente, mas também poeticamente, porque vê a verdade que está na alma das coisas, uma verdade que está bem além do alcance da mente limitada, tão orgulhosa que não tem as visões que outros dizem ter, e que não sofre, como pode pensar, das ilusões que eles sofrem. […] A mente funciona na base da memória, mas até mesmo para depreender itens importantes dela, é preciso que esteja relativamente quieta.

Dito isso, só me resta repetir-te a pergunta:

#VocêJáParouParaPensar?

Então, que tal você ver o dia de hoje como uma oportunidade para iniciar essa jornada! Não perca tempo!

 

Andreone T. Medrado
Devaneios Filosóficos