Para a sua alegria, o texto será “curto”! [Posso tentar!]
Certas coisas poderiam ficar somente na minha cabeça – dia após dia; mês após mês; ano após ano. Um dia morrerei, e elas também. Logo, se a ninguém eu as disser, ninguém delas saberá. Mas por que e para que falar? Porque acredito que ideias podem germinar em outra mente não como um discurso de ódio (acho isso cruel e danoso), mas como uma reflexão real e, sobretudo, como uma maneira de acabar com certos mitos criados e sustentados às vezes por nós mesmos quando não temos conhecimento de causa. Mas, como disse, o texto será “curto”…

Um dia desses, enquanto passava uma reportagem sobre tribos indígenas do Brasil, eu pensava em todos os desencantos que elas enfrentaram – e enfrentam – nessa batizada Terra de Vera Cruz. Para bem ou para mal, naquele momento eu não estava sozinho, mas acompanhado de um fulano. Ele, que até então silenciosamente assistia à reportagem comigo, soltou uma frase que me causou um mix de medo e inconformismo diante de tamanha arrogância, prepotência e ignorante estupidez ali pronunciadas em uma tacada só.

Após ouvir a frase, fiquei pensando silenciosamente em minhas entranhas de ironia: É claro! Os índios estavam tão entediados com a vida na selva que não viam a hora de chegarem os povos de outra banda do oceano e fazerem alguns favores a eles [índios]. Ah! Sim, falta dizer que de fato os estrangeiros descobriram o Brasil, afinal, os índios estavam aqui de intrusos. (O termo “achamento do Brasil” me parece mais adequado, mas sou apenas um ser perdido.) Curiosamente, essas terras, como diziam os Lusitanos, foi-lhes dada por Deus e deveriam erguer aqui a cruz do Amor e da Misericórdia, disseminar a “cultura verdadeira”, a Fé e a tão desejada “racionalidade” aos povos indolentes e selvagens – segundo acreditavam/acreditam. De brinde, como sinal de purgação dos seus pecados, os nativos do novo mundo receberiam doenças (muitas doenças – várias delas letais), suas mulheres e filhas seriam estupradas, sua cultura rebaixada à altura das minhocas, e, obviamente, seus descendentes deveriam ser escravizados e explorados desde a criança até o cacique – a isso, insisto, chamavam de purgação dos pecados. Tukanas, Tapajós, Tamoios, Guaranis, Tupinambás e Tupiniquins, todos deveriam favores à “civilidade” que lhes era “apresentada” – mesmo que isso lhes custasse a própria vida. Afinal, “é morrendo que se nasce para a vida eterna”!

Parece um absurdo pensar tudo isso. Pior é saber que nada foi inventado, tudo que escrevi ilustra da maneira mais sutil e mais encoberta o modo como foram tratados o nativos. Para ficar mais sádica a percepção, vale dizer que aqueles genocidas que chegaram à Terra de Vera Cruz no dia 22 de abril de 1500 não morreram. Você sabe por quê? Porque eles deixaram suas mensagens nas cabeças e corações das pessoas que, gentilmente, as acolheram e seguem propagando seus informes até hoje – mais de cinco séculos depois.

Atualmente, pessoas que pregam o humanismo, que dizem ser a favor da vida e que querem deixar um futuro melhor para os seus filhos, parecem cometer o maior paradoxo da história: “Ame a vida, mas, antes, mate os índios”. Esse paradoxo se repete quando falamos da questão do negro na sociedade brasileira, da homossexualidade, da liberdade religiosa e de muitos outros aspectos socioculturais vigentes… Dizem que é “mi-mi-mi”… Uma roupa bem ajeitada, uma postura intelectual e uma boca cheia de ofensas esperando a reportagem certa para serem soltas. Esses são os humanistas genocidas do século XXI. Não seja assim! Faça a diferença! Plante árvores do bem – mesmo que demorem de produzir frutos, faça a sua parte, uma hora eles virão, pode ter certeza! O mundo já está caótico demais para continuarmos proferindo horrores simplesmente por ignorância e debilidade. Digo, pelo menos espero que seja esse o motivo de pessoas dizerem tantos absurdos.

Ah, tá! Antes que me esqueça, a frase dita pelo fulano foi “Não sei o que esses índios fazem aí! Não prestam para nada; não produzem nada para o governo!

Eu sei, também tive um embrulho no estômago! E ainda não passou! Lutemos! Amém!

 

#VocêJáParouParaPensar?

 

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Andreone T. Medrado
Devaneios Filosóficos

 

 


NOTA: A imagem utilizada para compôr a capa dessa publicação foi obtida aqui.