O consumismo devora, digere e transforma a nossa percepção dos sentimentos.

Ele – tão sagaz e tão pretensioso – faz-nos acreditar que há dias mais brilhantes que outros, e que há razões pontuais para se expressar o que chamamos de amor.

Às vezes, devorados, digeridos e metabolizados, defendemos a todo custo que, sim, hoje [em vez de sempre] é especial, é diferente, é simbólico. Mas não passa de consumismo; de fome emocional; de prisão com paredes de vidro.

Quem pode, adere ao consumo – ou seja, é consumido. Quem, apesar de querer, sofre privação financeira, se consome por não poder ser consumido.

E assim segue o jogo: uns dizem que “certo dia” é algo especial, enquanto outros fingem que acreditam. Mas o Gigante Consumismo nem liga, desde que todos o alimente. E, é claro, enquanto esse prato é devorado, o outro já começou a ser preparado.

Se amar é algo que merece luzes, presentes e declarações, ou se ama sempre ou se deseja ser iluminado em momentos cujos olhos gerais buscam pela mesma coisa: atenção, narcisismo e afeto – no fim, é carência chamada de “Feliz dia do consumo“. Se amar é constante, todo dia é dia de ser gente e de dar o que temos (e não precisa ser o vômito do consumismo).

Dias especiais não existem para pessoas especiais. Eles foram criados para quem não vê razão num gesto tenro e delicado, mas que precisa de uma motivação extra para expressá-lo. Os esforços mobilizados, a união forjada e o abraço programado mostram o poder do Gigante. Se for assim, dispenso, muito obrigado!

O ciclo é vicioso. O consumismo devora, digere e transforma a nossa percepção dos sentimentos.

Ele – tão sagaz e tão pretensioso – faz-nos acreditar que há dias mais brilhantes que outros, e que há razões pontuais para se expressar o que chamamos de amor. Enquanto esse prato é devorado, o outro já começou a ser preparado.

 

vjppp

Andreone T. Medrado
Devaneios Filosóficos

[ . . . ]

Você já segue o Blog Devaneios Filosóficos? Aproveite e faça essa boa ação, siga o Blog e receba uma notificação sempre que um novo texto for publicado. Também, se gostar, siga e compartilhe a nossa página no Facebook. #VocêJáParouParaPensar?