#03 – o “problema” do feminino. Embora haja uma crença generalizadamente masculina – que pode ou não se irradiar ao feminino -, não há um problema que se localize em outra parte senão no próprio ser masculinizado socialmente. Digo, o problema de fato jamais foi o feminino, mas a ardência tóxica que preenche o ritual do macho e que o transfigura cada vez que este olha para si e não se percebe em sua insignificância, carência e dificuldade reflexiva. O macho moderno é aquele que alimenta o monstro que o devora dia após dia; mas diferente de Prometeu, a parte que é devorada é o cérebro, e este, nesse caso, não regenera pela noite. Como comportamento diário, toma-se por absurdo tudo aquilo que ele – o masculino – considera para si como exclusividade de perfeição, mas que se apresenta em outro modelo que não o do “homem”, do “macho”, do impenetrável – duro como um castelo de areia, limpo como a lama e seguro como um cofre feito de isopor. Esse, o masculino tóxico e frágil, que reivindica toda e qualquer qualidade de força, inteligência, competência intelectual e habilidades técnicas e lógicas, sente-se enfurecido quando o feminino mostra-se tal como o é: capaz de tudo isso naturalmente. Nada lhe é tão terrível e abominável quanto ver características supostamente masculinas em corpos supostamente femininos. A divisão é clara, e obviamente construída pelos costumes. O erro é tão gritante quanto possa soar a generalização “Homem é homem, mulher é mulher“. Não custa perguntar: aonde está quem traçará a linha entre as definições? Como se isso fosse relevante! Quem dirá com clareza inteligível o que é ser feminino e masculino sem que para isso lance mão de um cercado que divida em dois os direitos e os deveres, deixando sempre mais terreno do lado masculino? Seria talvez o homem branco supostamente heterossexual o agente mais capacitado? Logo este, que de sua voz tenta fazer o clamor do mundo, num sonho dantesco, no tinir de ferros e estalar de açoites que provocam um epistemicídio a cada palavra e atitude? Talvez não fosse mais interessante, para não dizer prudente, considerar que o “problema” do feminino é a incapacidade do intitulado masculino de enxergar pessoas, gêneros e identidades com mais empatia? Palavras têm poder. Piadas denunciam o preconceito de um grupo e afundam no abismo do descaso suas vítimas – saiba os preconceitos mais pérfidos de uma sociedade pelas piadas que são contadas nos lugares mais descontraídos; o machismo não nasceu pré-maturo, foi gerado em um ventre farto e volumoso; ele evoluiu; hoje é o novo óculos de realidade aumentada que agrada aos seus usuários; gera um espetáculo que diz estar tudo bem, “não levem a sério tudo nessa vida, sejam pessoas menos chatas”. Enquanto isso, sem que perceba, sai golpeando tudo à sua volta, derrubando mesas, cadeiras e chicoteando sobretudo mulheres com suas atitudes supostamente irreais. Repetindo a questão central, o problema do feminino nunca pertenceu ao feminino; ele pertence ao pensamento débil e inconsequente do masculino que se tornou tóxico por supor a impossibilidade de parar para pensar. Um homem machista não é um homem estúpido – não apenas isso. Um ser machista é como o carrasco que solta a guilhotina mas esquece de tirar a sua mão da cabeça da vítima. Um machista é um ser que não deve ser absolvido em primeira instância, mas que acima da condenação cabe o esclarecimento de quão sórdidas e venenosas são suas atitudes. Um machista que não se sabe como tal deve saber; quem o encontra não pode negar-lhe o incômodo da denúncia. O problema, evidentemente, é todo do masculino – ou, no mínimo, da ideia de que o masculino é supremo.

 

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“Ah! mas não precisa levar tudo tão a sério! Foi  só uma brincadeira!”

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Andreone T. Medrado
Devaneios Filosóficos

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