Inicialmente, existem as moléculas que começam a se agrupar e, então, o protótipo de um ser vivo começa a tomar forma
E que ser vivo será esse?
No presente, todos olhariam e diriam que ele é um Homo sapiens
Mas por teimosia e por um olhar diferentemente direcionado, eu discordo
Ele pode até ser um Homo sapiens por fora e por dentro com todas as nossas vísceras entranhas
Mas a vida dele não se prende aos limites dessa espécie
A vida dele passou de terra seca para terra preta cheia de nutrientes capaz de abrigar um ecossistema inteiro e complexo
E já que ele foi capaz de transcender
A mais poética forma que eu consigo enxergá-lo é assim:
A larva que nasceu em um determinado meio
Um meio que ofereceu as condições necessárias de sobrevivência
Um meio que já tinha coisas acontecendo quando ela pode sentir a mágica da vida em seu corpo minúsculo
(E ele foi se movendo)
O meio deu comida, o afeto que tinha disponível para entregar e até uma cartilha para viver
Porque existe a cartilha que o DNA deixa marcada nos seres e tem a cartilha que o meio nos coage a trilhar
Seguir a cartilha do meio foi necessário para a existência da larva
(E ele foi crescendo)
Para uma larva grande, as condições do meio já não são as mesmas
A cartilha muda o tempo todo e ela precisa seguir, e se adequar, senão morre, e precisa comer, e precisa encontrar, senão morre, e precisa sentir, e não sentir, e precisa aceitar, senão morre, e precisa seguir sem dor, mesmo sabendo que dói, e precisa porque disseram que tinha que ser assim, porque as coisas sempre foram como são
Tem muito esforço para ser feito para não sucumbir
O predador sempre está ao seu lado, a fuga é constante, todo momento é um momento roubado da morte que o predador quer realizar
Quem é o predador da larva?
Se esconder é preciso também
A larva começou a se cansar
Um dia sentiu uma coisa que nunca mais a abandonou
Depois entrou num processo que chamam de metamorfose
Foi se enrolando num emaranhado de não sei o quê
Quando foi ver, ela já estava coberta disso
Não conseguiu escapar e também não queria
(E ele foi ficando)
Nesse processo, o meio estava distinto
E a larva conseguiu voltar-se para si
Pensou: “Mas que porra é essa que está acontecendo na minha vida?”
Na verdade, eu acho que a larva não falaria palavrão, mas eu quero imaginar que sim
A larva percebeu que tava em um sono
Um dormir que o meio induziu
(E ele foi acordando)
O tempo estava presente em sua vida desde a sua mísera origem na Terra
Ele atravessou todos os ínfimos detalhes
e muitas vezes a sua duração foi como um golpe de tirar o ar, de tirar o vital
Entretanto, o tempo é fiel, sempre está lá até quando você não o quer
E a larva não queria que o tempo fizesse tudo aquilo em sua vida
Ela ficou perplexa com o tempo em que teve que ficar no casulo
Até que ela saiu
Tudo a princípio estava esquisito
Se a larva tivesse lido “A metamorfose”, ela entenderia o Gregor
Mas a vida não tem manual
Quando pôde abrir seus olhos, depois de tanto tempo que passou dentro do casulo, o meio parecia outro universo
“Como foi que vim parar nessa dimensão?”
Eu posso te dizer que o processo abriu um portal
E você entrou
Nesse universo, você já não rasteja
Foi quando percebeu que tinha asas
E percebeu que a coisa que sempre mais quis em sua vida era voar
(E ele foi voando)
Eu tive a sorte, ou qualquer outra coisa que faz unir o caminho dos seres, de poder ver alguns de seus voos, poder ouvir suas histórias e seus processos
Você é uma borboleta linda de asas enormes com cores que causam sinestesia em pessoas comuns
Saiba disso todos os dias
O que parecia impossível e estático
Agora é possível e ritmado
As vicissitudes encadeadas fizeram um Homo sapiens virar larva e borboleta e isso não é um fim, isso é um sim!
E ele vai indo, assim…
Texto de:
Laísa Rodrigues Marcondes
[fevereiro de 2020]
Para você saber:
Ontem [02.fevereiro.2020] eu recebi esse texto maravilhoso de uma grande Amiga, a Diva Laísa. Ela me disse que escreveria um texto para mim, e sobre mim! Fiquei muito curioso, confesso… mas realmente, não achei alguém teria o que falar de mim sobre mim em mais de um parágrafo… afinal, quem sou eu, não é mesmo? Aí ela vem e faz esse poema. Achei tão profundo que não poderia deixar de compartilhá-lo aqui! E, como ela autorizou, cá estou (me sentindo o tal)! Assim, eu acho que ela deveria escrever mais poemas para iluminar os leitores e as leitoras, o que vocês acham? Talento não falta! #Ficaadica, Laísa!!!
* * *
* * *
Use o espaço dos comentários para compartilhar também a sua opinião por aqui! Você já segue o Blog Devaneios Filosóficos? Aproveite e faça essa boa ação, siga o Blog e receba uma notificação sempre que um novo texto for publicado.
#VocêJáParouParaPensar?
Que máximo? Texto poeticamente profundo, é possível viajar por esta evolução mesmo sem as asas. Que talento, Laísa tem que escrever mais é mais, precisamos desta sensibilidade contaminado o mundo. E vc… “tem que se senti o tal mesmo”rsrs amizade assim, destas que se descrevem poeticamente, é raro. Abraço!
CurtirCurtido por 1 pessoa
Muito obrigado, Geraldo!
É verdade, é rara uma amizade que descreve a outra poeticamente!
Um forte abraço!!
CurtirCurtido por 1 pessoa