Em 2017, pela primeira vez, li essa obra do grande historiador Yuval Noah Harari. Sapiens – Uma breve história da humanidade” é um livro muito envolvente. Com uma linguagem de fácil compreensão (não é preciso estar acompanhado de um dicionário, no máximo um acesso ou outro à internet para visualizar certas citações, mas não é indispensável), dotada de muita ironia e precisão histórica e lógica, Yuval faz um retrospecto da história e da biologia evolutiva da espécie humana, abordando os diferentes caminhos percorridos por nós – Homo sapiens – até que pudéssemos estar aonde/como estamos hoje.

 

Uma visão geral sobre o livro

A maneira como o autor aborda temas intrigantes, como os processos de construção das sociedades e impérios, a crença em uma divindade – ou em vários deuses -, as relações comerciais entre os diferentes povos, entre outros assuntos, é de tirar o fôlego. Cada grande conquista feita pela humanidade, quando citada por Yuval, é questionada com precisão histórica e respaldada por fontes seguras e acadêmicas. Você ficará realmente com muitas questões flutuando em sua mente, pois as andanças da humanidade assumirão uma nova forma depois dessa leitura. Você já parou para pensar sobre qual o papel da detração (fofoca) na formação evolutiva e social da nossa espécie? E sobre a criação de abstrações (aquilo que só existe na nossa imaginação)? Você já se perguntou por que isso foi o diferencial para que vivêssemos em grandes grupos? Ora, essas são pequenas perguntas diante das inúmeras que o livro nos oferece.

 

Por que eu quis ler esse livro?

Como você leu acima, a primeira vez que li esse livro foi em 2017; entretanto, em Março de 2018 eu terminei a minha segunda leitura. Sim, li duas vezes o mesmo livro em menos de 8 meses. Mas, por que fiz isso? Porque o livro é incrível!

Se você é seguidor do Blog Devaneios Filosóficosjá deve ter notado que frequentemente utilizo de dados históricos dentro dos meus textos. Acredito que o entendimento da História é fundamental na formação de uma pessoa; claro que não precisamos necessariamente possuir um diploma de nível superior em História, mas você sabe muito bem que, com o advento da internet, ficou muito mais simples aprender praticamente qualquer coisa hoje em dia, basta para isso um bom direcionamento. E quando falamos em história, isso não é diferente. Há uma infinidade de sites que valorizam a qualidade do conteúdo e os transmitem com maestria (posso fazer uma publicação sobre isso, o que você acha?).

Dessa forma, fica fácil perceber que tenho uma forte inclinação para assuntos e livros que falam sobre essa temática, especialmente quando o tema é História da humanidade*. Assim, quando vi esse livro, não tive outra reação senão querer lê-lo; além disso, já havia escutado um palestrante brasileiro falar dele.

 

Por que eu quis RE-ler esse livro?

A primeira leitura de Sapiens foi direta…  lia um pouco dele todos os dias. Terminei o livro com inúmeras perguntas; apesar de sentir que aprendi muito com aquelas passagens de páginas, fiquei com a sensação de que havia muita coisa ali que eu não havia assimilado tanto quanto poderia (ou gostaria). Depois desse livro, li vários outros que falavam sobre o assunto, mesmo assim, precisei reler o Sapiens para realmente absorver aquilo que achei deficitário. Muitas coisas que eu pensava (e penso até hoje) estão nesse livro, porém expostos com clareza. Assuntos como ReligiãoOrdem imaginada Crença me atraem muito, esses temas estão entre os que mais me motivaram a fazer essa releitura. Há capítulos exclusivos para esses assuntos no livro, e dada a sua profundidade eu me senti na necessidade de visitá-los novamente. Acredito que farei mais vezes.

Foi absolutamente válida essa ação. Hoje tenho uma visão muito mais profunda sobre o livro e sobre a ideia do autor, coisa que não me aconteceu na primeira leitura. Comprei outro livro, de capa dura (meu xodó) só para fazer a releitura e anotar à vontade em todas as páginas. Elas estão muito rabiscadas, com marcadores e adesivos em toda a sua extensão – está um livro lindo. Repito: reler o livro foi essencial para o meu entendimento acerca do assunto e da visão de Yuval. Só posso dizer mais uma coisa: Sapiens é um livro muito denso e profundo para satisfazer um leitor  exigente em uma única leitura.

Além de tudo isso, um aspecto muito interessante do livro é o posicionamento do autor em relação as consequências das ações antrópicas (de origem humana) ao longo da história. Harari sempre faz questão de mostrar os dois lados da moeda; assuntos positivos e negativos são esclarecidos em detalhes, acompanhados de exemplos geralmente bem criativos e didáticos. Dou um destaque especial para a parte em que é abordado o tema da exploração animal, decorrente da sedentarização humana, pela Revolução Agrícola. Esse ponto é dotado de muita crítica e traz à tona denúncias estatísticas que te surpreenderá, sem dúvidas.

Ah! Vale dizer que, conforme aproxima-se do final dessa obra, o autor começa a dar pistas marcantes sobre o seu segundo livro (Homo Deus – Uma breve história do amanhã). Se você gostar de Sapiens, Homo Deus será sem dúvidas a sua leitura seguinte! Ambos são praticamente inseparáveis. Se você optou por ler este antes daquele, não tem problema, vá lá e encante-se com o primeiro. Depois conte-me se valeu a pena!

Detalhe: depois dessa releitura o livro só teve fortalecido o seu lugar de meu livro preferido.

 

Por que eu recomendo que VOCÊ leia esse livro?

Se você gosta de filosofia, tal como eu, certamente que também gosta de saber os caminhos percorridos por nossos ancestrais, bem como suas pegadas deixadas mundo afora. Então, essa leitura é mais que recomendada, é indispensável! São mais de 400 páginas das quais nenhuma delas é inútil, cada uma tem muito a nos ensinar.

Dá vontade de falar tudo que aprendi com o livro, mas prefiro que você o leia e tire suas próprias conclusões e, claro, deixe seus comentários… assim vamos aprendendo e trocando impressões sobre essa obra.

 

Pontos Positivos do livro:

  • Leitura fluida e de vocabulário de fácil a médio;
  • Embasamento histórico muito denso e com referências confiáveis;
  • Texto muito didático – com muitos exemplos sobre cada tema abordado;
  • Você não precisa saber tudo de história para compreender o conteúdo do livro – pelo contrário, ainda que você entenda pouco do assunto, o livro será bem agradável; de brinde, após a leitura o seu conteúdo histórico terá aumentado significativamente;
  • É uma leitura que ampliará a sua visão de mundo, sem dúvidas. Você nunca mais será a mesma pessoa depois dos livros de Yuval, e nesse caso não é diferente.

 

Pontos “Negativos” do livro:

  • O autor não é tão imparcial quanto a maioria das pessoas possam esperar ou desejar. Pelo contrário, em alguns pontos do livro notamos claramente o se posicionamento sobre o tema, principalmente quando o assunto é “Deus”. Yuval é ateu, e não faz nenhuma questão de ocultar essa informação, ainda que não se declare assim com todas as letras. Contudo, se você é um leitor crítico e inteligente, isso não afetará em nada a sua leitura, muito menos o entendimento do texto;
  • Talvez pelo motivo citado acima, o autor trata as questões metafísicas como algo meramente inexistente – o assunto como a felicidade, muito bem explorado no final do livro, é considerado principalmente do ponto de vista bioquímico e estatístico, sem muito (ou quase nenhum) enfoque “abstrato”, como costumamos tratar na filosofia. Isso não é necessariamente ruim, mas está sendo considerado como um ponto negativo simplesmente por que, sendo ele muito “frio” nesse aspecto, algumas pessoas podem achá-lo pessimista – eu me identifico muito com as ideias do auto. Ademais, Yuval é um historiador, sua missão não é filosofar o tempo todo, e sim trazer os fatos cientificamente e nos fornecer bases para questionamento posteriores. Ele é brilhante! Esperem para ver Homo Deus (risos)… essa “frieza estatística” é impressionante e escancarada, o que faz do livro, dentro de seu contexto de especulações e denúncias, muito atraente!;
  • O livro acaba muito rápido… e você ficará com vontade de lê-lo mais de uma vez… O lado negativo é que nem sempre temos tanto tempo quanto gostaríamos.

PS: Quero destacar que esses pontos “negativos” e “positivos” são ditos considerando que todos os tipos de leitores poderão ter acesso ao livro. Se eu falasse somente por mim, diria que são apenas pontos, nem “negativos” nem “positivos” – mas totalmente reflexivos. Enfim, depois de muito falar, espero que goste do livro!!

Boa viagem e Boa Leitura!

 


 

 

(*)Alguns dos livros sobre essa temática, que já li (ou estou lendo) e recomendo, são: A história da humanidade contada pelos vírus A história do Século XX pelas descobertas da medicina (ambos do Infectologista Stefan Cunha Ujvari), Deus, sua história na epopeia humana (de Frédérich Lenoir), Uma Breve história do Cristianismo e (na fila) Uma breve história do Século XX (ambos de Geoffrey Blainey).


 

Andreone T. Medrado
Devaneios Filosóficos