Vivemos em um sistema que funciona tão freneticamente que raras são as horas livres para um pensamento que nos conduza às nossas origens. Além disso, e já começando a expor a visão fria e realista que tende a crescer neste texto, suspeito fortemente de que esse “tempo livre” nunca existirá se esperarmos por ele passivamente – sem dizer que, pelo que indica o cenário global da humanidade, pouquíssimas (senão raras) são as pessoas que tentam compreender os porquês da vida para além da possessão de matéria inútil. O que um número ainda menor de humanos costuma fazer é relacionar informações de tempos passados com o atual e, a partir de então, perceber-se como parte de um complexo mecanismo de dominação que desde muito cedo na história da humanidade funciona com objetivos às vezes bem explícitos.

Claro que, se você conhece o Blog Devaneios Filosóficos de outros textos, sabe que não há como deixar de se questionar sobre tudo isso. Então, deixe-me começar com as indagações… Pensando nesse sistema de dominação e manipulações, fazemos tudo o que fazemos em troca de quê? Mais: o que nos modelou ao ponto de “necessitarmos” de tanta dinamicidade e euforia? Ainda mais: tudo isso é realmente natural e indispensável à nossa sobrevivência enquanto espécie? Se não, por que o continuamos fazendo? Se sim, por que agimos cada vez mais mecanicamente e menos “animalescamente”? Estamos preservando uma espécie ou uma ideia?

Sem sombra de dúvida essas são perguntas interessantes e necessárias de se fazer, mas acredito que existem outras ainda mais provocativas. Por exemplo, considerando que essa extensa rede de sociedades humanas não existiria se não houvesse um certo controle comportamental (ainda que desconhecido da imensa maioria) responsável por “organizar” cada grupo e permitir a cooperação entre eles, então, quem – ou o quê – controla tudo isso? Desde quando somos controlados e por que não fazemos nada a esse respeito? Esse controle é bom? Por que o Homo sapiens é a única espécie que precisa causar alterações tão drásticas, contínuas e, por vezes, sem um valor biológico adaptativo no meio ambiente para que se consiga manter sua existência? E, talvez a pergunta que sirva de base para todos os demais questionamentos: o que nos torna humanos? Sem um leve tangenciamento nesta questão não seria produtivo falar sobre os mecanismos de controle humano. Você quer mesmo prosseguir nessa aventura?

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O QUE NOS TORNA HUMANOS?

Cientificamente falando, é cada vez mais evidente que os seres humanos não surgiram a partir do barro e do sopro divino (como sugere o simbolismo do livro Gênesis, na tradição Judaico-Cristã), mas descendem de ancestrais mamíferos que, ao longo de milhares de anos, acumularam mutações e foram selecionados até ao ponto que vemos hoje. Isso não implica afirmar que atingimos o nosso “limite evolutivo”, seria ingenuidade pensar dessa forma. Sabendo-se que a biologia não considera nenhum propósito no processo de evolução que seja preestabelecido e para qual caminham todos os seres, supor que – assim como Aristóteles pensava – existe uma escala evolutiva (Scala Naturae) não passa de uma idealização antropocêntrica e limitada, que vê um fim em algo que não caminha com uma direção prévia. Segundo essa ideia aristotélica, a natureza apresenta uma hierarquia pré-determinada, como um impulso inerente aos seres vivos, os quais “buscam” sempre por se aperfeiçoar a partir dos microrganismos até o ápice da humanidade – como se todos os seres evoluíssem para um estágio mais elevado… o estágio humano [?].

No tocante à complexidade das espécies, segundo o evolucionista Ernst Mayr, “ao olharmos para a série evolucionária, não podemos negar que alguns grupos de organismos têm adaptações particularmente bem-sucedidas. A endotermia, por exemplo, permite maior adaptação de aves e mamíferos às flutuações climáticas. Um cérebro grande e o cuidado com a prole permitem o desenvolvimento cultural e a transmissão da cultura de geração em geração. […] Entre as muitas definições de progresso evolutivo, eu particularmente gosto de uma, que enfatiza sua natureza adaptacionista”. Seguindo sobre essa mesma linha de raciocínio, Richard Dawkins escreve que progresso é “a tendência que as linhagens têm de desenvolver adaptação cumulativa aos seus modos de vida, pelo aumento de características que se combinam em complexos adaptativos”. Dessa forma, percebe-se que o Homo sapiens é só mais um organismo que, bem como os demais, participa de um processo evolutivo que engloba uma série de alterações bioquímicas, e que interage com as alterações do meio ambiente, em menor ou maior escala.

Não subestime os seres desprovidos

Assim, considerando-se exclusivamente os atributos que serviriam como defesa natural e que, portanto, representam vantagens adaptativas em relação ao meio ambiente, o Homo sapiens está quase que totalmente desprotegido quando comparado a praticamente todos os animais de semelhante porte. Ele não apresenta garras que o permita prender firmemente seus alimentos (como têm as águias, os grandes felinos e os ursos) ou que sirva para escalar em árvores (como ocorre com as preguiças); carecem de uma proteção corporal rígida contra perfurações (como observado em ouriços do mar, crocodilos, tartarugas e pangolins); são de porte médio se comparados a um leão, mas não apresentam força suficiente para, sozinhos ou no máximo em dupla, perseguirem e abaterem um gnu sem utilizarem de nenhum outro instrumento; não apresentam asas ou algum outro meio de locomoção mais ágil, não saltam grandes distâncias, não atingem velocidades como as de um guepardo; nem possuem veneno, como cobras e anfíbios, para se defenderem caso sejam surpreendidos por um predador; etc.

Todavia, em nenhuma outra espécie viva conhecida se observam alterações, desde morfológicas e individuais até socioculturais, que extrapolem a necessidade de sobrevivência, como no Homo sapiens. Apesar de possuírem a mesma maquinaria de programação bioquímica que as águias, os pangolins e os anfíbios, os sapiens conseguem, a partir de uma habilidade cognitiva diferenciada, escolher se comem, dormem, escalam montanhas, fazem crochê, constroem aeronaves ou se simplesmente leem textos em blogs a partir de seus smartphones ou notebooks; e, quando necessário, ainda modificam o meio ambiente para que essas coisas aconteçam da maneira que mais lhes agrade. Fato é que alterações biológicas e sociais na e pela espécie humana permitiram que esses insignificantes animais bípedes fossem capazes de, em vez de inteiramente controlados pelo seu genoma e pelo meio ambiente, atuar como agentes que praticam a mudança. Mudança essa que nem sempre diz respeito à sobrevivência do ponto de vista biológico (ou seja, ela não necessariamente precisa ocorrer para garantir que a espécie continue viva), mostrando-se, na maioria das vezes, algo mais relacionado ao conforto, ao luxo e… ao status.

Não diga que foi por acaso

Mas nem tudo no sapiens é meramente artificializado pelas suas atitudes. Alterações neurológicas, como o aumento da massa encefálica, acompanhado de um maior número de comunicações sinápticas (troca de informações entre neurônios) permitiram que uma característica fosse ressaltada sobre as demais. Ao meu ver, tal aperfeiçoamento neuronal complexo permitiu à nossa espécie um desenvolvimento cognitivo que nos deu a capacidade de criar coisas reais e imaginárias. Num ato de ousadia enquanto biólogo, elenco pelo menos três hipóteses relacionadas a esse processo criativo (mas são apenas para dar corpo à nossa discussão… existem muitas outras). Na primeira, supondo que tenha sido uma mutação que, semelhante a todas as demais, ocorreu ao acaso e que deu início a esse processo criativo, ela deveria ser no mínimo indiferente a qualquer pressão que o meio exercesse na tentativa de selecioná-la ou eliminá-la – mantendo-se presente na espécie humana, mas sem causar grandes alterações na vida do Homo sapiens. Na segunda, essa mutação – que ampliou a capacidade cognitiva da espécie – poderia colocar em risco os portadores desse gene defeituoso, que se arriscariam a conhecer lugares variados e ferramentas novas e, afastando-se do bando poderiam ser facilmente devorados por grandes predadores. Certamente que isso reduziria muito as chances de que um número significativo de indivíduos se reproduzissem e deixassem descendentes férteis.

Apresentando uma maior probabilidade de ter acontecido, está a terceira hipótese, na qual essa mutação cognitiva favoreceu a espécie Homo sapiens pelo fato de aumentar a união do grupo. Primeiramente, é importante salientar que na natureza, fenômenos espontâneos ocorrem com tendência à redução da energia potencial. Calma, eu te explico! O desenvolvimento de um aparato encefálico maior, com sistema nervoso mais complexo, exigiria um consumo energético enorme. Numa época em que não existiam maquinários, fertilizantes químicos inorgânicos, nem uma rede comercial que permitisse a produção e a troca de alimentos, o jeito era sair à procura deles, numa vida nômade, cheia de peregrinações. Isso, mais uma vez, implica o gasto de energia, logo, mais alimento seria necessário. Por esse motivo, uma mutação como essa só permaneceria na espécie caso vencesse determinados obstáculos que favorecessem basicamente a alimentação e a reprodução. E aí que se deve considerar a terceira hipótese como algo tangível.

A partir dessa capacidade criativa, do desenvolvimento de uma curiosidade quase que ilimitada e da utilização bem feita desse mecanismo, o Homo sapiens “deixou as savanas africanas em busca de melhores condições de vida“… ou, só para não descartar uma ideia importante, digo que buscaram novos rumos apenas porque não tinham nada mais importante para fazer por lá e o tédio levou os antigos caçadores-coletores a buscar coisas novas. Embora não mais caçadores-coletores em sua totalidade, a espécie humana busca por novidades até hoje, e parece ainda não estar satisfeita. Ao longo de mais de 100 mil anos não conseguimos encontrar algo que nos fizesse sossegar; nem a Revolução Agrícola foi capaz de assentar grupos humanos por muito tempo num lugar específico; mas há quem diga que existe um fim planejado para tudo. Eu duvido.

Foi dada a largada

Um passo de cada vez; é o que nos ensina parte da história da vida. Pena que rejeitamos qualquer noção de bom senso. Em biologia, não consideramos o processo evolutivo como obra do acaso em todos os aspectos, não se coloca a mão em uma caixa secreta e dela se retira ao acaso uma espécie nova. Por outro lado, aleatoriedade existe no que diz respeito a mutação gênica e a processos de deriva genética. Essas não precisam de uma ordem para surgir; entretanto, a seleção delas pelo meio ambiente, bem como sua propagação ao longo de gerações futuras (a hereditariedade) são eventos que seguem uma lógica razoavelmente simples, que envolve a seleção dos mais bem adaptados ao maior número de eventos que garanta sua alimentação e reprodução – basicamente. Quando falamos da espécie humana, não poderia ser diferente… até certo ponto.

Como parte de um amplo processo cognitivo está a consciência humana, cuja complexidade (seja no sentido prático ou na definição teórica do próprio termo) é assunto para longas horas. Sobre isso, o neurocientista Antônio Rosa Damásio, em sua obra intitulada “O Livro da Consciência“, diz que “a história da consciência não pode ser contada de forma convencional. A consciência surgiu devido ao valor biológico, enquanto contribuidora para uma gestão mais eficiente do valor. Mas a consciência não inventou o valor biológico, nem o processo de valorização. Na mente humana, a consciência viria a revelar o valor biológico e permitiu o desenvolvimento de novas formas e meios de o gerir“.  E é a partir dessa revelação dos valores biológicos que a nossa espécie tornou-se gradativamente capaz de manipular desde ferramentas (como a pedra e o fogo) e plantações, até populações inteiras de outros sapiens. É sob essa perspectiva que entra o diferencial humano.

Talvez, o primeiro grande evento que iniciou o frenético assentamento de tijolos daquilo que se tornaria o império da humanidade tenha sido o enrijecimento da falsa constatação de que a espécie Homo sapiens é a mais “evoluída” dentre todas as demais no planeta. Após isso, foi preciso formar um grupo de pessoas que acreditassem, ou na mesma coisa, ou em coisas muito parecidas; afinal, se apenas eu crer que existem duendes verdes, quando eu morrer eles morrerão comigo. Para uma espécie sem aparatos de defesa muito desenvolvidos, qualquer forma de cooperação é vista como vantagem e, para além disso, como norma de sobrevivência. Haveria, então, o ser humano tomado consciência de sua suposta grandeza no exato momento em que pode convencer um grupo suficientemente grande que pudesse cooperar nas principais atividades? A consciências foi a reveladora desse processo?

Compreendida a joia rara que a evolução deixou nas mãos (ou no cérebro) dos sapiens – a saber, a criatividade consciente-, o outro evento evolutivo decisivo foi a criação de ferramentas de coerção em grupo para que a união, uma vez vantajosa, passasse a ser obrigatória. Uma boa forma de criar e fortificar um grupo é dizer o quanto ele é especial e dominante sobre os outros. Foi isso que o imaginário coletivo tratou de fazer ao longo de milhares de anos; e essa tentativa de destacar o Homo sapiens dos outros animais não parece se ausentar do imaginário humano mesmo no século XXI. Do ponto de vista material – ou seja, fisicamente -, por muito tempo se acreditou que o ser humano representava a espécie “mais evoluída” e “bem adaptada” do planeta. Os animais até tinham seus respectivos valores, desde de que fossem úteis aos supremos sapiens. [Ok! Para não cometer nenhuma injustiça histórica, sabe-se de culturas que representavam suas divindades na forma de animais, ou ainda na fusão ser humano-animal, como no antropozoomorfismo egípcio, observado na esfinge de Gizé. Entretanto, o caráter humano sempre prevaleceu como o mais forte e dominante.]

Essa ideia de quase onipotência humana, cultivada por diversas civilizações, que direta ou indiretamente acreditavam no antropocentrismo, foi decisiva na construção da imagem humana como dominadora e despretensiosa, que seria capaz de subjugar toda a natureza. (Você acredita que isso é fruto de nossa capacidade criativa?) Inventamos tudo que se mostrou necessário – e faremos muito mais. Solidificamos crenças, criamos cidades, escravizamos uns aos outros, matamos em nome da expansão de um grupo e construímos bases bem sólidas de manipulação; somos capazes de matar e de dar a vida por ideias práticas e individuais, ainda que sejam para alimentar um poder que precisa do imaginário coletivo para existir.

No final das contas, o que nos torna humanos não é a inteligência – um sem-número de outros animais são tão inteligentes quanto nós, pois eles também conseguem sobreviver de acordo com suas necessidades; não somos humanos por construir zigurates, pirâmides e arranha-céus – os outros animais sequer precisam de tanta perda de energia, se precisassem disso para viver, ou seriam eliminados, ou já haveriam sido selecionados seres aptos; tão pouco a nossa marca registrada é o amor e a empatia – esses conceitos são imaginários e criados de nós para nós, além do fato de que a história da humanidade pouco permite o enaltecimento dessas características. Portanto, no saldo das análises, o que nos torna humano é a habilidade praticamente incalculável de sermos criativos e, a partir de condicionantes ambientais e sociais, imaginar uma ideia e dar cabo a ela, mesmo que o conceito de sobrevivência seja aplicado apenas para um grupo. Se na natureza os animais disputam territórios para a sobrevivência, na vida humana essa disputa acontece por puro orgulho e avareza – e nesse jogo de interesses criativos, vence aquele grupo que for capaz de convencer uma maior parcela de humanos.

 

MANDA QUEM PODE; OBEDECE QUEM NÃO TEM JUÍZO

Provavelmente você fez algumas caretas ao ler os parágrafos anteriores e, quiçá, até disse “eu não acho que o ser humano é só isto, um animal estúpido que inventa coisas“. Pois bem, não pertence ao plano de “ensino social” convidar as pessoas ao pensamento crítico e realista da vida; e, se esse é o seu caso, cuide-se; pode ser que a ideia do manipulador foi comprada por você, que a está pagando de forma parcelada com cada dia de sua vida. Pessoas inteligentes, quando querem que suas ordens sejam cumpridas com o maior rigor possível, jamais as diria com rispidez e violência explícita – fazer assim pode até resultar no cumprimento delas, mas na primeira oportunidade o subordinado dará o troco – se você duvida de mim, pergunte para a História.

Uma pessoa que honre sua inteligência seria sutil nos dizeres, procurando, na maioria dos casos, agradar o subjugado ao ponto dele se sentir tão confortável e identificado com a ideia que ele mesmo passaria a realizar a tarefa, seja ela qual for, como se fosse uma ideia surgida de sua própria mente (sem preguiça, no primeiro intervalo, dê uma lida no texto  que escrevi, chamado Ovos de Cuco – as ideias parasitas que chocamos sem desconfiança). A propósito, só uma observação: a inteligência nem sempre habita em mentes altruístas – ela gosta de correr riscos nonsenses. Pessoas inteligentes fazem coisas belas, mas também são capazes de desastres irreversíveis. Mais uma vez, pergunte para a História, caso duvide de mim.

Se você me entendeu até aqui, talvez as coisas comecem a clarear na sua mente. Eis a fórmula para se ter sucesso na manipulação: basta convencer um indivíduo sapiens de que ele é tão especial e tão importante e de que suas atividades fazem parte de um plano muito maior que você não precisará gastar o seu precioso tempo com quase nada; ele será, voluntariamente, o seu serviçal enquanto durarem os estoques de recompensa e prazer. Mas não faça muitos planos, caro leitor e cara leitora. Vocês, assim como eu, são apenas seres humanos isolados; além disso, ideias manipuladoras bem-sucedidas costumam ser extraordinariamente grandes e tendem a criar uma identidade pessoal e coletiva que custa muito ser eliminada. É como aquele escravo que, uma vez acorrentado, seria capaz de agredir qualquer pessoa que tentasse se aproximar dele oferecendo as chaves para abrir os grilhões. Eu, um reles cientista, posso até te convencer a ler um livro de que gosto e te fazer a acreditar em algo que eu diga, é relativamente fácil. Mas claro que isso não se compara a incutir na mente de milhares de pessoas que ler obras como a Ilíada e a Odisseia, ouvir Mozart e recitar Shakespeare as tornará intelectualmente “superior” aos analfabetos, ou que uma determinada concentração de melanina na pele é superior em pureza sobre as demais, ou que homens, e não mulheres, são donos do conhecimento e do poder – ainda que tudo isso não passe de uma enorme mentira. Mentira essa que foi comprada, embrulhada e distribuída por todo o planeta – os humanoides amam receber presentes. “De graça, até injeção na testa“, dizem.

Qual o segredo de tamanho sucesso? Como sempre, dessa também vez não tenho respostas perfeitas, mas arrisco um palpite: deve existir um mecanismo envolvido nessa ideia de manipulação e que culmina no status. Por statusHomo sapiens foi capaz de invadir e destruir diversas civilizações, escravizar milhares de outros sapiens, dizimar mais de 6 milhões de judeus, segregar grupos pela cor da pele, criando uma cidade para brancos e outra para negros. Por status, nossa espécie foi capaz de lançar duas bombas atômicas sobre lares habitados, desmatar imensas florestas, instaurar ditaduras em diversos países e torturar pessoas em troca de uma suposta imagem nacional – e não se esqueça, tudo isso ocorreu em apenas um século (o famoso século XX). Somente algo verdadeiramente poderoso conseguiria convencer mais de uma pessoa a fazer qualquer uma dessas coisas. [Dica: não perca de vista o termo status.]

Pessoas que têm juízo – ou seja, que possuem a capacidade de julgar o seu entorno e a história da humanidade – não aceitam todas essas informações de braços abertos, sem nenhum tipo de incômodo profundo. Quem não tem juízo é presa fácil de devoradores de mentes – são criaturas ideais para a manutenção da “ordem”. As ordenações superiores sempre existiram, desde que o primeiro grupo foi formado; e até hoje mostram-se eficientes. Conta-se que, para ter impedido que o primeiro pedaço de terra fosse cercado e que com ele surgisse a ideia de posse e controle, seria necessária uma pessoa de pulso firme, com capacidade de liderança, que pudesse convencer as demais de que usando bem dos recursos naturais todos teriam condições de sobreviver sem que precisasse haver o dominante e o dominado. Mas foi justamente uma pessoa – firme, líder e convincente – que armou a primeira cerca. A partir dela, tudo se transformou. Manda quem pode. Obedece quem não tem juízo.

 

O DETALHE DESCONFORTÁVEL QUE PREFEREM ESCONDER

De que somos animais não há dúvidas, certo? Certo?? Pois bem! Por isso mesmo, precisamos dar mais atenção à nossa fragilidade biológica para que, partindo dessa premissa, levemos em conta as inúmeras possibilidades de controle às quais estamos sujeitos. Quem nunca parou para pensar é bom que pare: nossa estabilidade intelectual resiste pouquíssimo às alterações metabólicas que comprometam a nossa homeostase.

Imagine que você se preparou para uma determinada palestra, que estudou assuntos de qualidade e que estava confiante do conteúdo a ser apresentado. Justamente no dia marcado, você acordou com uma forte dor de cabeça, talvez porque na noite anterior os seus vizinhos decidiram comemorar um aniversário, com direito a um som forte que varou a noite. Somado a isso, você esteve com a ansiedade bem aguçada; o seu organismo encarou tudo como um estresse e decidiu agir… em consequência, te doeu a cabeça. Como resultado, você foi um fiasco na apresentação. No entanto, passadas algumas horas do desastre de palco, a dor de cabeça foi finalmente expurgada… quando então você passa bem, lembra-se de tudo que estudou, mas naquele momento de que mais precisava estar aliviada você não teve nenhum controle sobre si. Que tristeza. Que impotência.

Mais um causo para pensarmos? Proporei alguns para que observemos que somos, entre outras coisas, um conjunto de mecanismos bioquímicos integrados. Você já parou para pensar em quem somos nós quando estamos sob o efeito do álcool? E aquela balinha azul da balada? Você já ouviu falar em “lança perfume“? E que tal considerar os efeitos de alucinógenos? Não menos importante, vale saber que uma constipação intestinal prolongada também pode te fazer delirar, tudo porque o seu alimento engarrafado no trânsito intestinal pode liberar toxinas, que o seu corpo perceberá sob a forma de algoritmos e responderá com cascatas e mais cascatas metabólicas… tudo para você não morrer de imediato. Nessas horas, quem somos nós? De quem é o nosso corpo? Cérebro e mente são as mesmas coisas? São separados e funcionam autônoma e individualmente? Além disso tudo, quando estamos em um estado de “insanidade mental” e não podemos responder por nós mesmos juridicamente, o que houve com a nossa “essência”? O “eu” verdadeiro existe? “Quem somos nós” é talvez a pergunta mais antiga e sem resposta que já foi feita pelos humanos! Viva o Homo interrogantus… Viva o Homo fragillis.

A mania de ocultarmos questionamentos que demonstrem a nossa fragilidade é algo recorrente, mas não é recente. Epopeias que enaltecem a virilidade humana (e masculina) e que nos posicionam no centro das grandes causas do universo são muito convincentes. Hércules. Theseu. Aquiles. Odisseu. Vasco da Gama. Ideias de força e poder. Quem, podendo sonhar grande preferirá a realidade de que somos… matéria orgânica organizada? Ninguém, não é mesmo? E quem, podendo voar, preferirá uma gaiola de dominações ao infinito campo do saber? Ah, eu sei quem! Quase todos nós. Suspeito fortemente de que a Ilíada não teria feito tanto sucesso se Heitor morresse logo no primeiro Canto do poema (que tem um total de XXIV Cantos); de modo semelhante, penso que Camões teria impressionado a poucos se a embarcação d’Os Lusíadas não resistisse ao Gigante Adamastor. Você já pensou se na Odisseia o Odisseu também fosse, pelos encantos de Circe, transformado em porco, como aconteceu aos seus companheiros? […] é muita desconstrução para uma só espécie… prossigamos na alienação […]

Enfim, sabe aquela nossa fragilidade? Ela pode ser facilmente driblada caso acreditemos que somos fortes, invencíveis e eternos – e isso tem funcionado de uma forma sobre-animal. Porém, não sei se já te contaram, mas somos apenas animais “humanizados”, e esse detalhe, que é desconfortável para a maioria, foi-nos ocultado por uma minoria. Mas que bom que o dedo duro da História e da Biologia está sempre apontado para a nossa mediocridade. Interessantemente, como cantava uma banda brasileira, chamada o Rappa: “A minha alma tá armada e apontada para a cara do sossego“. Então, vamos! Incomodemo-nos! Se não buscarmos pelos detalhes, ninguém nos dirá em que caverna eles se escondem. Os maiores segredos geralmente são detalhes desconfortáveis, que preferem esconder.

 

OS COMPONENTES DO “SOFTWARE VIDA

Grandes ideias exigem grandes aceitações para se manter vivas. Isso, como eu já disse, compõe a essência do mecanismo de controle. Nesse sentido, eu disse que resgataria o conceito de status e aqui estou para falar dele, que considero um dos principais reinados da humanidade; e que explica, ao menos em partes, o porquê de tanta ganância por conquistas e de tanta euforia descontrolada (a minha mãe usaria a expressão sangria desatada, que é igualmente válida) – são ações geralmente pautadas em ser feliz, sentir prazerser visto, possuir dominar. Tudo alimenta um órgão maior que controla o todo; é como uma “ponte” que liga o software ao hardware. [Tentarei fazer algumas analogias mais “modernizadas” tecnologicamente]

O Status não é um simples estado

A palavra status, de origem latina, tem assumido diversos significados sobretudo no contexto histórico do século XXI. Entretanto, na maior parte da história da humanidade, esse termo sequer existiu tal como o é, haja vista que estamos falando de aproximadamente 200 mil anos – que é a possível data de surgimento da nossa espécie.

Se, por um lado, é comum ler-se que o termo status pode assumir o significado de condição ou estado atual, posição social, posição de destaque ou até mesmo prestígio, por outro lado, neste breve texto pretende-se atribuir-lhe um novo sentido. Esse, não absolutamente distinto daqueles citados, mas imputando-lhe uma característica universal que torna essa palavra – então praticamente banalizada – em algo que é, em grande parte, capaz de explicar como se dá a formação e a manutenção dos ideais histórico, social, político, cultural, religioso e filosófico do ser humano. Assim, status, além daquilo que eleva em grau e em significado alguma característica presente na sociedade, é algo comparável a um software atualizável de forma que seja constantemente renovado na medida em que a humanidade busca por destaques e poder, seja dentro de uma única família, em uma comunidade, numa nação ou até em escala global. Status é identidade.

A base de dados que garante tamanha abrangência a partir dessa pequena palavra não pode ser explicada por apenas uma área do conhecimento, isso seria ingenuidade; precisa-se, todavia, da ajuda de tantos saberes quantos forem possíveis para que haja, no mínimo, uma consistência na abordagem. A má notícia, todavia, é que não poderei falar do status com todos os detalhes, pois esse assunto faz parte de um livro [já em construção] – ademais, isso tornaria essa publicação ainda mais extensa. Just trust me – valerá a pena esperar pelo livro; ele promete causar muitos incômodos.

Considerando o significado de status feito acima, darei pistas de sua atuação na sociedade. Seguindo nesse trilho, pensar sobre o status como um fator decisivo na construção e transformação de uma civilização é algo que nem sempre foi devidamente considerado na análise da dinâmica social e em sua evolução ao longo da História. Ele pode ser considerado como a base invisível que dá sustentação a tudo que entendemos por organização humana, atuando nos mais sujos planos de ganância e opulência, mas também permitindo grandes passos histórico-sociais. Creditar a ele uma conotação negativa ou positiva é, portanto, uma realização que precisa considerar diferentes pontos de vista. Não obstante, uma coisa não deveria ser segredo para ninguém: em toda a história da humanidade, desde que os primeiros grupos humanos descobriram que poderiam acumular bens e chamá-los de seus, nenhum deles foi adquirido pelo seu valor intrínseco – o ouro, por exemplo, nunca foi desejado por ser ouro, a prata nunca foi de fato desejada por ser prata. Acima dos bens estava o status por possui-los. E possuí-los agregava-lhes uma identidade, muitas vezes invejada.

Mesmo no século XXI, depois de tantas modificações na estrutura da humanidade, os sapiens não compram carros, casas e roupas de grife, nem fazem viagens, adquirem diplomas ou seguem loucamente pela calçada da fama pelo puro valor que cada uma dessas coisas carrega, por si só. O que no final das contas todos buscam é uma glória que os torne superiores a todos aqueles que não têm o bem adquirido – a superioridade é válida inclusive em se tratando do próprio indivíduo ao longo de sua vida (o ser de hoje deve ser melhor que o de ontem, do contrário é visto como atrasado, e isso não o destaca socialmente). O dinheiro (ou qualquer artigo de troca monetária), a religião, o céu, a fama e o poder, por si só, apesar de participarem ativamente do processo, nunca determinaram a razão motora da humanidade. Arrisco dizer que, desde o período considerado como História, a humanidade busca isto: o Status. Essa é, muito provavelmente, a grande moeda de troca sobretudo nessa época pós-moderna em que vivemos. Sua sobrevivência enquanto mecanismo de controle exige conexões que se entremeiam cada vez mais ajustadas. O sistema precisa ser bem interligado.

A partir dessa construção de conceitos, surge a ideia de que os diferentes rearranjos das civilizações atuaram de forma preponderante de modo a manter os privilégios restritos a uma pequeníssima parcela de humanos, enquanto todo o restante deveria (talvez propositadamente) permanecer no patamar de baixeza. De certa forma, esse abismo que separa os agentes do poder dos dominados tem garantido uma certa manutenção do controle humano. Como estratégia de manipulação, foi inventada a ideia de igualdade. Ainda que não existisse o conceito de Direitos Humanos, foram criados outros mecanismos de pertencimento, que atribuíam ao todo uma identidade única. Nomes como Tribo do NorteExército Romano, Império MongolReino dos Francos, entre outros, são exemplos de termos que auxiliaram a formação identitária e um aglomerado humano – isso contribuiu para manter um grupo coeso, todos em torno de um mesmo ideal. Mas para que o sistema fique ainda mais bem integrado é indispensável a criação de um inimigo comum. Foi, então, que inventaram a miséria.

Não é de se duvidar que sempre houve a fome e a presença de outras condições precárias de vida, mas foi no momento em que ser pobre recebeu valores sociais [negativos], transformando-se em castigo, que o cenário começou a mudar. Se você estabelece que a riqueza está em um extremo da régua e que do outro lado está a miséria, se afirma que a miséria é para os fracos e desprezíveis enquanto a riqueza pertence aos sábios e qualificados e, para completar, se você promove a aversão a tudo que não seja nobre, estipulando padrões de comportamentos que aproxime o ideal coletivo daquele extremo perfeito, você está prestes a controlar um grande número de humanos.

Assim foi com a sociedade desde cedo; hoje cultivamos a mesma ideia, porém com mais tecnologia – cuidamos mais de nos aproximar de padrões bem estabelecidos do que de entender o que forma esses padrões. A crença coletivizada permitiu que multidões saíssem às guerras para defender um país que, antes da formação do exército, explorava o próprio povo; o status conquistado pelo faraó, por exemplo, foi mais que suficiente para derramar o medo e o “respeito” sobre os egípcios, que construíram monumentos incríveis, dedicaram suas vidas a servidão e, mesmo assim, nunca atingiram um padrão social que eles mesmos veneravam. Isso, num determinado momento, gera a chamada inveja, em que o invejoso se incomoda raivosamente com o bem que o outro possui.

Nesse sistema de emulação, quando a estrela do seu irmão brilha mais que a sua, você a deseja tanto que faria de tudo para possuí-la. A questão reside nas possibilidades de alterar o cenário. Se você tem forças suficientes para lutar, geralmente o faz; do contrário, se não passa de um camponês revoltado, deverá contar com a sorte – caso ela exista. Foi por essa ambição que, favorecidos por possibilidades reais, Caim matou Abel, Seth matou Osiris, e que Júlio César foi assassinado com 23 punhaladas. O posto de destaque, que acomoda um status máximo sempre desperta interesses alheios, os quais geralmente guardam em seu âmago pensamentos violentos. Se nada acontecer para interromper o processo, o crescimento dessa cegueira por poder tende a aumentar velozmente. E quem disse que algo tende a ser feito?

Cadê o “Shutdown”*?

Atualmente, o status cobiçado não veste túnicas douradas, nem usa barretes ou coroas – mas ele existe na forma de “ideal de vida“.  Busca-se cada vez mais deixar a maldição da miséria e da pobreza em busca de um estado de conforto e luxo, cada vez mais desnecessários – e não é o caso aqui de se fazer apologia à miséria ou à pobreza, mas de mostrar como elas foram articuladas historicamente. Mecanismos e mais mecanismos são utilizados para compôr o grande software vida, que movimenta as massas dentro do sistema operacional. Ideias isoladas – como o enaltecimento do homem, o forte valor atribuído aos bens de consumo e a criação de uma identidade impecável (porém irreal) – funcionam como interfaces que estruturam o chamado status. Os componentes desse software seriam as concepções culturais arraigadas na mentalidade humana, bem como dogmas que se mostram cada vez mais aceitos e protegidos.

Desempenhando um papel crucial neste sistema está o conservadorismo, uma vez que é ele quem repara os “defeitos” emergentes no sistema. Quando surge um pensamento contrário ao programado soa-se o alerta de que há um “malware”*. Tudo que puder ser feito para eliminar o possível invasor o será.

Nesse sentido, quando se busca por manter isolado um grupo que controla outro é indispensável o uso de classificações e mecanismos segregadores – criar pastas não é apenas uma questão de organização, é uma necessidade implícita. A espécie humana, como eu disse lá atrás, é só um outro tipo de animal – mantê-la sob o domínio de quem quer que seja não é simples, requer uma atualização constante de informações e uma visita recorrente ao código fonte. E isso é feito desde muito antes de você nascer.

Se você não percebeu tão claramente é porque os conservadores trabalharam (e trabalham) com toda força. Durante muitos séculos houve a ideia de escravidão na espécie humana, que funcionava como sinônimo de conquistas, além de, principalmente, servir como uma maneira de ampliação da mão de obra, que era oriunda das vitórias em batalhas – qualquer um que acusasse o dominador de carrasco e “sem coração”, ou que lutasse pela liberdade, seria morto – a escravidão era aceita e justificada como “natural” tanto na Grécia Clássica, quanto no Brasil do século XVII. [Caso você tenha curiosidade, acesse o Anexo, no final desta página e observe e compare o que dizia o filósofo grego Aristóteles e o jesuíta Padre Antônio Vieira, respectivamente, acerca da escravidão – controle a sua indignação, reflita primeiro.]

Em diversos momentos da História o sistema foi atualizado. Aquela ideia que envolvia a escravidão antiga estava passada, precisou assumir uma nova faceta; ela passou a ser justificada pelo valor comercial que apresentava – e, por que não acrescentar uma característica social ainda mais negativa ao escravo? À media que o tráfico negreiro aumentava, crescia também o status de possuir-se escravos. Ter escravos era algo que qualificava o proprietário como bem-sucedido financeiramente, logo o tornava uma pessoa notável. A questão racial foi ganhando cada vez mais uma conotação política e social que se capilarizava de modo a intensificar o pensamento de que nascer negro era sinônimo de nascer condenado – mais uma vez, isso só foi possível porque um grupo significativamente grande (em tamanho ou em poder) comprou e redistribuiu essa ideia. A difusão de que a escravidão era parte da dinâmica da sociedade era tão aceita que, tornando-se banalizada, raros eram os que se opunham a ela. A consolidação de que aquilo não era racismo, mas sim uma “determinação” social e biológica, foi adentrando tanto no imaginário coletivo que passou a vigorar como um modus operandi – simplesmente deveria acontecer. Mesmo hoje, após 130 anos da assinatura da Lei Áurea, negros continuam às margens da sociedade, com privilégios praticamente nulos, mal colocados no mercado de trabalho e ainda são considerados como seres “inferiores”.

O componente sociocultural foi rodado com sucesso no software vida, a sociedade incorporou nitidamente suas funções e segue, dia após dia, segregando, discriminando e condenando um grupo em função de uma ideia preconceituosa e violenta, implantada há séculos, mas atualizada rigorosamente. Enaltecer a cor branca e inferiorizar a negra foi fundamental na corrida pela purificação das “raças”. Não raramente, negros fazem de tudo para se parecerem com os brancos; alisam seus cabelos para ser aceitos, relevam submissões humilhantes para continuar em um grupo e, como prova cabal de que alguns compraram a ideia opressora, consideram-se como próprios incapazes. Tudo porque o status de ser branco é “mais valioso”.

Relembre a ideia de que, para além de ser um pensamento amplamente abraçado pelo grupo, o sentimento de aceitação voluntária da dominação deve também existir dentro de cada indivíduo, numa situação em que ele mesmo se considera digno de ser controlado. É metaforicamente semelhante ao usuário de um computador que, para melhorar o desempenho da máquina escolhe manualmente fazer o download das atualizações cada vez que o sistema sugere. Outra possibilidade, talvez mais recorrente, é deixar ativada a opção “baixar atualizações automaticamente”. Isso acontece quando a pessoa tem um pensamento limitado, no qual exercer um olhar crítico soa quase como uma ofensa. Vale mais seguir a moda. O problema é que muitos indivíduos compram a ideia de que pertencem a uma elite pelo simples fato de possuírem bens materiais de marcas que aparecem nas propagandas de TV, geralmente apresentadas por uma celebridade; quando na verdade continuam na mesma classe social, apenas enriquecem os que já são ricos – e o abismo só aumenta. Logo, vemos que a ferramenta é funcional: faça o inocente sentir-se culpado e o escravo sentir-se livre e nunca mais precisará convencê-lo a te temer.

Em seu livro Preconceito Linguístico, o professor Marcos Bagno faz uma excelente observação acerca do preconceito relacionado à própria maneira de comunicação. Ele mostra que inclusive as línguas escrita e falada enfrentam questões de dominância e subordinação, em que o uso da linguagem em determinada forma, em vez de assegurar a união dos povos, funciona como um componente classificatório e, portanto, segregador. O componente é tão bem instalado que as pessoas aceitam ser descriminadas porque “falam errado”, inclusive aceitam que existe uma “fala errada” e uma “correta”, e que quem fala correto é intelectualmente superior:

“[…] Mas os preconceitos, como bem sabemos, impregnam-se de tal maneira na mentalidade das pessoas que as atitudes preconceituosas se tornam parte integrante do nosso próprio modo de ser e de estar no mundo. É necessário um trabalho lento, contínuo e profundo de conscientização para que se comece a desmascarar os mecanismos perversos que compõem a mitologia do preconceito. E o tipo mais trágico de preconceito não é aquele que é exercido por uma pessoa em relação a outra, mas o que uma pessoa exerce contra si mesma. Infelizmente, ainda existem muitas mulheres que se consideram “inferiores” aos homens; existem negros que acreditam que seu lugar é mesmo de subserviência em relação aos brancos; existem homossexuais convictos de que sofrem de uma “doença” que pode, inclusive, ser curada […].”

(Marcos Bagno. Preconceito Linguístico. Editora Loyola (49ª Edição). pg. 75, 2007.)

Percebemos, dessa forma, mais um mecanismo de controle humano que, na somatória aos demais, mantém forte o status como um excelente software: o preconceito. Esse mecanismo é equipado contra qualquer vírus de igualdade que queira “ameaçar” o sistema. Em um sistema pautado em dominação, controle e separação, qualquer prenúncio de igualdade e união é imediatamente tachado como uma ameaça meteórica. Nem “Cavalo de Tróia“, nem “Coinminers” seriam capazes de invadir um sistema equipado com o preconceito – a menos que fosse feito um shutdown no computador chefe. Alguns “hackers” têm tentado isso, e não é de hoje. Mas alguém sempre trata de reiniciar o sistema, com mais mecanismos de proteção. No Brasil, por exemplo, enfrentou-se um episódio desse tipo recentemente. Detectaram que os vírus da democracia e da liberdade de escolhas estavam desfavorecendo a elite e suscitando a possibilidade de assegurar igualdade a grupos sociais desprivilegiados – pessoas LGBTs, negras, trabalhadoras, mulheres, estudantes e manifestantes -, foi então que, no dia 28 de outubro de 2018, o sistema foi reiniciado de modo a reforçar as barreiras e impedir qualquer avanço libertário. A atualização foi feita sabe por quem? Pelas pessoas que compraram a ideia de que são livres e que jamais seriam atingidas pelo antivírus, logo elas nunca se enxergaram como passíveis de serem eliminadas do sistema. A pergunta que fica é: cadê o shutdown nessas horas? O sistema precisa ser interrompido ao menos para manutenção… Espere! e quem é o técnico? Mas cadê o shutdown?

 

QUANDO ESSE MECANISMO TERMINA? ELE TERMINA, NÃO É?

Saber quando e como começou o maquinário de controle humano não é tão simples, mas nesse longo texto foi feita uma tentativa de expor diferentes maneiras pelas quais isso aconteceu, pontuando, inclusive, alguns fatos históricos e outros hipotéticos. Foram destacadas as bases para um possível mecanismo de dominação, bem como um sustentáculo muito significativo – o status (metaforizado no termo Software Vida). Ainda assim, não é o suficiente para “bater o martelo” e dizer que está tudo claro. Longe disso, muitos outros caminhos podem ser percorridos e diferentes pensamentos paralelos poderiam ajudar a compreender melhor essa ideia – infelizmente seria muito exaustivo falar mais coisas e abordar mais vertentes sobre essa questão em um único texto. Em um livro isso seria muito mais possível. Por outro lado, dizer quando esse mecanismo de controle acabará é simplesmente impossível, uma vez que sequer sabemos se de fato ele acabará.

Segundo a lógica evolucionista, a seleção natural “se encarrega” de eliminar ou de manter os organismos mais adaptados e capazes de se reproduzir e deixar descendentes férteis. De certa forma, humanos são bem capazes de se reproduzir – fazem isso em larga escala, a ritmo geométrico; e seus descendentes são bem férteis. No século XVIII-XIX, Thomas Malthus previa que faltaria alimento para a população humana; o tempo passou e suas previsões falharam – certamente porque ele não levou em consideração o componente criatividadetão presente na nossa espécie. Hoje, morre-se mais por obesidade que de fome e desnutrição juntas.

Pelo uso incorreto e pela degradação ambiental de origem antrópica, os recursos naturais estão se esgotando em boa parte do planeta, porém a dinâmica de distribuição está cada vez mais acelerada e o aprimoramento tecnológico para obtenção de alimentos estão atingindo um grau de otimização tão grande que em pequenas porções de terra se cultiva o que seria feito em grandes hectares.  Os casos de fome que são registrados acontecem por questões políticas, o descaso social ainda é um problema que a criatividade humana não quis resolver, já que para isso a lógica dos privilégios seria quebrada. Os detentores das esferas do dragão não estão dispostos a perder uma pequena parcela de seus montantes para permitir que uma parte da população saia da linha de pobreza e da fome. Além disso, assegurar oportunidades iguais, como já vimos, não é nem de longe a ideia de um mecanismo dominante.

Se a busca pelo status, como mencionada antes, envolve sentir prazer, ser feliz, atingir as posições mais distantes possíveis da maioria dos membros da sociedade, mantendo-se como “superior”, no dia em que tudo isso for atingido por uma parcela significativa a ponto de os menos favorecidos serem simplesmente desprezíveis, e quando a presença da tecnologia representar cada vez mais as razões da existência de humanos “mais bem adaptados ao meio“, o que fará a humanidade? Será o fim da manipulação? Estaremos livres de tudo que nos escraviza, ou apenas trocando o software?

Por mais que o texto apresente, em alguns pontos, ideias marxistas, denotando que o proletariado é sempre subjugado pela burguesia, não há necessidade de você fazer essa ligação direta. Antes de Karl Marx, a história da humanidade já mostrava essa desigualdade de várias formas. Entretanto, com a revolução tecnológica e com o avanço da inteligência artificial (IA), poderá chegar o dia em que humanos não serão mais os controladores do sistema. Pior que isso, o proletariado talvez nem seja mais proletariado, uma vez que a mão de obra já é cada vez mais substituída por sistemas autônomos e inteligentes, controlados por algorítimos eletrônicos e virtuais. Sendo dessa natureza, sistemas autônomos não cansam, não reclamam da jornada extensa, podem trabalhar nos feriados e não reivindicam direitos, ao menos não os direitos humanos. O novo profissional deverá ser flexível, com formação especializada em diversas áreas de alta exigência técnica – talvez seja um novo filtro, mas com uma malha muito menor.

Se ao longo de milhares de anos a seleção natural favoreceu organismos que pudessem se reproduzir e deixar descendentes férteis – sob um viés puramente biológico -, futuramente o critério poderá ser de um viés mais artificial, ou uma mistura dos dois. Porém, olhando com um campo de visão hipoteticamente sem fim, não podemos descartar que daqui a mais alguns séculos, quando utilizarmos o máximo do planeta ou dos humanos, e as configurações social, ambiental e biológica forem totalmente distintas, uma possível seleção inovadora aconteça, mas isso não passa de especulação.

Quando em uma entrevista concedida ao Site Diário de Notícias, perguntaram ao historiador Yuval Noah Harari sobre o fato dele afirmar em seu livro Homo Deus que a busca pela felicidade era parte crucial da agenda humana no século XXI, mesmo levando em consideração que essa busca tem conduzido a humanidade à infelicidade, como já dizia Epicuro, ele respondeu que

Sim, até agora a busca da humanidade pela felicidade não foi muito bem-sucedida. Nós somos hoje muito mais poderosos do que alguma vez fomos e a nossa vida é certamente mais confortável do que no passado, mas é duvidoso que sejamos muito mais felizes do que os nossos antepassados. Os americanos médios têm um carro, um telemóvel, um frigorífico cheio de comida e um armário cheio de medicamentos, coisas com que os seus antepassados dificilmente poderiam sonhar. No entanto, os americanos estão tão irritados e insatisfeitos com a sua situação, que elegeram Donald Trump como seu presidente. Aparentemente, não é fácil traduzir o poder em felicidade.

Uma explicação é que a felicidade depende menos de condições objetivas e mais das nossas próprias expectativas. As expectativas, no entanto, tendem a adaptar-se às condições. Quando as coisas melhoram, as expectativas aumentam e, consequentemente, mesmo melhorias drásticas nas condições podem deixar-nos tão insatisfeitos como antes”.

No que diz respeito ao avanço da IA e ao processo evolutivo do futuro do Homo sapiens, as previsões do mesmo autor são bastante interessantes e diretas ao ponto:

“[…] existe o perigo de a humanidade se dividir em castas biológicas. À medida que a biotecnologia for se desenvolvendo será possível prolongar o tempo da vida humana e melhorar as capacidades humanas, mas os novos tratamentos poderão ser caros e podem não estar disponíveis gratuitamente para todos os milhares de milhões de seres humanos. Assim, a sociedade humana no séc. XXI pode ser a mais desigual da História. Pela primeira vez na História, a desigualdade econômica será traduzida em desigualdade biológica. Pela primeira vez na História, as classes superiores não serão apenas mais ricas do que o resto da humanidade, mas também viverão muito mais tempo e terão muito mais talento.

A ascensão da inteligência artificial pode exacerbar este problema. Dentro de algumas décadas, a IA pode tornar a maioria de seres humanos inúteis. Estamos agora a desenvolver software para computadores e IA que superam os seres humanos em cada vez mais tarefas, desde conduzir carros até diagnosticar doenças. Como resultado, os especialistas calculam que dentro de algumas décadas, não serão só os empregos de taxistas e médicos, mas cerca de 50% de todos os postos de trabalho nas economias avançadas serão ocupados por computadores.

Podem aparecer muitos novos tipos de empregos, mas isso não irá necessariamente resolver o problema. Os seres humanos têm basicamente apenas dois tipos de capacidades – físicas e cognitivas – e se os computadores nos superarem em ambas, eles podem superar-nos nos novos empregos tal como o fizeram nos antigos. Então, qual será a utilidade de seres humanos nesse mundo? O que faremos com milhares de milhões de seres humanos economicamente inúteis? Não sabemos. Não temos qualquer modelo econômico para tal situação. Esta pode ser a maior questão econômica e política do século XXI.

[…] Nós somos provavelmente uma das últimas gerações de Homo sapiens. Ainda teremos netos, mas não tenho muita certeza de que os nossos netos terão netos. Pelo menos não humanos. No próximo século ou dois, os seres humanos ou se destroem a eles mesmos ou evoluem para algo completamente diferente. Algo que será mais diferente de nós do que nós somos diferentes dos neandertais ou dos chimpanzés”.

Portanto, precisaremos esperar mais alguns séculos para ter uma resposta e saber que destino teremos. De especulação por especulação, de análises por análises, ainda que muito ricas e profundas, sugiro-te que siga as pistas da História e tente compreender a humanidade enquanto ela é “humana”.

 

DESSA VEZ É A SUA VEZ

Se você chegou até aqui e está profundamente incomodado ou incomodada com tudo que foi dito, não se desespere – digo, não exageradamente. Fomos ensinados a encarar a vida sob o mais colorido otimismo e com muitas promessas de prosperidade e “sucesso”. Mas eu não ando por esses trilhos. Se não for para enxergar a vida como ela é prefiro não enxergá-la de nenhum outro jeito – e, considerando que não existem verdades absolutas, quero ao menos chegar o mais perto dela que eu puder, ou, o mais longe possível da mentira. Não sou uma pessoa amarga por isso, apenas não aceito que me contem uma história falsa e que me façam viver uma vida pautada em uma desigualdade camuflada de meritocracia. Não acho aceitável poder pensar e mesmo assim optar por viver de acordo com as propostas que a sociedade faz diariamente e há séculos, de que precisamos ser felizes a qualquer custo, que devemos consumir o máximo de insumos possível, angariar cada vez mais coisas, e mostrar aos demais que podemos ter tudo que quisermos somente para ser aceito num grupo. O preço de querer enxergar além do teto estabelecido pelo sistema é deparar-se com verdade indigestas; compreender a vida como ela é exige que primeiramente entendamos quem realmente somos. Mas como entender a humanidade sem saber, no mínimo, um pouco sobre o que nos torna humanos? Você já parou para pensar?

Para terminar o texto, quero dizer que possivelmente você está com uma pulga atrás da orelha, e, quem sabe, prestes a fazer dois blocos de perguntas (caso ainda não foram feitos): 1º) Foi falado sobre o sistema em si e sobre seus mecanismos de controle, mas quem de fato manipula esse sistema? Há um grupo específico?; 2º) No Blog Devaneios Filosóficos, diversos textos sugerem que a crença religiosa exerce um forte controle social; então, por que até aqui, depois de 8421 palavras, o termo religião apareceu apenas uma vez, sem receber nenhum destaque? Ela não tem mais importância na história da humanidade e tende a ser extinta? Quanto a Deus, o que será dele?

Caro leitor e cara leitora, dessa vez é sua vez. Use dos conhecimentos presentes nesse texto e de todo o seu aporte intelectual e busque por respostas para isso. Até que ponto somos naturais? Caso continue acompanhando o Blog, certamente verá que, se essas respostas já não estiverem presentes em outros textos, elas certamente surgirão em publicações futuras. Se você quiser falar de suas percepções, deixe os seus comentários – ficarei muito grato. Críticas também são bem-vindas e nos ajudam a crescer intelectualmente. Lembre-se, em caso de dúvidas, pergunte para a História.

#VocêJáParouParaPensar?

vjppp

Andreone T. Medrado
Devaneios Filosóficos

 

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ANEXO:

Comandar e ser comandado estão entre as condições não somente necessárias, mas também convenientes; e certos seres, desde o nascimento, são diferenciados, para serem comandados, ou para comandarem. […] A autoridade do senhor e do homem de governo não podem ser do mesmo tipo e todas as formas de governo não são iguais entre elas: pois, uma se exercita sobre homens livres por natureza e a outra sobre escravos; além disso, a administração da casa é um tipo de monarquia (com efeito, cada casa é governada por um homem só), enquanto que o governo político é exercitado sobre homens por natureza livres e iguais.

(Guisepi Tosi. Aristóteles e a escravidão natural. Boletim do CPA, Campinas, nº 15, jan./jun. Pg. 81, 2003. Adaptado)

 

“Oh se a gente preta tirada das brenhas da sua Etiópia, e passada ao Brasil, conhecera bem quanto deve a Deus e a sua Santíssima Mãe por este que pode parecer desterro, cativeiro e desgraça, e não é senão milagre, e grande milagre! Dizei-me: vossos pais, que nasceram nas trevas da gentilidade, e nela vivem e acabam a vida sem lume da fé, nem conhecimento de Deus, aonde vão depois da morte? Todos, como já credes e confessais, vão ao inferno, e lá estão ardendo e arderão por toda a eternidade […]. Pelo contrário os filhos de coré, [os negros] perecendo ele, salvaram-se, porque reconheceram, veneraram, e obedeceram a Deus: e esta é a singular felicidade do vosso estado, verdadeiramente milagroso. 

[…] não há trabalho, nem gênero de vida no mundo mais parecido à cruz e paixão de Cristo, que o vosso em um desses engenhos […]. Bem-aventurados vós se soubéreis conhecer a fortuna do vosso estado, e com a conformidade e a imitação de tão alta e divina semelhança aproveitar e santificar o trabalho! Em um engenho sois imitadores de Cristo crucificado […] porque padeceis em um modo muito semelhante o que o mesmo Senhor padeceu na sua cruz, em toda a sua paixão [..]. A paixão de Cristo parte foi de noite sem dormir, parte foi de dia sem descansar, e tais são as vossas noites e os vossos dias. Cristo despido, e vós despidos: Cristo em tudo maltratado, e vós maltratados em tudo. Os ferros, as prisões, os açoites, as chagas, os nomes afrontosos, de tudo isso se compõe a vossa imitação, que se for acompanhada de paciência, também terá merecimento de martírio […]. Em todas as intenções e instrumentos de trabalho parece que não achou o Senhor outro que mais parecido fosse com o seu, que o vosso. […] vede vós quanto estimará agora os que outrem foram gentios, conformando-se com a vontade de Deus na sua sorte, lhe façam por imitação tão boa companhia”.

(Sezinando Luiz Menezes. Escravidão e educação nos escritos de Antônio Vieira e Jorge Benci. Diálogos, DHI/PPH/UEM, v. 10, n. 3, p. 215-228, 2006. Adaptado)

 

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NOTAS E REFERÊNCIAS

NOTA I: parte da imagem utilizada para compor a capa dessa publicação foi obtida aqui.

NOTA II: A música da banda O Rappa utilizada no texto chama-se “Minha Alma”, e pode ser acessada em: https://www.letras.mus.br/o-rappa/28945/. Acessada pela ultima vem em 14 de novembro de 2018.

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 A BÍBLIA SAGRADA – O Antigo e O Novo Testamento. Traduzida para o português por João Ferreira de Almeida. 1. ed. Ed. Geográfica. São Paulo.

BAGNO, MARCOS. Preconceito Linguístico. Editora Loyola (49ª Edição). pg. 75, 2007.

DAMÁSIO, ANTÔNIO. O Livro da Consciência. Ed. Temas e Debates, 2010.

DARWIN, CHARLES. A origem das espécies. 1ª edição. Martin Claret – São Paulo, 2014.

DAWKINS, RICHARD. Evolution. 51: 1016. 1997.

DOLLINGER, ANDRÉ. The people of ancient Egypt. 2000. Disponível em:  http://www.reshafim.org.il/ad/egypt/people/index.html. Acessado em 22 de agosto de 2018.

DUNBAR, ROBIN IAN MACDONALD. Grooming, Gossip, and the Evolution of Language, 69-79; LESLIE C. AIELLO e R. I. M. Dunbar. Neocortex Size, Group Size, and the Evolution of Language, Current Anthropology 34:2 (1993), 189. Para críticas a essa abordagem, ver: CHRISTOPHER MCCARTHY et al., Comparing Two Methods for Estimating Network Size, Human Organization 60:1 (2001), 32; R. A. HILL e R. I. M. Dunbar, Social Network Size in Humans, Human Nature 14:1 (2003), 65. Referências sugeridas por YUVAL NOAH HARRARI, no livro Sapiens – uma breve história da humanidade. 2017.

HARARI, YUVAL NOAH. Sapiens – uma breve história da humanidade. Ed. L&PM. 27ª edição. 2017.

HARARI, YUVAL NOAH. Homo Deus – uma breve história do amanhã. 1ª edição. Companhia das Letras – São Paulo, 2017.

HARARI, YUVAL NOAH. Yuval Harari: “Não sabemos o que ensinar aos jovens pela primeira vez na História”. Entrevista concedida ao Diário Notícias, disponível em: https://www.dn.pt/artes/interior/yuval-harari-nao-sabemos-o-que-ensinar-aos-jovens-pela-primeira-vez-na-historia-8486526.html – acessado pela última vez em 14 de novembro de 2018.

HARARI, YUVAL NOAH. 21 lições para o século 21. 1ª edição. Companhia das Letras – São Paulo, 2018.

HERCULANO-HOUZEL, SUZANA. A vantagem humana. Como o nosso cérebro se tornou superpoderoso. Ed. Companhia das Letras. São Paulo. 2017

KIRK. RUSSEL. A política da prudência. Tradução Gustavo Santos, Márcia Xavier de Brito. São Paulo: Realizações, 2014. (Col. Abertura Cultural).

MAYR, ERNST. What Evolution is. Nova York Books, Perseus Books Group. Pg. 213-215. 2001 (Tradução e adaptação de José Mariano Amabis e Gilberto Rodrigues Martho. IN: Biologia: Biologia das populações. Vol. 3; 2.ed. Ed. Moderna, 2004)

MENEZES, SEZINANDO LUIZ. Escravidão e educação nos escritos de Antônio Vieira e Jorge Benci. Diálogos, DHI/PPH/UEM, v. 10, n. 3, p. 215-228, 2006. Adaptado.

OAKESHOTT, MICHAEL. Ser conservador. Tradução Rafael Borges. Gabinete de Estudos Gonçalo Begonha, 2014.

SOUZA, JAMERSON MURILLO ANUNCIAÇÃO DE. O conservadorismo moderno: esboço para uma aproximação. Serviço Social da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE/ Recife.

3SPROJETOS. Aerofarms, fazenda vertical instalada em nova jersey usará 95% menos água e terá produção 75 vezes maior que o método tradicional. Disponível em: http://3sprojetos.com.br/2017/12/14/aerofarms-fazenda-vertical-eua/ – acessado pela última vez em 14 de novembro de 2018.

TOSI, GUISEPI. Aristóteles e a escravidão natural. Boletim do CPA, Campinas, nº 15, jan./jun. Pg. 81, 2003. Adaptado.

WIKIPEDIA.com. Conservadorismo. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Conservadorismo. Acessado em 10 de Março de 2018.

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TEXTOS PUBLICADOS NO BLOG

MEDRADO, ANDREONE TELES. Dica de leitura | Homo Deus – Uma breve história do amanhã. Disponível em: https://devaneiosfilosoficos.com/2018/01/08/dica-de-leitura-homo-deus-uma-breve-historia-do-amanha/

_______. Dica de Leitura | Sapiens – Uma breve história da humanidade. Disponível em: https://devaneiosfilosoficos.com/2017/12/22/dica-de-leitura-sapiens-uma-breve-historia-da-humanidade/

_______. De quem é o seu tempo? Disponível em: https://devaneiosfilosoficos.com/2018/10/20/de-quem-e-o-seu-tempo/

_______. Ovos de Cuco: as ideias parasitas que chocamos sem desconfiança. Disponível em: https://devaneiosfilosoficos.com/2018/03/05/ovos-de-cuco-as-ideias-parasitas-que-chocamos-sem-desconfianca/

_______. Pensamento limitado. Disponível em: https://devaneiosfilosoficos.com/2018/09/14/pensamento-limitado/

_______. Questionamentos filosóficos de A a Z. Disponível em: https://devaneiosfilosoficos.com/2018/03/17/questionamentos-filosoficos-de-a-a-z/

_______. Somos todos conservadores [?]. Disponível em: https://devaneiosfilosoficos.com/2018/03/11/somos-todos-conservadores/

_______. “Take me to Church” | Não é apenas uma música!. Disponível em: https://devaneiosfilosoficos.com/2018/06/10/take-me-to-church-nao-e-apenas-uma-musica/