CITAÇÕES & CITADORES

[ Citar ou não Citar? ]

 

Ao longo da história humana, muitas mudanças ocorram no que diz respeito à transmissão de informação e conhecimento (considero aqui que sejam bem diferentes entre si). Passamos de ágrafos, comunicando-nos por gestos, sons e algumas imagens, a escritores e intérpretes de diferentes línguas e linguagens. No entanto, na hora de as pessoas passarem seus conhecimentos adiante e, também, absorverem o conhecimento alheio, existe um fator que me preocupa e não é de hoje. As pessoas estão sendo “iludidas”, por vontade própria, acreditando que sabe mais quem cita mais. Elas parecem acreditar no terrível sofisma de que sabe mais APENAS aquele(a) que leu e decorou frases de impacto (e as usam sem medida). [para mim]Isso não é verdade. É possível ser uma pessoa dotada de conhecimentos, reproduzi-los e compartilhá-los sem necessariamente citar nomes e mais nomes. Podemos sim criar nossas imagens rupestres baseados nos nossos anseios, ou escrever o que acreditamos sem que para isso haja uma âncora literária.

Acho importante que recorramos a autores passados a fim de construirmos uma argumentação mais sólida. Não há nenhum problema nisso. Ademais, citar autores não é um erro. Acrescentar ao nosso pensamento ideias oriundas de outros pensadores mais experientes enriquece o nosso discurso e, por vezes, solidifica o nosso argumento sobre algo. Faço isso sempre que considero ter aprendido algo. Mas o porquê de achar verdadeiro somente o discurso de quem assim o faz é o que eu não compreendo.

Será que nós, em pleno século 21, com tanta informação disponível na rede, estamos ficando com medo de expressar a nossa opinião baseada em nossas próprias experiências e por isso recorremos apenas aos fantasmas? As redes sociais mostram que na realidade não é bem assim. Muito pelo contrário, cada dia vemos pessoas dizendo o que lhes vem à mente sem nenhum esforço para filtrar o que é necessário ser dito ou não – no mínimo deveriam penar se o que dirão faz sentido. Essas pessoas simplesmente consideram-se especialistas em todos os assuntos e, a partir disso, dizem com “convicção”, tudo que “pensam”. Sem nenhuma raridade, citam frases ou pensamentos que ouviram por aí, e julgam que isso valida tudo. Afinal, para que refletir?

Observem que, considerando os parágrafos acima, pareço estar em contradição com minhas ideias. Uma hora digo não precisamos citar, outra, digo que a citação pode ser vazia ou ausente. Entretanto, o que quero é mostrar que não citar é bem diferente de dizer qualquer coisa que vem à mente na esperança (ou obrigação) de ser aceito; além disso, citar por citar também não ajuda e não é necessariamente uma demonstração de saber. Quero dizer, ainda, que, antes de citarmos a alguém ou a alguma ideia, devemos ser capazes de ter nossas próprias ideias – devemos ser capazes de enxergarmo-nos como alguém. E isso acontecerá apenas através de muito esforço e de uma intensa busca pela seletividade de nossos próprios aprendizados. Se não refletirmos sobre o que falamos, falaremos sempre em vão.

Falar vs Pensar

 

 Não acreditem em quem cita demais somente porque citam demais, também não acreditem em quem diz coisas belas e tocantes sem citar ninguém só porque falam coisas belas e tocantes. É preciso uma visão crítica de tudo que está à nossa volta. É importante treinarmos o nosso senso crítico nos diferentes campos. Ouça, avalie criticamente, compreenda, entenda, busque – se possível – a origem da informação e, então, absorva uma informação. Daí em diante ela poderá ser um conhecimento adquirido.

Para finalizar,

Eu suspeito de que muitas igrejas, inúmeras palestras motivacionais e boa parte dos chamados Coach utilizam a técnica da citação como uma espécie de validação do discurso – sem a qual jamais seriam ouvidos. Como assim “sem a qual jamais seriam ouvidos”? Sim, acredito que muitas pessoas têm firme a ideia de que citar muito é prova incontestável de conhecimento e sabedoria. Estas, por sua vez, amarram-se aqueles que citam por vício e camuflagem. Uma alimenta a outra, um ciclo sem fim, um Samsara  avaliado negativamente. Então, citar ou não citar? Depende do motivo. Se for para acrescentar conteúdo e conhecimento, SIM. Mas, se for para disfarçar um despreparo ou alimentar uma arrogância, JAMAIS! Seja um ouvinte sábio e um falante inteligente. A evolução da linguagem e da comunicação humana não parou, segue dinâmica e surpreendente, entretanto é preciso ficarmos atentos ao uso que certas pessoas fazem dela. Pense!

OBSERVAÇÕES: (1) não sou contra citações, pelo contrário, faço muito uso delas. Espero que compreendam bem o texto. A aplicação do penúltimo parágrafo é importante, inclusive, aqui neste Blog; (2) se você reparou bem, a imagem de apresentação desse post já é uma citação, ainda que indireta, de Sheakespeare.

 

 

 

Andreone Teles Medrado

Devaneios Filosóficos

 

#VocêJáParouParaPensar?

 

Imagem adaptada de: http://www.ilumne.com.br/ser-ou-nao-ser/