Houve um momento da história Ocidental [se este ainda não estiver presente sobre outras vestes] em que tudo era explicado pela Religião. Uma Religião específica, uma Igreja em especial. Igreja esta que, segundo alguns autores historiadores, não passava de máscaras para opressão e empoderamento das massas. Estou falando da Igreja Católica medieval. Justificava-se tudo a partir do que estava no alto. Não era bem o mundo das ideias, de Platão, mas uma tentativa de reproduzir tal filosofia. A grande menção da Trindade do Cristianismo (Pai, Filho e Espírito Santo) era mais que suficiente para justificar a forma de conduta dos mais ricos sobre os menos favorecidos. Havia os superiores de todos [o Clero] – aqueles que “dominavam” o conhecimento e o saber, simbolizando o Pai da Nação -, aqueles que, estando logo abaixo do Pai, “davam suas vidas” pelos demais, ou seja, os Nobres que detinham o exército e “sacrificavam-se” pelo povo [simbolizando o Filho] e, por fim, aqueles que faziam a vontade do Pai na Terra, os servos [simbolizando o Espírito Santo]. Nota-se então uma dinâmica cristalizada, um estamento cultural dogmatizado sob punições aos que declarassem alguma ideia contrária. A chamada heresia.
Nesse sentido, como você deve saber, é comum ouvir dizeres de que “algo que seja real e consistente permanece como tal, do contrário sofre corrosão” (adaptação de uma máxima Cristã). Pois bem. Houve um evento que colocou em questionamento o, até então, inabalável e incorruptível poder institucional da grande religião medieval. A falta de explicação diante de uma peste, a Peste Negra (séc. XIV), oriunda de uma expansão comercial, dizimou um terço da população europeia. Isso suscitou indagações que futuramente trouxeram fagulhas aos olhos da população. Quem a tudo explicava ficou sem respostas. Do ponto de vista político e social, é desastroso para uma instituição que dizia deter o poder e o saber não conseguir responder às dúvidas do seu povo. “Afinal, o que explicaria tanta morte?”. Obviamente que o Clero perdeu parte de sua legitimidade perante o povo. Daí começa uma grande história. Muita coisa aconteceu desde então. Se boas ou ruins, deixo para que vocês as avaliem. Mas a verdade é que muita coisa mudou. Pensamentos considerados ousados surgiram. O fim da idade média foi marcante; seus estouros ouvem-se ainda hoje nos diversos povoados deste mundo. O questionamento tomou forma e corres, o renascimento intelectual começa a rachar a casca do ovo. Está por eclodir a época das grandes descobertas. O mundo mudou desde então.
Infelizmente, não vejo que muitos aprenderam com os ocorridos. Continuam-se as cruzadas, continuam-se os Mordomos, os Reis e os Burgueses, cada um buscando o que os torna cada vez mais poderosos e possuidores do todo [que todo? A miserável avareza e o egoísmo desolador]. A peste bulbônica, desta vez sobre a forma psicológica, está dizimando centenas de mentes. Pensar e questionar não é mais uma necessidade, virou um fardo. Lançam-se no abismo, mas não querem olhar adiante e atravessar a ponte entre o “eu-animal” e o “eu-Humano”.
Observe na Imagem a propagação da Peste bulbônica na Europa do século XIV:
Fonte: https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=1811698
Dito isso, permita-me alguns questionamentos:
- Você já parou para pensar sobre a situação do nosso sistema social?
- Quem está no poder atualmente?
- Quem, hoje, serve de Igreja para responder a todas as dúvidas do povo, sem a qual a massa padece de “fome” (entenda-se “fome” por necessidade de autoafirmação)?
- [o mais curioso] Antes, a bactéria causadora da peste bulbônica (Yersinia pestis) era transmitida pela picada da pulga que parasitava o rato, por sua vez, transportados nos porões de navios mercantes. E hoje, em pleno período pós-moderno, quem atua nessa cadeia ocupando as posições do Rato, da pulga e da Yersínia? E quem, ou o que, representa os navios? Quem somos nós nesse ciclo?
São questionamentos muito interessantes. Tente respondê-los. Seria mais construtivo ainda se você deixasse suas ideias nos comentários. Estamos aqui para somar ideias e pontos de vistas, a sua opinião é importante! Vivemos um momento crítico, no qual as pessoas não estão preocupadas com o caminho que a nossa sociedade está seguindo. Tudo que fala do ser humano – enquanto agente de transformação positiva – é encarado como devaneios inúteis e perda de tempo. O que parece estar em alta é escolher o novo iPhone, comprar aquele tênis de marca, beber no “barzinho mais famoso da cidade”, postar fotos que digam de nós as maravilhas que nunca fomos. Isso é fantasia, isso é prejudicial. Pensar sobre essas questões pode ter-se tornado um estafamento, mas a verdade é que pensar é necessário, sempre! Após o pensamento, a ação é indispensável. Do contrário, a peste continuará fazendo suas vítimas por muito mais tempo.
SAIBA +
- Curiosidades históricas sobre a Peste bulbônica? Acesse:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Peste_negra
Imagem da capa:
O Triunfo da Morte, de Pieter Bruegel (1562), inspirado na peste bulbônica do século XIV. A obra encontra-se exposta no Museu do Prado, em Madri – Espanha.
Andreone Teles Medrado
(Devaneios Filosóficos)
#VocêJáParouParaPensar?