Agregar e Segregar

 

De repente, um insight…


Ouço muitas pessoas discursando com muita pompa e veemência de tal forma a transmitirem a ideia de que o “objetivo” da humanidade sempre foi a união. União entre determinados atos, culturas e/ou fatos. Essas pessoas ainda afirmam a diversidade cultural e ideológica como necessárias para a união e estabilidade dentro do convívio social. Como se fosse uma ideia de agregação. Levantam cartazes em prol do povo, escrevem textos “generosos” em prol do povo e dizem que estão dispostas a empregarem todos os seus esforços, também em prol do povo. Pois bem!

Sem excessivos esforços, não precisando sequer dar um passo ao encontro das supostas ideias agregadoras, vejo aqueles que outrora defendiam a igualdade começarem discursos de repressão e repreensão (que eu paradoxalmente chamo de discurso da agregação segregadora). Nesses discursos, ao invés de lutar pela implementação de um ideal conjunto, ocorre exatamente o oposto; imaginando defenderem as causas da minoria, talvez por inversão de valores, acabam por segregarem um novo pensamento. [vamos a mais um daqueles exemplos hipotéticos] É como se eu passasse a defender a liberdade de expressão dentro de um editora jornalística, pois considero que é importante abrir espaço no jornal para falar sobre assuntos mais abrangentes – sugerindo, então, o tema filosofia indiana e, em seguida, me revoltasse contra todos aqueles que não falam sobre isso. Mais: luto por espaços cada vez maiores, mesmo que seja preciso eliminar outros assuntos pré-existentes. Ou seja, quem tanto defendia a ampliação dos temas, para ser mais inclusivo e democrático, acaba por segregá-los ainda mais, elegendo apenas um como bom e útil (filosofia indiana), enquanto surge o conjunto dos desnecessários (todos os outros temas). As coisas inverteram-se, entende-me?

Nesse sentido, se antes pensavam que “você era preconceituoso ou conservador, pois acreditava que tudo fora de ‘sua caixa‘ era inferior ou desnecessário”, hoje dizem “não seja estúpido, até quando ficará dentro dessa caixa insignificante? Venha para cá, a nossa, que é a melhor, sempre cabe mais um“. Percebem o ocorrido? Criou-se um discurso de mesmo sentido, mas de direção contrária. O problema é que não bastassem direções contrárias, elas convergem para um mesmo ponto: o confronto. Sim! se você pensar em um vetor na física, eles podem estar sobre um mesmo eixo e quando se aproximam em direção contrária podem se chocar. As ideias não se mesclam, chocam-se. Não produzem nada, antes destroem-se. Vetor resultante = vetor nulo.

Agora, diga-me: você já parou para pensar em quantos movimentos surgiram nos últimos dez anos? Digo, movimentos que defendem determinadas causas, mas também podem ser aqueles que ressurgiram com mais força. O Feminismo, a luta contra o racismo, a abertura do debate político consciente, a luta pela liberdade de expressão e a reafirmação da escolha religiosa, além da identidade de gênero e orientação sexual, entre outros exemplos, servem para mostrar o que estou dizendo. Todos eles são de extrema importância para a sociedade. Mas não devem ser tradados sem cuidado.

É muito comum, principalmente nos principais meios de comunicação utilizados pela população brasileira (que infelizmente predomina sendo a televisão e as redes sociais – de acordo com a Pesquisa Brasileira de Mídia de 2016), a presença de um discurso de ódio, que diz defender uma causa social – cujo objetivo deveria ser a harmonia -, mas que parece buscar a separatividade e provoca o caos.

 


 

Fazendo uma breve comparação… [os detalhes serão abordados em uma vida futura…]

Meus amigos sempre estranham quando eu digo que sou feminista. “Mas você é homem!“, dizem espantados. Acham estranho a ideia de um homem se declarar feminista. Acho a reação deles mais estranha ainda! Acredito que é importante lutar junto das mulheres pelas mulheres e pela vida! O ponto é que, algumas pessoas ditas feministas acabam por não compreender ao certo o que significa ser feminista e tratam com desdém e ódio aquelas mulheres que – sejam feministas ou não – decidem se casar, ter filhos, etc…, ademais, a maioria dos homens, parece ter um bloqueio mental, acreditando que as mulheres querem dominar o mundo…. O que tem a ver uma coisa com a outra? Ser feminista não é odiar a presença masculina – até porque, feminismo nunca foi oposto de machismo. Machismo é machismo, e o seu oposto chama-se inteligência! Você é um feminista de verdade? Se eu estiver errado, por favor, diga-me em que posso melhorar. Não quero ser mais um cego que luta por algo que desconhece. O que acontece quando lutamos errado? É simples: ao invés de agregar, segregamos.

O mesmo acontece quando falamos de racismo. Assim como sobre feminismo, o assunto iria longe. Por isso, resumirei dizendo que não se luta por uma causa com ódio e estupidez. Dessa empreitada sairá apenas um novo dominador e um novo dominado. Lutar pelas causas é um dever de todos! Ter consciência de que isso deve ser feito com lucidez e coerência, mais ainda! Eu sei que a vontade de tomar o açoite da mão de quem nos castiga e açoitá-lo dez vezes mais pode até surgir como um desejo em algumas mentes mais frágeis, é o que sempre me dizem, mas será que estaríamos vencendo um mal ou criando outro?

Falar sobre escravidão e suas consequências no Brasil é algo muito profundo e, sem dúvidas, muito necessário. Não falarei disso aqui, pois merece um post exclusivo (se um dia eu tiver competência para escrevê-lo o farei). Mas seja quem for que tomar a fala, que não a desperdice sendo um novo dragão, o qual cuspirá fogo pelas ventas. Sejamos diferentes! Se a ideia é agregar, não é segregando que mudaremos o cenário.

 


 

Por fim…

Um escritor norte-americano do século XX, Robert Frost, dizia estas palavras: “as melhores coisas e as melhores pessoas nascem da diferença. Sou contra uma sociedade homogênea porque eu quero que a nata se eleve“. Paralelamente, um “amigo” de área, um biólogo do século XX, François Jacob, dizia que “a igualdade foi criada porque os seres humanos não são idênticos“. Ou seja, as nossas diferenças sempre existiram (e sempre existirão), saber lidar com elas pode significar um passo no sentido do entendimento. E, valendo-me de uma ressalva, sociedade homogênea é utilizada no sentido de identidade e ideias –  a tentativa de padronizar o comportamento humano não funciona.

Espero pelo dia em que as pessoas olhem e enxerguem, ouçam, mas também escutem.

 

Uma pergunta:

Quando você expõe as suas ideias e crenças para as pessoas, você está – de fato –  agregando ou segregando?

É sempre bom fazer essa reflexão!

 

#VocêJáParouParaPensar?

 

[ NOTA: Escrevi esse texto em 07 de Agosto de 2016. Hoje resolvi revê-lo. Você pode encontrar o original aqui. Acho interessante perceber como o pensamento vai se modificando e sendo incrementado ao longo dos anos.]

 

Andreone T. Medrado
Devaneios Filosóficos