NOTA INTRODUTÓRIA: As publicações aqui do Blog não são necessariamente dependentes entre si, ou seja, elas podem ser lidas de forma aleatória. Não obstante, quando vejo que um assunto já foi trabalhado em publicações anteriores, prefiro diminuir as repetições e deixar apenas uma sugestão de leitura – caso você deseje compreender determinado tema com mais profundidade. É o caso deste texto. E, por isso, posso assegurar-te uma coisa: se você ler/leu o post chamado Somos movidos por comparações, a presente publicação será mais interessante e produtiva. Seja como você preferir, vamos ao ponto.
#VocêJáParouParaPensar que dia após dia em nossa existência dentro da sociedade somos “estimulados” a buscar por condições melhores, seguindo, na maioria das vezes, padrões estabelecidos por uma minoria que dá forma ao sistema? Falando mais claramente: de modo geral, somos levados a acreditar que, porque um ou outro ser humano realizou uma ação incrível, logo, todos somos capazes – quando não, obrigados – de fazer o mesmo. Mas por trás disso será que não existe a possibilidade de alguma reflexão mais profunda?
Vários são os campos de nossa vida que poderiam ser citados como exemplo. Trarei apenas alguns, a partir dos quais você poderá expandir o seu pensamento e o seu olhar sobre essa temática.
Estudar para o vestibular no Brasil
Se você é um estudante pré-vestibular, que está se preparando para realizar alguma prova ao final do ano, certamente que já notou o quão difícil é esse processo. Mesmo assim, vez ou outra, surgem noticiários do tipo “Estudante negra, moradora de comunidade, que passava mais de 14 horas por dia estudando, é aprovada em 4 universidades para Medicina“, ou, alguém pode até te dizer que “para ser aprovado, você precisa, pelo menos, fazer igual àquele filho da coletora que estudava com os livros que a mãe achava na rua; ele passava 15 horas diárias – de segunda à segunda – estudando. Ele foi aprovado em uma universidade federal“. Pode ser que você considere isso como uma demonstração de garra, determinação e superação por parte do estudante. E de fato o é! Entretanto, a questão aqui é outra. Pessoas que conquistam vagas dessa maneira ainda são a exceção no nosso país. Não apenas porque estudam mais de 12 horas por dia para serem aprovados em um processo seletivo (muitos fazem isso, inclusive e infelizmente eu), mas, porque, ademais, enfrentam um desafio enorme que é ser aprovado no vestibular, sob a custa de uma desigualdade imensa.
Enquanto muitos acham que uma situação como essa é motivacional, eu a vejo como uma declaração de calamidade. Aceitar como normal que seja necessário fazer mais de dois anos de cursinho pré-vestibular nessas condições (após completar um ensino fundamental e médio – que foram, no mínimo, 11 anos de estudos), não deveria soar como algo bonito e nobre. Sem dizer que nem todos têm condições financeiras para arcar com os estudos do tipo pré-vestibular. A internet é rica em informações e vídeo-aulas, mas não atinge todos os estudantes – muitos vivem em condições abaixo do mínimo necessário, financeira e psicologicamente. A verdade é que, quando aprovado, esse estudante que vive em situações sociais precárias, com péssimas escolas e sem qualidade de ensino, sem acesso livre ao conhecimento e lançados à margem da sociedade ainda é considerado simplesmente como um exemplo nacional. “Se ele venceu, você vencerá” – dizem.
Repito: na minha opinião, a vitória desses estudantes, embora digna de aplausos pelos esforços deles, serve sobretudo para denunciar o tamanho da desigualdade social na qual vivemos. O mais aceitável seria que o ensino público fosse capaz de preparar todo e qualquer estudante para o mercado de trabalho e, nesse contexto, para poderem prestar um vestibular com o mínimo de segurança – ou conteúdo. Infelizmente, acontece exatamente o contrário. Se você não estudou desde sempre em uma escola particular de alto nível, ou em uma escola pública renomada, as suas chances de encontrar o seu nome na lista de aprovados no vestibular caem drasticamente caso não faça sacrifícios (literalmente falando). Imagine se você for negro(a), pobre e morador(a) de subúrbios e comunidades.
Você consegue perceber o que está acontecendo? A mídia busca transformar essa situação em um motivo para dizer que somos capazes, que também podemos conquistar o nosso lugar ao sol, basta para isso um esforço um pouco maior. “É meritocracia que fala?” Nós, por outro lado, compramos essa ideia e ainda pedimos que ela seja embrulhada para viajem – como se não bastasse, alegremente distribuímos esse embrulho a todos que estejam desanimados. Porém, meus leitores e minhas leitoras, meritocracia não existe na prática – e essa ideia por si só é um absurdo mais que ofensivo e humilhante.
Isso não está certo!
Como eu disse, existem muitos e muitos exemplos que transformam a exceção em um troféu de ouro. Contudo, acho válido reafirmar que eu valorizo muito a determinação de cada uma dessas pessoas que vencem os obstáculos da vida, superam adversidades terríveis e conseguem alcançar seus objetivos. Isso é realmente um grito de coragem, uma atitude praticamente heroica. O que me incomoda nesse cenário manipulado é o fato de [os meios de comunicação] usarem dessas superações para mascarar a real distância entre as classes sociais e, de carona, a população acreditar na ideia e vivê-la sem questionamentos.
Será mesmo que para negros, mulheres e pobres ascenderem socialmente é necessário sempre esse ato quase épico de superação? Teremos que escrever uma Ilíada e uma Odisseia para cada ser humano desfavorecido socialmente que deseje apenas uma qualidade de vida dita como direito de todos? Estou falando de um ensino de qualidade, uma moradia, uma alimentação [diária com direito a pelo menos 3 refeições nutritivas], um acesso digno à informação, um emprego humano, um direito de fala e de expressão com liberdade! Será que alguma dessas “exigências” soa como exagerada da minha parte?
Existe uma desigualdade social que não se esconde nas brumas; pelo contrário, tão presente e pontual quanto a “Aurora de dedos róseos“, ela surge todas as manhãs anunciando que os extremos sociais estão devidamente preenchidos: de um lado, meia dúzia de afortunados mal intencionados que sabem exatamente aonde querem chegar; do outro, milhões de humanos que “acreditam” no futuro, mas que só vivem o “pronto e o instantâneo” – depois, desligam a TV e o celular e vão dormir. Mas há também uma parcela que se levanta para protestos, e não é de hoje!
Mais exemplos?
Nas imagens a seguir você pode conferir como são tratadas as conquistas dos desprovidos de privilégios. As figuras h e i são muito interessantes, uma vez que deixam bem clara essa ideia de “premiação” e “motivação”. Para te incentivarem, ainda destacam que “o sucesso vem com derrotas“. Convenhamos, numa sociedade cujo sucesso pertence à minoria, dizer que derrotas podem representar esperanças, é uma jogada bem articulada. E que tem convencido a milhões em todo o mundo.
Clique nas respectivas letras para acessar a cada reportagem citada nas imagens:
a) / b) / c) / d) / e) / f) / g) / h) / i)
Não se iluda com os pontos fora da curva
Parece que buscar por uma qualidade de vida é considerado um ponto fora da curva. Esses pontos não podem nos encantar e parar por aí; eles devem incandescer em nós o desejo pela mudança de posicionamento social. Concordo contigo, caso me diga que mudar o cenário político-social seja algo realmente complexo e que exigirá alguns séculos de intenso trabalho; concordo também se você acredita que a formação do Brasil é impregnada de atitudes elitistas e segregadoras e, obviamente, racistas – isso é histórico, e suas raízes são amargas e profundas. Ainda assim, o que faremos? Ficaremos somente na revolta moderna – aquela que só ocorre nas redes sociais e que dura um só um instante? Não acho que seja o suficiente. É preciso união e articulação, para ontem!
Sugiro, porém, também uma mudança de comportamento individual. Nós temos o poder de irradiar aqueles que passam por nós – seja com bons exemplos, seja com recomendações sinceras e transformadoras. Ao invés de seguirmos modas das novelas e dos Reality show, por que não optamos pelos exemplos que constroem humanos mais empáticos? A “””má notícia“”” é que, para isso, torna-se indispensável o ato de pensar! Não existe outro caminho senão esse. E, para minha tristeza, pouquíssimos Homo sapiens sentem a necessidade de pensar. Preferem uma ideia pronta, macia e confortável – a alienação parece servir de travesseiro para aquelas noites prolongadas. E, ao que parece, a nossa sociedade gosta de viver à noite, acendendo uma fogueira de ódio aqui, outra de comodismo ali, e assim seguem-se as horas do incansável relógio da história.
Alguns insistem em chamar o período compreendido entre o século V e o século XV de idade das trevas. Não acho esse nome apropriado historicamente. Entretanto, do ponto de vista social, considero o comportamento da massa bem obscuro; tenho minhas dúvidas se a idade das luzes realmente já chegaram. “O homem desenvolveu desde a biga romana até naves espaciais, mas o condutor não se alterou em nada“. E você, está a fim de fazer a diferença?
Andreone T. Medrado
Devaneios Filosóficos
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Olá meu amigo gostaria de saber com você se consigo também participar de uma reflexão enviando um texto? Aguardo seu retorno, e-mail: sheila.linguistica@hotmail.com
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Estes que dominam e jogam as cartas, os manipuladores das mídias, os que trabalham para a sociedade do espetáculo, estes que “lutam” contra tudo aquilo que na verdade eles são, se utilizam destes exemplos, se é que são reais para continuar com suas políticas públicas educacionais nojentas, para continuarem promovendo a desigualdade entre o que pode pagar por melhores estudos e pelos que não podem, e ainda mais, precisam engolir tudo que lhes é enfiado goela abaixo, sei que o artigo não trata deste tema mas acredito ser importante incluir cotas nesta reflexão, ao criar cotas você cria um preconceito ao afirmar que aquela pessoa por ser pobre e negra só terá capacidade de entrar em uma faculdade se deixarem ela passar, ai o pobre e branco tira mais pontos e não entra e o negro com menos pontos entra devido a cota, e criamos uma guerra entre estes dois, enquanto os donos da bagunça estão muito ocupados com suas políticas e seus interesses pessoais, a que ponto chegamos onde você tem que se matar de estudar para passar em um faculdade o que deveria ser normal e ao conseguir você é colocado em um pedestal por ter se matado horas e horas, ficado sem dormir, movido muitas vezes por estresse, por ansiedade, danificando toda estrutura mental, e o que não falamos também é dos filhos de papai que estudam nas melhores escolas passam nas faculdades e muitas vezes são analfabetos funcionais, conheço milhares de exemplos, por fim temos que colocar sim um fim a este espetáculo que a sociedade gosta de fazer quando isso acontece, deve sim ser dado o valor, mas ai alimentamos uma outra mentira, a meritocracia, mas isso fica pra outra conversa.
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