Muitas mentes humanas acham que pessoas ateias são seres não-humanos, que existem por definição para corromper a alma de religiosos devotos. Alguns humanoides até professam coisas como “todo ateu é cético para tudo na vida, não crê em nada e têm uma vida miseravelmente sem sentido“. Mas será mesmo verdade? Das coisas que dizem com frequência, uma de fato é muito justa: dizem que por ser ateu não irei ao céu – e quanto a isso não há nem o que discutir, têm toda razão! Entretanto, a injustiça ocorre quando pensam que um ateu e uma ateia, por não acreditarem em deuses, simplesmente desconsideram toda e qualquer manifestação cultural – mas essa afirmação é um tremendo absurdo. Existe ateísmo entre Biólogos, Filósofos, Sociólogos, Cientistas da Religião, Historiadores, etc. Ateu ou Ateia também é gente, também estuda, ama, dá risadas e se maravilha com a vida – simples assim.
Falando de mim, gosto de assistir a vídeos sobre danças de origem africana; acho incríveis os rituais que certas tribos realizam. Em especial, uma que me chama muito a atenção pela beleza e sincronicidade é a dança de Zaouli de Manfla. Mas também gosto daqueles estilos com influências mais recentes (esta, por exemplo). Dança é uma forma de manifestação humana que conta histórias. Você sabia disso? Creio que sim.
Além da dança, outras artes me impressionam. Não raramente [e principalmente lá no meu perfil pessoal no Instagram] eu publico fotos de Igrejas católicas – desde as pequenas construções às imponentes Catedrais. Dentro da cultura ocidental, gosto de muitas músicas do período Barroco, que receberam fortes influências Cristã (veja aqui alguns compositores do período) – e as ouço quase que diariamente [neste momento, por exemplo, estou ouvindo obras de Vivaldi]. E o que dizer das demais obras de arte, como esculturas e artes plásticas? São impressionantes! (só uma amostra delas: acesse Sculptures and Art e Rijks Museum). Mas são impressionantes por si – particularmente, não sinto a necessidade de nada transcendente para que isso possa me fazer gostar do que vejo.
Para tornar as coisas ainda mais ecléticas, vale dizer que gosto de mitologias, sobretudo a Grega e a Egípcia (uma ótima sugestão de várias playlists é: Foca na História). Acho muito interessante a maneira como tradições da antiguidade tentavam compreender o mundo e a origem da humanidade a partir de seus simbolismos – e não perdiam sequer uma oportunidade para serem criativas. Dá, inclusive, para encaixar a mitologia bíblica aqui, principalmente por ela dividir muitas narrativas em comum com a mitologia grega. De todo modo, gosto de perceber como as civilizações tentaram conceber de forma conceitual e, portanto, abstrata a vida e a existência da humanidade.
Dito isso, acredito que ser Ateu me dá essa condição de poder ver, sentir e namorar cada forma de manifestação cultural sem que exista um observador interno fofoqueiro me dizendo que “isso ou aquilo é do demônio e que serei punido se não parar“. Em linhas gerais, tudo é da humanidade, toda essa gama cultural criativa foi feita por seres humanos, nada disso é sobrenatural. Ainda que a abstração e a criação de entidades pertençam a algo não físico, os neurônios que pensaram tudo isso são constituídos principalmente de carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio, fosfato e enxofre (o famoso CHONPS, da química orgânica). Portanto, eles são físicos.
Poder observar e analisar cada um desses detalhes é simplesmente maravilhoso. E esse maravilhamento, no meu caso, se dá pelo fato de que, conhecendo e entendendo as manifestações práticas dos seres humanos, eu também tenho a oportunidade de conhecer mais de mim e de nós mesmos. Somos também nossos rastros experienciais ao longo do nosso curto tempo de vida e, sem exageros, digo que os rastros dos nossos antepassados também constituem a nossa história de vida.
Quando ouço músicas religiosas, quando entro em templos cristãos, quando leio a Bíblia, trechos do Talmude ou do Corão ou quando fico parado diante de alguma obra de arte que remonte aspectos culturais distintos, não estou me decidindo sobre qual caminho seguir; não estou em dúvidas de para aonde direcionarei a minha crença. Pelo contrário, cada vez que faço essas coisas fico mais certo de que não há a menor possibilidade de eu suscitar a hipótese de pertencer à uma crença religiosa. Disse e repito: tais observações servem para que eu compreenda a nossa andança desorientada na Terra ao longo do tempo; e essa graça me basta.
Por fim, vale reforçar a fala de que é possível ver e observar as coisas dessa vida sem nenhum alinhamento religioso – eu diria, inclusive, que isso é até mais justo e mais saudável. Ser Ateu não é ser pervertido eticamente, assim como não é nem uma qualidade nem um defeito. Faça um teste [caso queira!]: tente enxergar a vida do jeito que ela é, sem enfeites nem deturpações – caso sobreviva, verá que as coisas passam a fazer ainda mais sentido quando nos deparamos mais como elas são do que como desejaríamos que elas fossem. Mas, claro, sempre cabe um adendo: o real e o fantasioso são relativos; e eu nunca terei condições de afirmar com propriedade sobre o que é o que. Por isso deixo apenas meus devaneios filosóficos para você. É apenas o ponto de vista de um ateu questionador. #VocêJáParouParaPensar?
Andreone T. Medrado
Devaneios Filosóficos
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NOTA: a imagem do mapa, utilizada na produção da capa dessa publicação foi obtida aqui.
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