Como vão suas expectativas?

Por que será que muitas pessoas dizem que não se deve criar expectativas com nada? Isso de fato é possível? Algumas ainda dizem que se você não criar expectativas você também não sofrerá com elas. E, neste caso, nem é uma mentira descabida. A falha dessa afirmação, que por consequência a inutiliza, é o fato de ser impossível não criar expectativas (é claro, isso considerando que você mantém estáveis e biologicamente “normais” as suas condições neurofisiológicas).

Eu não gosto muito de fazer afirmações categóricas, elas podem levar a erros na maioria dos casos. No entanto, arriscar-me-ei; tente você aí: faça o esforço irracional de não criar expectativas por um dia, que seja. Ao final desse dia eu te direi que a expectação de não criar expectativas é, obviamente, uma expectativa em si – saber que o dia acabará e esperar conscientemente ou não por isso é uma expectativa. Portanto, para as pessoas mais resistentes e que se sentem donas do autocontrole mental, talvez seja frustante dizer que o cérebro humano evoluiu com essa capacidade de fantasiarmos a vida, inventarmos conceitos que nos desenhem com mais clareza a realidade e, por assim dizer, de projetarmos e esperarmos um futuro – aliás, ‘futuro‘ é uma palavra bem esvaziada nesse contexto, mas que paradoxalmente é preenchida por todas as nossas expectativas, desde as mais viscerais até as mais inúteis.

Algumas pessoas acreditam em Deus e na narrativa de que um dia, na eternidade, estarão sob a luz do Cordeiro; outras (a maioria) sai cedo de suas casas para o trabalho durante um período estipulado de dias cujo final representa o recebimento de um salário (que é recompensa); estudantes fazem provas com o intuito de serem aprovados, e esperam pelo resultado; colocamos nossos smartphones para despertar todas as manhãs, marcamos compromissos, fazemos e guardamos promessas, alguns esperam pelo final de semana ou pela folga, etc. Se tudo isso não envolve expectativas, o que está havendo então?

Criar expectativas não deveria ser o problema central, que causa tanto prejuízo. Rejeitá-las, embora seja uma tentativa custosa, é também uma ação ilusória. O mais adequado – e aqui vai uma sugestão pessoal – talvez seja compreender quais são os seus anseios e o quanto suas ações podem influenciar no desenvolvimento desses projetos. Expectativas são inevitáveis (e aqui vai mais uma generalização), fazê-las não depende diretamente da sua vontade. Arrisco dizer que algumas expectativas nem são nossas, mas as compramos como se houvessem nascido de nosso âmago – alguns percebem isso em algum momento da vida, outros nascem, crescem e morrem sem essa noção; mas tudo bem. Não raramente criamos expectativas nos e para os que nos cercam – esperamos demais dos e para os nossos próximos. Qual a lógica disso? #VocêJáParouParaPensar?

Dessa forma, já que – segundo eu mesmo – expectativas não são evitáveis, tentar criar menos expectativas desnecessárias (caso elas existam) pode ser interessante e, uma vez criadas qualquer que sejam, entenda-as e procure lidar melhor com elas. Entenda a sua ansiedade, os seus medos e traumas; e, é claro, se precisar procure a ajuda de um profissional (terapeuta, psicólogo, psiquiatra – Mas atenção: Coach não é profissional, caia fora disso).

Às vezes, tendo a acreditar (ou suspeitar de) que quando alguém diz não criar expectativas  para nada na vida, na realidade o que se faz é um tipo de autossabotagem: finge-se estar tudo bem – ao menos aparentemente – e forja-se um conforto ao supor que sempre “está tudo bem“; isso distancia o “desejo da coisa” da “coisa” propriamente dita. Dito em outras palavras: pensa-se que não existem expectativas a fim de sofrer menos, mas na verdade o sofrimento só não é posto no quadro de alertas – ele não fica psicologicamente visível. Mas querer sofrer menos já é uma expectativa.

Por fim, cito uma frase de um conhecido que diz “crie uma capivara, mas não crie expectativas“. E cabem aqui duas notas: (I) se você criar uma capivara, necessariamente desejará que ela sobreviva dia após dia (do contrário, é melhor que não a crie) – também, você desejará que a saúde dela seja mantida boa e que ela tenha o mínimo de conforto necessário possível; (II) como você acaba de ver, criar uma capivara é ‘per se’ uma expectativa. Então, mais uma vez, não sofra por criar expectativas; eduque-se para tentar lidar com elas.

Como vão suas expectativas?

vjppp

 

Andreone T. Medrado
Devaneios Filosóficos

 

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NOTA: a imagem utilizada para compor a capa dessa publicação foi obtida aqui.