É impressionante como até hoje algumas pessoas estranham o fato de outras questionarem um comentário que possa soar como preconceituoso – independentemente desse ser ou não preconceituoso. Porém, o mais impressionante, talvez, seja eu ainda achar isso impressionante.
Vivemos na era da informação, não há como negar. Apesar disso, com tanto conteúdo e com tanta “novidade” circulando entre os indivíduos, parece mesmo que somos pessoas cada vez mais desinformadas, ou, quem sabe, desatentas por opção. Não sei se por comodismo – já que tudo está aí, na ponta dos dedos dos indivíduos conectados -, ou se por falta de querer entender melhor as coisas, já que isso inevitavelmente coloca em risco questionar a zona de conforto, cada vez que algo novo se apresenta estamos ali, resistindo bravamente. Seja como for, curiosamente isso ainda me impressiona.
Dessa vez, então, uma reflexão bem rápida diz respeito a essa rejeição primária ao que se impõe sobre nossos hábitos. Talvez seja o momento de tentarmos honestamente não julgar [nem condenar, rejeitar, desprezar…] comentários logo que eles aparecem – classificando-os como mimimi – que é o mais observado. Dizer “Antes que você arme suas asas, …“ a alguém que te questiona sobre algo é uma espécie de mecanismo de defesa, mas que se defende de quê? Seria uma defesa contra a ameaça de uma rachadura no privilégio? [Fica aqui um convite: leia este texto] Seria uma defesa contra o medo de poder estar errado(a)? Talvez! Certo é que existem muitas outras maneiras de se defender de tudo isso, e elas são colocadas em prática diariamente. Arrisco dizer, inclusive, que até entendo quem lança mão dessas estratégias autodefensivas. Para quem viveu [ou ainda vive] sem perceber a desigualdade – social, racial, de gênero, etc. – ou sem senti-la sobre e sob a própria existência, talvez estranhe imediatamente um questionamento do tipo “Ah, mas isso não é preconceituoso?“, “Isso não é racismo?“, “Aquilo não é machismo?“, “Isso que você está falando não é homofóbico?“. E, embora eu diga que entendo, jamais direi que defendo e que acho que deva ser assim. Qualquer comportamento pode ser passivo de uma explicação, mas nem todos são justificáveis.
Mas, não caia no conto do vigário. É preciso [e é possível] olhar para a outra parte – aquela de “asas armadas”, a do “mimimi” – que por se ver constantemente sob tiroteios verbais (quando não físicos mesmo) acabam também criando mecanismos de defesa – na minha visão, muito mais legítimos, ou urgentes, que os dos privilegiados. O novo sempre nos causará desconforto, isso é natural, é animal, é humano. Mas permanecer nesse desconforto para sempre pode ser inclusive uma opção.
Portanto, vamos combinar pelo menos duas coisas? A primeira delas é: apesar de causar desconfortos ser questionado(a) sobre algo que você nunca parou para pensar, tente parar para pensar. Quem te questiona pode ter razão e pode realmente estar percebendo algum tipo de preconceito na sua fala, e que você ainda não percebeu – mas que pode passar a percebê-lo. A segunda coisa é talvez ainda mais simples [ou não]: deixemos as pessoas pretas dizerem o que é racismo; as mulheres dizerem o que é machismo e os LGBTs, o que é homofobia.
Se asas devem ser armadas, que sejam aquelas que nos levarão para longe do comportamento preconceituoso. Preconceito, não! Respeito, sim!
Andreone T. Medrado
Devaneios Filosóficos
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NOTA: a imagem utilizada para compor a capa dessa publicação foi obtida aqui.