Uma constatação é proeminente até que se prove o contrário: não sabemos o que queremos! Somos seres em desamparo que se iludem em se amparar sabe-se lá em que(m). Somos animais insatisfeitos, inseguros, confusos e aturdidos. O nosso senso de responsabilidade está desde sempre desajustado e inutilizado por nossa própria falta de direcionamento – a nossa habilidade de criar ferramentas geralmente excede, e muito, a nossa sensatez em utilizá-las. Somos irresponsáveis com praticamente tudo. Não respeitamos o meio ambiente, os recursos naturais, os espaços de cada indivíduo nem o que estes supostamente possam desejar. Tratamos os animais não-humanos como objetos cuja função é a de nos servir como fonte de realização de prazeres – desvalorizamos quase por completo, e sempre seletivamente, suas subjetividades. Não sei ao certo se damos o devido valor ao sofrimento de qualquer que seja o ser vivo, inclusive dos humanos.

Somos animais medíocres, mesquinhos, insaciáveis, inteligentes, corajosos, criativos, despretensiosos, unidos, segregados, calculistas, resilientes e inconsequentes. Contudo não aceitamos todos esses rótulos da mesma maneira – rejeitamos cada um dos quais nos irrita com um argumento que se constrói e se destrói a cada era, e que a cada período histórico se modifica. Adoramos deuses mais por desejarmos ser iguais a eles do que pelo que eles realmente possam significar. Na incapacidade de uma realização plena de nossos desejos no momento, desejamos a imortalidade, a eternidade – desejamos nós mesmos nos tornar deuses. Nossa insatisfação é crônica e preocupante. E, assim como disse Yuval N. Harari, “existe algo mais perigoso do que deuses insatisfeitos e irresponsáveis que não sabem o que querem?”.

Talvez – e aqui não afirmo com nenhuma segurança, nem falo por todes – queiramos mudar essa cina. A questão é: como?

Esse é um fragmento adaptado do texto Um ensaio sobre a Humanização.
Leia o texto na íntegra aqui.

 

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vjppp

 

Andreone T. Medrado
Devaneios Filosóficos

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NOTA: A imagem utilizada para compôr essa publicação foi obtida aqui.