Agitado, mas nem sempre;
calmo, mas nem tanto;
às vezes, preto, branco, amarelo, marrom, dourado,
mas na realidade nunca transparente
– a cor depende do contexto de quem o vê –
não só do que ele é feito propriamente.
Foi assim, foi visto de longe e tido por misterioso;
nunca conseguiram abraçá-lo por completo,
algumas criaturas passaram por suas margens,
sentiram o que chamam de sua força, seu cheiro e seu peso,
mas nunca souberam dele em totalidade;
não necessariamente sabem do que ele é feito de verdade;
mergulham profundamente na ilusão do conhecimento,
dão braçadas desnecessárias para manterem-se na superfície,
exigem-lhe que seja constante, ou ao menos
não tão invariante;
não sei se se importam com o que ele é feito.
Ele está ali [?] – dizem -,
ondulante,
tempestuoso,
seguro, mas perigoso;
é como se fosse feito para obedecer,
mas a orla da praia não o detém,
seu diálogo com a lua é fervoroso,
e às vezes se exalta e sobe,
mas também há quando se recolhe e desce;
é como se pudesse se especular do que ele é feito.
De que é feito o mar?
Mas que é o mar senão um conceito?
Que faz ele senão coisa alguma?
Quem disse que ele existiu para algo?
Quem saiu dizendo que foi criado?
Até parece que podem deduzir do que ele é feito.
Mas não! Não podem deduzi-lo honestamente!
Ele não existe!
Convença o mar de que ele é mar!
Diga-lhe algo, e será você a coisa alucinada;
inventa-se um montão de ideias fugidias,
inverte-se um sentido sem sentido algum, apenas manias,
espera-se dolorosamente para que tais ideias deem forma ao pensamento,
sofre-se quando elas não respondem aos anseios de quem as forja,
corre-se ao encontro de outras novas,
criam-se centenas de pensamentos que tentam
– mas não conseguem muito bem –
conhecer tudo o tempo todo.
Pensa sobre o próprio pensamento de que é composto o ato de pensar.
E por que o chamar de mar?
Mas, diga-me se puder,
como entender o pensamento
sem saber antes do que ele é feito?
basta que vá a[o]mar.
Quando deixaremos de chamar de mar as coisas pelo que desejamos que elas sejam?
Se bem que, se isso fosse possível, nem sei se aconteceria;
parece mesmo que o mar está em nós, que dirige-se a outro corpo e,
no fim dos fins, busca algo de nosso em outrem.
Isso deve ser o mar!
Às vezes eu até queria saber do que ele é feito.
Mas me perco no percurso,
entro nos becos,
abro as latas de lixo,
visito armazéns imagináveis,
adentro nos locais impecáveis,
invado os portos,
navego por milhas,
e o que encontro são apenas palavras;
palavras das quais nem sei do que são feitas.
Que são palavras?
Vejo uma mais pretensiosa que a outra,
que tentam dizer o que é o mar,
aonde ele está,
como entrar nele e sair com vida;
tentam ainda dizer como toda a vida surgiu dele e,
se queiras crer, creia,
mas idealizam inclusive como ele é a nossa razão de existir.
Mas de que ele é feito?
De que importa mesmo isso?
O mar é um sentimento [inventado?],
que de andanças em andanças,
de movimentos em movimentos,
recebeu nomeações diversas e vários diferentes pesos na balança,
sensações dispersas,
conotações perversas.
Como se tudo e todes falassem dele,
mas sem nem se perguntar para que ele é feito.
O mar é criado [?];
é conceito,
é contexto,
é social,
é pretexto,
é animal?
Se um dia eu tiver o mar dentro de minha mente,
quiçá entenda porque tanta gente o admira,
saberei, quem sabe, porque navegar por ele é algo assim
tão formidável,
mesmo que no final sempre morra-se afogado.
E suspeito que esse afogamento não seja real, mas no plano da carência,
uma carência de sentido.
Um não saber de que…
É por não saber do que ele é feito que muitas mentes mentem e perecem,
ou seria por ele não existir que também
são incapazes de saber sua composição?
Você!
Você acredita no mar?
Já o viu?
Já entrou nele?
Quem te disse que o nome disso é mar?
Que tijolos conceituais construíram
as plataformas que sobre ele te conduziram?
De onde vem essa invenção?
De que ela é feita?
Que importa saber…!
Ah! Não posso crer!
Vejo agora que cometi um delito!
Se possível for, peço que me desculpe…
mas talvez tenhas de ler tudo outra vez.
Na minha fome de palavras,
no meu anseio desatento de dizer o nada,
de costurar as ideias
e na ausência de outra coisa que me alimentasse melhor,
acabei por comer todos os “A” do “Amar“.
Isso revela que de fato não sei do que ele é feito.
* * *
Andreone T. Medrado
Devaneios Filosóficos
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NOTA: a imagem utilizada para compor a capa dessa publicação foi obtida aqui.