Finjo que não… mas também reluto em dizer que sim… Na verdade, insisto em resistir… Mas o que eu quero – ou o que quero querer – são as coisas mais difíceis de possuir, pois, uma vez com elas, há que se ter força de caráter e firmeza para se seguir em frente e aceitar o que se diz desejar querer. Mas, sinceramente, eu ainda não sei se aprendi o necessário para tais expectativas.

Dito em outras palavras: quero coisas que soam simples; aquelas mesmas que se supõem tranquilas, ideias que se mostram nitidamente suave, mas que de fato não são nada disso! Penso até que nem sou o único Homo sapiens que almeja coisas tais; todes buscamos num maior ou menor grau estas coisas em si… mas será mesmo que estou/estamos disposto/s a olhá-las como elas são?

Quero ver e sentir as pessoas como de fato elas são; [ilusão]
Quero a vida do jeito mesmo que ela se mostraria se não a inventássemos dentro da cabeça;
Que eu possa ter as coisas tal como elas podem ser;
Quero uma verdade que seja ela nela mesma;
Das palavras, quero sua nudez: sem filtro, sem pano e sem véu;
Do gesto, o mais puro realismo, sem enfeites;
Quero suas verdades, seus contrários, seu ser em si, seu estar estando, sua voz não presa; Mas não quero você!
Que mais posso eu querer senão o real, o tocável, tangível e palpável?
Queria abrir as portas e ter peito de ver o outro lado;

Querer aquilo que pode vir a ser!

Quero poder ser eu quando cansar de ser os outros;
Quero pode chorar o meu choro:
Quero poder apagar o meu sentir; doar a minha dor;
Quer poder olhar para mim e não rejeitar o que aqui está;
Quão desejante é o poder aceitar-se da noite para o dia;
Só quero poder ser quem sou quando estou cansado de ser aquilo que esperam que eu seja;
Queria ter em mim a tristeza quando fosse preciso estar triste; e sorrir quando a alegria viesse, sem precisar dizer o porquê desta ou daquela;
Queria ter o direito de sentir, sofrer, falar e calar sem dar satisfações; ao menos por uma noite, naquela noite que só quer deitar e sentir a minha respiração;
Queria as coisas em seu estado mais cru…

Mas será mesmo que (1) eu quero tudo isso e, caso realmente o queira, (2) eu saberia lidar com todo esse querer introjetado? O que eu faria se ao acordar de madrugada cada coisa que quero me fosse dada a fazer, viver e sentir? Eu saberia lidar com elas? Saberia possuir tudo isso sem que imediatamente eu desejasse seus opostos? Quem sabe disso! A gente quer coisas que não tem e, não tendo, não sabe o que é tê-las. Mesmo assim, às vezes, penso que eu queria. Eu queria também ter aprendido a lidar com o mundo como ele é. E eu queria ter aprendido isso antes; antes de somente querer.

 

*  *  *

vjppp

 

Andreone T. Medrado
Devaneios Filosóficos

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NOTA: a imagem utilizada para compor a capa dessa publicação foi obtida aqui.