É no introspectivo,

ali aonde tocam os sinos de silêncio, que estão os mais fortes barulhos,
a mais profundas questões que,
muito embora gritem,
sabe-se lá quem as pode ouvir,
que dirá escutá-las!

A realidade, por mais ilusória que ela possa ser,
não é nada tão nítida por dentro
quanto se supõe que o seja por fora:
sua aparência é às vezes forte, segura, certeira;
mas infelizmente ela existe apenas quando a mente a percebe
– e eu desejaria não percebê-la agora…
mas recuso a ilusão desse desejo, mesmo sendo ele, em si, um ato de me iludir…

Existem silêncios que se ditos e rompidos aliviam a mente e descansam uma vida;
a questão é o que acontece com quem recebe o som, com quem o ouve;
a questão é como o rompimento do silêncio será interpretado pela outra vida
estaria o ser receptor preparado ao que pudesse ouvir?
Como saber antes? Não se sabe! Se supõe!

Você suportaria se/me ouvir sem se/me julgar?
Suporta escutar sem sofrer?
Você consegue se/me ver nas suas/minhas palavras e pensar nelas sem pensar em mim?
Quem é você no seu/meu silêncio?
E como você se enxerga no seu/meu vazio e como você se/me ouve na sua/minha mudez?
Como?

Para além disso mas totalmente nisso, então, se eu não quero que o meu  falar se assemelhe em hipótese alguma a exigir algo, não seria mais prudente não dizer, não fazer, não soar?
Silêncio [?]
Não exijo nada quando não posso exigir coisa alguma;
já não tenho preferências quando não se pode ter preferências…

Mesmo assim, por uma sorte que é também um espinho debaixo da unha, as palavras ainda me emprestam seus sentidos e me restituem o direito e a possibilidade de falar sem emitir sequer um som; e, sem precisar machucar espontaneamente qualquer coração, assumo o meu risco de me ver… e, me vendo, posso ser.

E não! Não é uma escrita patológica, como já ouvi naquela facada recebida…
pelo contrário, sem escrever as coisas são diferentes…
a doença enfraquece a escrita ou a escrita fortalece a doença?

Às vezes, no silêncio a gente se conhece…
Ou “simplesmente” às vezes cansamos de lutar em voz alta contra os nossos monstros…
Pois “aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você”, já dizia Nietzsche.

Quanto ao silêncio,
ele continua aqui,
gritando…

 

*  *  *

vjppp

 

Andreone T. Medrado
Devaneios Filosóficos

[ . . . ]

Use o espaço dos comentários para compartilhar também a sua opinião por aqui! Você já segue o Blog Devaneios Filosóficos? Aproveite e faça essa boa ação, siga o Blog e receba uma notificação sempre que um novo texto for publicado.
 Conheça o meu canal no YouTube.
#VocêJáParouParaPensar?

 


NOTA: a imagem utilizada para compor a capa dessa publicação foi obtida aqui.