#19 – o Eu e o Outro. O Eu se destrói toda vez que se constrói; refaz-se toda vez que se desfaz; e se vê a cada vez que se é visto em Outro. Nesse movimento torpe, mas sedutor, candente, inevitável e contínuo de se fazer e de se enxergar não apenas no Outro, mas pelo e com o Outro, o animal se humaniza, se torna humano, se faz ao desfazer-se. Há quem negue tudo isso; pois que o faça – não pretendo eu me apossar de verdade alguma. Há quem se diga Uno, pureza, uma autenticidade voraz; pois que os seja – para você eu sou o Outro a partir do momento em que você me nota; isso ao mesmo tempo que também sou você por conjugação. Sim! Diga que o Eu se faz sozinho, na relva, na mata, no retiro, no silêncio, na cidade barulhenta, ou que seja nos templos divinos; balbucie que a opinião alheia não te importa; diga, por fim, e em alta voz, que a sua liberdade está na sua independência – uma encarcerada independência-dependente, uma frouxa libertação do exterior, uma sede em frente à nascente. Sim, diga tudo! Pois quem vos impedirá? Além disso, já dizia Frantz Fanon, “falar é existir absolutamente para o outro”*. Mas, por precaução, atente-se! Pois, certamente que esse humano-tipo, feito por negação, já é tão humano que nem se percebe tão Outro. Quiça já absorveu tanto o seu entorno que o contraste lhe é invisível. […] E, talvez, você se/me pergunte: e quem é o Outro? Ora, na melhor das hipóteses, suspeito de que o Outro seja a realização intimamente desejável de um Eu jamais saciado.

 

*  *  *

vjppp

 

Andreone T. Medrado
Devaneios Filosóficos

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NOTA: a imagem utilizada para compor a capa dessa publicação foi obtida aqui.

(*) Frantz Fanon, 1952. Pele Negra, Máscaras Brancas. Ed. EDUFBA, Salvador, 2008. pg. 33.