#21 – só uma pequena diferença. Dentre tantas destrezas catalogadas nessa banda do Globo, algo ainda não especulado – mas que o farei aqui – separa crianças de adultos ocidentais monoteístas: crianças acreditam em Papai Noel, enquanto adultos creem em Deus. Para as crianças há esperanças – um dia elas aceitam que era só uma brincadeira ilusória e de mau gosto; já adultos não largam o brinquedo por nada, pelo contrário, trocam as vestes vermelhas do Idoso e o vestem de branco da cabeça aos pés; crer, para os “adultos”, torna-se uma questão de honra – uma honra que se transforma em necessidade psicológica. Além disso, se crianças faziam de tudo para serem presenteadas no final do ano enquanto dormiam confortavelmente durante a noite, os adultos pervertem a infantilidade, vão bem mais longe no ato de brincar: eles se esforçam dia após dia para no fim da vida não perderem os presentes que conseguiram salvaguardar e para não serem lançados no fogo da danação eterna. Assim, de um lado, quando existe a promessa de ganhar, ela no fim vira descrença, é substituída; porém, quando a promessa transmuta-se numa ameaça, numa punição, o ato de crer torna-se o “ópio do povo”* – livrar-se dele requer mais que um simples fechamento das chaminés: exige conhecimento e interna-ação. Mas, enfim, isso pode nem ser tão notório quanto me parece; talvez seja só uma pequena diferença.
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Andreone T. Medrado
Devaneios Filosóficos
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NOTA: a imagem utilizada para compor a capa dessa publicação foi obtida aqui.
(*) Uma referência à famosa frase do filósofo Karl Marx: “Die Religion … Sie ist das Opium des Volkes“, que pode ser traduzida como “a religião é o ópio do povo“, presente na introdução da Crítica da Filosofia do Direito de Hegel.