Algumas pessoas consideram que o meu ceticismo é sinônimo de pessimismo. Houve casos em que pessoas muito queridas decidiram, espontaneamente, se afastar de mim. Disseram que o que eu escrevia/falava era muito pesado, e que isso as deixava “pra baixo”. Seria o caso de que aquilo que eu dizia causava nessas pessoas uma tristeza, tirava delas o encanto da vida, mostrava o lado da realidade que não produz lucros nem serotonina? Creio que sim.

Mas também acredito que a busca fantástica por um admirável mundo novo, no qual cada vez mais comprimidos, selfies sorridentes, likes frenéticos e a aceitação exclusivamente social a qualquer custo leve muitas pessoas a comprar a ideia de felicidade e de liberdade e as faça perseguir esse ideal custe o que custar. Logo, não é nem um pouco espantoso que tais mentes rejeitem tudo aquilo que apague a luz de suas cavernas – afinal, sem luz, como a suposta feliz realidade seria projetada na parede da ilusão?

Como no ato de respirar, pego-me flertando com questionamentos “cinzentos“. Seria o caso das minhas palavras serem de fato pesadas e frias, ou, num outro ângulo de visão, a anestesia bebida diariamente em suas taças de cristal torne suas fantasias mais leves e quentes? Digo, uma vez provado do cálice [ou do cale-se] anestésico se produz nos sujeitos embriagados uma espécie de deslocamento da percepção: desloca-se a percepção da realidade para outros locais mais restritos, passa-se a valorizar a positividade, a bondade humana, o progresso, um mundo que caminha para sua “recuperação humanista”, uma sociedade que está bem. Esses sentimentos são de fato um afago num mundo de espinhos; e provavelmente geram menos incômodos que o ato de ampliar o olhar para além da bolha.

Estaríamos assim invertendo alguma lógica filosófica? Estaríamos usando a utopia não como uma sugestão de percurso mas como algo determinante que deve de fato acontecer? Estamos transformando a utopia em uma necessidade concreta de vivência? Devaneios filosóficos…

Seja como for, parece nítido que sempre fomos animais desconsolados, angustiados e aflitos – sem previsão de mudanças; Logo, tudo que represente uma fuga temporária – ou quiçá permanente – da realidade objetiva pode servir de redução de medos e temores. Dizer que minhas pobres e rarefeitas palavras e meus limitados apontamentos são pesados demais é um sinal de que a dose do anestésico está baixa em quem me lê, e que talvez sua concentração precisa aumentar, se a ideia for a felicidade.

A pessoa que bebe do cálice do ceticismo, ou aquela que come do fruto do conhecimento (como diria Melanie Klein), sempre será expulsa de algum paraíso. E no paraíso GoodVibes não há espaço para quem não se anestesia das questões mais básicas da vida.

Bom, seguirei falando o que acredito, e tudo bem dizerem o que dizem, e que acreditem no que acreditam. A realidade não depende nem de mim nem de você – não totalmente.

* * *

Andreone T. Medrado
Devaneios Filosóficos

[ . . . ]

Use o espaço dos comentários para compartilhar também a sua opinião por aqui! Você já segue o Blog Devaneios Filosóficos? Aproveite e faça essa boa ação, siga o Blog e receba uma notificação sempre que um novo texto for publicado. Conheça o meu canal no YouTube e o sigam-me no Instagram. #VocêJáParouParaPensar