Te fiz pedra,
te fiz areia,
te fiz água,
te fiz cimento e terra.
Te ofereci como matéria prima, mas de ti fizeram um muro para que não mais olhasse o campo verde, orvalhado e florido ao redor de sua casa.
Te fiz areia,
te fiz mar,
te fiz pá.
Te dei nas mãos de crianças na praia, que na orlas construíram um castelo esplendoroso. Um castelo tão grande e tão vistoso, mas que foi levado pelas águas num tempo tão pequeno é tão voraz.
As ondas te derrubaram, fazendo de você, novamente, água e areia, nada e ninguém; para que com pás outras crianças sejam crianças e tirassem a sua paz.
Te fiz querosene,
Te fiz madeira.
Te entreguei para atenuar o frio de outrem.
Contigo fizeram a chama, de ti sinalizaram, pela tua fumaça, a existência vaporosa da fictícia mudança. Mas o seu fogo cessou, sua energia acabou. Quem ficou quente foi embora. Você não serviu mais.
Frio, imóvel, coberto por cinzas em um dia cinzento: eis você quando não mais servia de calor. Te dei em vida, para que te abandonassem em morte.
Queria eu o mundo te mostrar;
Quis eu te fazer sentir a brisa do mar.
Queria te proteger;
e as mazelas te ajudar a vencer.
Queria eu te permitir alguma segurança ter.
Tudo quis por ti,
mas talvez me esqueci de você.
Mal sabia eu que na fantasia de te fazer bem
te entreguei a todes e ao mesmo tempo a ninguém.
O tempo passou e vi que no ambiente em que tu vives o tom escuro direciona o suposto valor além do muro;
Passei, então, a entender que na verdade a dor da cor é também a dor do não ter amor;
Demorei em perceber que pela tua cor te colocam nesse lugar emocional de medo, carência e autovigilância,
anestesiei a angústia ao confiar demais,
mas só colhi incertezas e desconfianças gerais.
Que bom que hoje te enxergo por outras vias;
hoje te acolho, te olho, te cubro durante a noite fria, te abraço nas horas sozinhas.
Reconheço que falhei quando assumi que a reciprocidade alheia era garantida,
me enganei por pensar que todas as promessas de outrem seriam de fato mantidas.
Mas me ponho a [re]pensar em como te construí e te construo na lida; em como penso sobre o que faço de ti e sobre o que de ti foi feito nessa vida.
Quero que tu estejas onde também querem que tu fiques,
Quero que desejes e que sejas um afeto desejado e que a ti também se dediquem.
Saiba, você tem valor, tem sabor, tem amor.
Se entrarem em contato com sua potência, que tenham coragem e dignidade de te sentir e te tocar em sua essência.
Você está em vida depois do tornado;
se reergueu não mais na orla da praia;
o muro diante de ti foi derrubado.
Sinta!
Seja afeto e seja um ser afetado!
Enfim, algumas palavras de mim para mim.
Versos para o afeto que em mim habita.
* * *

Andreone T. Medrado
Devaneios Filosóficos
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NOTA: a imagem utilizada para compor a capa desse post foi obtida aqui.
Adorei seus textos um bom dia pra vc 💜
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