“Pesquisadores de uma ampla variedade de disciplinas, incluindo áreas de orientação biológica, como biopsicologia, neurociência, ciências biomédicas e evolução, estudam tópicos relacionados à bissexualidade. No entanto, nosso treinamento em biociências raramente inclui atenção focada nas questões sociais em torno das medidas que usamos ou das variáveis que estudamos. Em vez disso, somos ensinados explícita e implicitamente que a ciência é ideologicamente neutra, embora nossos colegas da ciência e campos não-científicos demonstraram claramente que este não é o caso. […]
Na verdade, muitas vezes somos realmente desencorajados a pensar sobre questões como empoderamento ou justiça social, porque a ciência nos diz por meio de instrução e/ou imersão que essas são preocupações ideológicas que não têm lugar na ciência (ideologicamente neutra)”.
[Sari Van Anders, 2012 – tradução livre]
1. Uma Nota Longa
[Este texto corresponde ao quinto capítulo da minha tese de Doutorado, apresentada no Exame Geral de Qualificação, na Universidade de São Paulo, em 13 de abril de 2022; o título original desse capítulo é Diálogos Sociais, mas fiz uma alteração para colocá-lo aqui no blog, passando a chamar-se “Existe Racismo, Sexismo & Conservadorismo na Psicologia Experimental?”.]
Muitas foram as vezes que considerei não escrever esta parte da tese. Refleti por inúmeros momentos se isso seria relevante e/ou pertinente, mas confesso que esse nem foi o maior obstáculo. Maior que essas dúvidas foi a dificuldade de pensar por onde começar, como abordar e, principalmente, se eu seguiria ou não a burocracia institucional de uma produção dita acadêmica – ou seja, aquela que precisa incorporar os modelos e os pensamentos do grupo acadêmico para ter sua legitimação e, assim, sua validação. Bom, se esta parte está sendo lida por você significa que decidi colocá-la aqui, e adianto que não será necessariamente no escopo engessado e enaltecedor da academia. Apesar disso, o formato recheado de referências bibliográficas ainda se mostra aqui presente, e ele tem em si suas vantagens, principalmente a de permitir que você possa ler outras fontes e ter um aprofundamento sobre a questão.
Falar de perspectivas acadêmicas associadas às perspectivas sociopolíticas, ou, como o título original apresentava, produzir diálogos sociais, não é um exercício tão simples e tão fluido, muito menos aceito com facilidade se estivermos falando da intersecção entre Psicologia e Biologia; menos ainda se o tema em questão for sexualidade, sexo e gênero. E embora minha trajetória acadêmica seja dentro das Ciências Biológicas – desde o evolucionismo até a fisiologia neuroendócrina da reprodução – e, mais recentemente, na Psicologia, eu sempre tentei produzir diálogos interdisciplinares. Um desafio!
Aprender o que dizem os artigos e entender o raciocínio das pesquisas não é a lição mais fácil de todas, no entanto ela sequer se aproxima da dificuldade (ou escassez) de transferir os saberes daqui [de dentro da Academia] para fora de seus simbólicos e rígidos muros, ou seja, para a sociedade, para pessoas que por inúmeras limitações sociais talvez nunca entrarão nesses espaços nem saberão o que se fala sobre questões que atravessam também suas vidas, como a orientação sexual, atratividade, sexo, gênero, desejo, emoções. Por sorte, mesmo que nunca saibam disso tal como sabemos, essas pessoas seguirão vivendo, porque antes da academia existir já existiam seres que sentem, que se comunicam e que experimentam seus corpos. Todavia, um conhecimento que se proponha mais inclusivo poderia informar políticas públicas, desde que, para isso, tais conhecimentos se desenvolvessem paralelamente à sociedade; assim, teriam potencial para desmistificar certos saberes que impactam direta e indiretamente a vida das pessoas.
O ambiente universitário é um espaço social que apresenta muitas influências sobre aspectos psicológicos de quem nele atua, desde crises depressivas, burnout, até quadros graves de estresse. Por exemplo, em professores de universidades, sugere-se que o estresse está presente em 20% dos temas associados a variáveis psicológicas (falta de controle, cansaço emocional, sobrecarga, multitarefa) e institucionais (exigências do sistema de avaliação, estabilidade, falta de reconhecimento científico) (Carvajal & Guedea, 2021). No que diz respeito às desigualdades sociais promovidas por marcadores como raça/etnia, o espaço acadêmico é um ambiente que, na melhor das hipóteses, não produz grandes incômodos em pessoas brancas, cisgênero, heterossexuais, de classe média e sem deficiências, em divergência ao que se observa em populações racializadas (Harlow, 2002; Lipson, et al., 2018; DuPont-Reyes & Alice Villatoro, 2019; Arday, 2022). A branquitude tem na academia um dos mecanismos de produção e validação de seus pontos de vista; a maneira própria pela qual o mundo que enxergam é percebido tem ali dentro parte de suas raízes.
Apesar disso, ao considerar o gênero evidências mostram que existem desigualdades nesses espaços, e que gêneros que pertençam ao conjunto teórico que não incluam o gênero homem sejam de fato subjugados pelo gênero homem, mesmo ambos sendo grupos de pessoas brancas (Barreto, 2015; Moschkovich & Almeida, 2015; Roos & Gatta, 2009; Blithe & Elliott, 2020; Huang et al., 2020). Todavia, eu, enquanto pessoa negra, não-heterossexual, não-binária e oriunda da periferia, enxergar a academia pelas lentes da branquitude, da heteronormatividade e do binarismo de gênero tem sido cada vez mais incômodo. Algumas pessoas trans em todas as suas pluralidades, pessoas portadoras de deficiências e pessoas pobres podem somar ainda mais incômodos ao olhar que desenvolvem quando entram nas universidades. Enquanto isso, o modus operandi acadêmico segue seus caminhos colonizadores com lacunas que permitem um entendimento mais aprofundado do que precisa ser considerado, como é o caso de ampliar a diversidade de bibliografias que englobem outros saberes, como indígenas e africanos; que inclua em seu quadro de docentes mais pessoas negras, indígenas, transexuais, travestis, PCDs.
2. De Quem Falam os Dados?
Talvez a primeira pergunta que emerge nesse tópico é “sobre quem são os resultados encontrados em muitas das pesquisas em psicologia?”. Não é raro ver artigos que em sua amostra possuem um número majoritário de pessoas brancas e estudantes de universidades (Allmark, 2004), cuja participação se dá a partir de um banco de dados cadastrado nessas universidades. Até mesmo estudos chamados de interculturais acabam por se limitar a universidades ou grupos populacionais que participam de uma mesma construção teórico-crítica, utilizando de modelos e interpretações ocidentalizadas para construir sua produção acadêmica e visão de mundo (ver críticas de McKinnon, 2001, a Buss, 1989). Não raramente, quando estudos apresentam suas considerações finais, nelas inserem suas limitações, reconhecendo que a amostra da pesquisa é pouco diversificada, uma vez que em sua maioria compreende populações chamada “WEIRD” (do inglês: western, educated, industrialized, rich and democratic – “ocidental, educado, industrializado, rico e democrático”), ou seja, pessoas socialmente com mais autonomia, mais abertura a novas experiências e, assim, com respostas que não necessariamente representam a maior parte da população (Collin et al., 2021).
Possivelmente existe nisso um movimento que se retroalimenta: realizar estudos em populações mais afastadas dos meios acadêmicos, assim como mais afastadas dos grandes centros urbanos, englobando diferentes modos de vida, requer um custo adicional à pesquisa (seja de mais tempo, mais recursos financeiros para deslocamento e divulgação ou na adoção de uma linguagem que se proponha mais abrangente, que geralmente resulta em mais perguntas); custos esses que muitas vezes se chocam com os interesses e prazos que a pesquisa dispõe. Como consequência, opta-se por uma amostragem que se encaixe nos custos possíveis de cada projeto, o que por sua vez mantém nichos quase que específicos de respondentes. Isso não significa absolutamente que as pesquisas não sejam verdadeiras ou que não sejam confiáveis; mas não se pode desconsiderar que esses estudos não representam a população empiricamente; não basta ser verdadeiro para ser completo. Entretanto, quando se necessita citar achados científicos são esses estudos que são tomados como referência – correndo o risco iminente de servirem como régua da Psicologia.
Existem estudos que avaliam diferentes perfis sociais em variadas populações (Hinsch, 1990; Herdt, 1993; Cardoso, 2005; Dandona et al., 2005; Vasey et al., 2007; Petterson, 2015; Semenyna et al., 2020). A pergunta é sob que perspectiva esses estudos acontecem?
Se pensarmos na Psicologia, sobretudo no contexto das Américas, é possível perceber que essa área do conhecimento é ainda muito tradicional no sentido de manter o modo de produção do conhecimento como europeia e estadunidense (para uma visão mais abrangente do tema, ver Grosfoguel, 2011 e Quijano, 1992), e que é racista em muitas de suas práticas: ao longo de cinco décadas de pesquisa psicológica, as publicações que destacam a raça são raras e, quando a raça é discutida, é de autoria e editada quase inteiramente por acadêmicos brancos. Ainda é muito comum estudos que abordem superficialmente o termo “raça/etnia” (Root, 2001), mas que ainda se baseiam em estereótipos, não pensando as pessoas racializadas num contexto mais amplo, como o sociocultural (Salter et al., 2018). Em vez disso, focam seus esforços colocando esse grupo em enquadramentos teóricos cujos dados coletados reforçam preconceitos e estereótipos do senso comum, como quando os raros estudos em sexualidade envolvendo pessoas negras se voltam a entender a contaminação e transmissão do HIV (McKirnan et al, 1995; Dodge et al, 2008; English et al, 2020).
Existe um debate sobre até que ponto o uso inconsistente do preservativo está relacionado a intenções gerais mais baixas de usar preservativos […], baixas habilidades sociais e autoeficácia […], ou fatores relacionados ao gênero dos parceiros […]. No entanto, uma descoberta onipresente é que as taxas de bissexualidade comportamental e autoidentificada são frequentemente mais altas entre homens negros quando comparados a homens de outras raças/grupos étnicos […]. Isso é aparente, apesar da pesquisa limitada que se concentra especificamente em negros MSMW*
(Dodge et al, 2008 – pg. 02; tradução livre).
[(*) MSMW, do inglês “men who have sex with both men and women”:homens que fazem sexo com homens e mulheres.]
O número de estudos sobre racialização (racismo e antirracismo), sobretudo no que diz respeito à população negra, tem crescido nos últimos anos – ou, no mínimo, têm sido mais expostos. Todavia, ainda se observa que ao menos dois são os tipos de estudos mais realizados. Primeiramente, eu destaco aqueles estudos feitos por protagonistas negros/as, que contam suas histórias e a história de seu povo de modo responsável e no intuito de trazer à tona questões que são necessárias dentro do que se considera como negritude – como vivências, modos de estar no mundo, tipos de sofrimento, historicidade e necessidades específicas (Fanon, 1952).
Em segundo lugar, incluo os estudos feitos por pessoas brancas (ver Roberts et al., 2020). E esses geralmente estão em maior número e são mais amplamente divulgados, uma vez que a estrutura acadêmica é branca, pautada em modos de ver o mundo ainda brancos, eurocêntricos e limitados ao que a lente branca é capaz de enxergar (DuBois & Shattuck-Heidorn, 2021; Norton, 2021). Outro motivo pelo qual esses estudos são mais abundantes é porque, dada essa característica da academia, pressupõe-se que a maioria dos pesquisadores na Universidade são predominantemente brancos, logo a maioria das publicações também passam por esse crivo (Salter et al, 2018; Roberts et al., 2020). Ademais, uma diferença crucial entre os tipos de publicação diz respeito ao lugar das pessoas negras nessas pesquisas. Se, por um lado, pesquisadores/as negros/as estudam o negro pelo negro – ou seja, estudam sua subjetividade, sua pessoa e colocam o negro como um ser humano que tem história -, por outro lado, pesquisadores/as bancos/as localizam o povo negro enquanto um objeto de estudo; não querem ouvir e entender as pessoas negras, antes querem apenas responder perguntas, enriquecer estatísticas e, de brinde, atingir a “cota de inclusão de estudos Negros” em suas pesquisas e currículos[1].
“Levantamento contínuo realizado pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) junto aos profissionais cadastrados no Sistema Conselhos registrou até fevereiro de 2016 o quantitativo de 270.015 psicólogos(as) em todo o país […]. Na pesquisa “Uma profissão de muitas e diferentes mulheres”, realizada em 2012 pelo CFP, constatou-se que a maioria dos 1.331 profissionais que responderam à pesquisa era do sexo feminino (89%), com idade entre 30 e 59 anos (76%) e de cor da pele branca (67%) […]. Outro dado que ajuda a descrever a distribuição de psicólogos(as) no Brasil revela que 46,7% dos cursos de graduação e 58,72% das vagas de Psicologia ofertadas estão concentradas nas regiões Sul e Sudeste […].”.
(Santos e Schucman, 2015).
Debater sobre racialização dentro da pesquisa psicológica é, além de urgente, fundamental (Santos e Schucman, 2015). O chamado Letramento Racial (Ladson-Billings, 1998; Ferreira, 2014) – e aqui com destaque ao Letramento sobre a população Negra – é uma urgência, tal como é o letramento de gênero, de orientação sexual e de identidade de gênero. A psicologia, enquanto teoria, conhecimento e ciência, foi construída em bases muito bem estabelecidas. Embora seja uma ciência, que por definição deva ser pautada em um método científico, sabemos que esse método produz resultados a partir daquilo em que se aplica o método. Logo, se tentamos responder perguntas sobre a subjetividade humana, mas para isso usamos apenas um perfil social, apenas um modo de ser humano no mundo, os resultados dirão respeito principalmente a esse modo eleito (Ladson-Billings, 1999). Negar isso é quase (senão exatamente) como dizer que “somos todes iguais”, o que de fato não se confirma na realidade.
Nesse contexto, sabemos também qual é o grupo que compõe a maciça amostra nos estudos de psicologia ao redor do mundo, bem como seus amostradores: são predominantemente pessoas brancas, cisgênero, heterossexuais, estadunidenses e europeias – talvez se possa incluir que são de classe média; universalizar esse perfil, tomando-o como legítimo e “normal” e totalmente aplicável a todas as diferentes formas de existência é, em si, um processo colonial, que infelizmente ainda não desapareceu da sociedade ocidentalizada (Graves, 2021; Norton, 2021). E a única maneira de incluir outros grupos nas pesquisas acadêmicas é fazendo-os aparecer, enxergando-os como subjetividades possíveis e também legítimas. Logo, se a hegemonia acadêmica-branca ainda é algo presente, faz-se necessário que o letramento seja parte essencial desse contexto e dessa dinâmica de produção de saberes (Cullin et al., 2021). Sem letramento racial (bem como de todos os demais tipos mencionados antes) não há inclusão; não haverá jamais uma psicologia honesta nem justa sem que, para isso, seja derrubado o pensamento hegemônico de que todas as pessoas são iguais, e de que o peso branco seja aplicável à toda a população humana. “Ao lado de gênero e classe social, a raça é uma das categorias que constitui, diferencia, hierarquiza e localiza as pessoas na sociedade” (Schucman, 2010).
Retomando a frase que abre essa discussão da Parte V, reitero que enquanto cientistas se considerarem peças neutras na produção do conhecimento e enquanto acreditarem na fantasia de que existe uma ciência que não é política, seguirão do lado do sistema social que defende e legitima a desigualdade. E foi justamente nessa penumbra silenciosa de cientistas que acreditam na neutralidade que emergiram as mais cruéis atitudes humanas da história, muitas delas em forma de pseudociência (Andres, 2012).
É essencial enquadrar o desenvolvimento científico, bem como o pseudocientífico, ocidental em uma perspectiva histórica social larga. Notadamente, a invasão das Américas no século XVI, por certos grupos Europeus, inaugura um processo de hierarquização racial (categorizando e hierarquizando europeus, indígenas, pessoas negras) e de gênero (dimorfismo biológico, dicotomia homem/mulher, organização patriarcal e heterossexual das relações sociais) cujos efeitos deletérios ressoam até hoje, processo no qual o homem europeu branco ocupa o topo da hierarquia. Por conseguinte, a modernidade instituiu no século XVII uma racionalidade, um modo de conhecimento eurocentrado, comandada, sobretudo, pela Inglaterra e Holanda (centros hegemônicos mais importantes do sistema-mundo de poder da época), mas que também compreende países como França, Itália, Alemanha e Estados Unidos (Grosfoguel, 2011). Logo, enquanto perspectiva cognitiva daqueles que são educados sob a hegemonia do sistema capitalista mundial, o eurocentrismo gera e monopoliza o poder discursivo de naturalizar experiências (Lugones, 2008).
Na emergência do século XX quando tentou-se utilizar métodos rigorosos para medir crânios humanos a fim de estabelecer um comparativo de inteligência entre europeus e não-europeus, vidas inúmeras foram eliminadas para fornecerem amostras. Não obstante esse absurdo, tais achados voltavam para a população a partir de meios de divulgação inadequados, oferecendo substratos racistas que distribuem as “raças” na régua hierárquica, dispondo de um lado os inteligentes e do outros os não-europeus, segundo essa lógica. Reflexos dessa desigualdade podem ser observados na estatística nacional, que apresenta desde o número de encarcerados como a distribuição da renda – ambos com o atravessamento da “raça”. Assim, os parâmetros do método científico estadunidense e eurocentrado (a medição, a quantificação, a externalização, ou objetificação, do cognoscível em relação à pessoa conhecedora) foi imposto e permanece como única racionalidade válida na academia ainda no século XXI, e também pode ser visto no tratamento “étnico/racial.
——–
E talvez aqui devam entrar também dados que precisam ser mais aprofundados, a fim de evitar cada vez mais a apropriação errônea, como é o caso de conceitos como sexo, gênero e orientação sexual. Acreditar que a mera coleta e interpretação de dados com base na literatura é suficiente para se produzir conhecimento não me parece muito crítico. É preciso discuti-los de alguma forma mais abrangente.
3. Ele e Ela; e Nada Mais?
Depois das questões raciais mencionadas anteriormente, talvez um outro ponto que mais me gera incômodos dentro dos estudos em psicologia como um todo, e particularmente em evolucionista seja a ênfase dada ao dimorfismo sexual e de gênero. Não significa que essas abordagens sejam errôneas por completo, mas talvez o modo como sejam enfatizadas e estudadas torna o debate senão ambíguo, tendencioso.
Dizer, por exemplo, que “mulheres deveriam ser sensíveis para perceberem parceiros capazes de obter e investir recursos na prole, sendo um relacionamento de longo prazo mais vantajoso para elas” enquanto que para “o homem, um dos problemas a serem resolvidos é ter a certeza de que a prole na qual está investindo é sua” (Shiramizu e Lopes, 2013; afirmações semelhantes são observadas em Al-Shawaf et al., 2019) pode não ser uma mentira, mas é uma informação incompleta, e atualmente tendenciosa – e eu diria mais: é machista.
A Psicologia evolucionista apresenta diversas áreas de interesse, no entanto uma das áreas que mais recebem atenção nas pesquisas é aquela que versa sobre o dimorfismo sexual, ou também chamada de “dimorfismo biológico“. A fim de compreender o ambiente evolutivo ancestral, é comum textos que ressaltem as diferenças sexuais, com distinções específicas entre o que seria do sexo masculino e do sexo feminino, entendendo, dessa forma, que pressões seletivas direcionaram a evolução de características que fossem intrínsecas a cada uma dessas categorias sexuais. Além disso, assume-se que ao longo da história evolutiva tais características diferenciadas entre os dois sexos “são resultantes de pressões evolutivas decorrentes do fato dos homens e das mulheres assumiram distintos papéis ao longo da história evolutiva” (Franzi & Araújo, 2016). Desse modo, entende-se que machos e fêmeas acabaram por apresentar notáveis especificidades, características de cada sexo.
Como as mulheres pagaram custos tão altos por escolhas sexuais ruins ao longo da história evolutiva, elas evitariam muito mais (e, portanto, ter mais nojo de) uma variedade de comportamentos sexuais.
(Tybur et al., 2009; pág. 107; tradução livre).
Nessa perspectiva, a frase acima não soa equivocada como um todo. Lida isoladamente, e sem fazer muitas problematizações, é possível inclusive concordar com ela. No entanto, se transportada para o contexto cultural onde se inserem os humanos, sobretudo ao longo da história, tal frase pode sustentar certos estereótipos de cada sexo, fortalecendo a ideia de que existem especificidades biológicas para machos e fêmeas da espécie humana, além de reduzir todas as expressões de gênero apenas ao binarismo homem/mulher. E aqui se põe o desafio de pensar o quanto os dados coletados dizem sobre a história evolutiva da espécie humana ou o quanto eles respondem às perguntas de quem pesquisa, sendo direcionados por vieses. Haja vista, por exemplo, pesquisas no continente Africano que apontam organizações sociais nas quais não havia essa diferenciação pautada em noções de gênero tal como vemos no ocidentalismo (Oyewùmi, 1997).
Dito em outras palavras, há que se ter cautela para que a Psicologia Evolucionista – no que diz respeito ao estudo da escolha por parceiros sexuais – não se torne uma área meramente descritiva, que coleta dados e os interpreta sem que haja uma crítica profunda dos motivos que explicam a repetição desses dados em uma série de pesquisas (Franzi e Araújo, 2016). Aprofundar o debate sobre sexo ou gênero seria algo que talvez fugisse ao escopo deste texto, sobretudo dentro de uma tese apresentada no exame de qualificação que não tem essa temática explicita como núcleo de estudo.
De toda forma, uma divisão binária pouco flexível entre homem e mulher é de fato biológica? Cromossomos, testosteronas, estrógenos, progesteronas, pênis, vaginas, e seja mais o que for que surja quando se fala de sexo, são de fato biológicas? Ou seriam conceituais? A reprodução, que é uma maneira de passar adiante genes, pode sim ser um local para onde devemos focar a evolução; mas seria o mais importante? Por que transformamos conceitos em regras, ao ponto de com o tempo materializarmos certas criações como sendo a própria realidade das coisas?
Nas sociedades estadunidenses e eurocentradas, determinadas instituições detêm o poder de atribuir às pessoas uma categoria racial ou de sexo; por exemplo, como faz o Estado ou a Medicina. Por outro lado, pesquisas apontam que pessoas intersexo foram reconhecidas em muitas sociedades não-ocidentais sem serem assimiladas ao binarismo sexual (Allen, 1986), que sistemas de gênero com mais de duas categorias foram comuns em povos nativos americanos (Horswell, 2003) ou que a homossexualidade era reconhecida positivamente nessas sociedades (Allen, 1986).
Conceitos são construtos produzidos pela mente humana, são artificialidades que emprestam ao material uma maneira de acessar determinados significados e que expressam ideias a respeito desses significados e de seus significantes, dentro de um lapso temporal e espacial específico, refletindo as estruturas de poder em vigor em determinada sociedade. Eles expressam uma ideia ou um conjunto extenso de ideias que se interrelacionam e organizam outras construções mentais; e todos são criados pela percepção humana (Cardoso, 2008). E qual seria a utilidade dos conceitos nas ciências que estudam o sexo e a sexualidade se esses conceitos não dão conta da diversidade sexual do comportamento humano, se não abrangem uma diversidade geopolítica ampla? Até que ponto é profícuo insistir numa construção conceitual que abarque somente duas maneiras de interpretação do mundo, quando na prática o comportamento humano evidentemente não cabe nesses compartimentos? Dizendo com mais nitidez: por que se sustenta a análise do comportamento humano utilizando apenas conceitos como homem/mulher, macho/fêmea?
Sobre quais as utilidades desses conceitos, posso supor que seja a mais sugestiva manter uma construção focada em um único objeto de pesquisa. Conceitos rígidos flertam com ideias coloniais, que pretendem conservar um modo de interpretação da vida, em detrimento de outros. Isso é diferente de dizer que todas as pesquisas devam dar conta de tudo que representa o viver e os comportamentos humanos. No entanto, é um convite para um olhar mais aberto e interdisciplinar, que inclua outros corpos, outras sexualidades e outros gêneros e outras subjetividades.
* * *
Vê-se, ainda que timidamente, mudanças significativas nas abordagens em relação à orientação sexual. Se por muitos anos foi considerada que a orientação sexual compreendia apenas a heterossexualidade como natural e como o padrão do ser humano, posteriormente surge a homossexualidade enquanto conceito Ou teria sido o contrário? Teria a homossexualidade criado a heterossexualidade?
Muitos anos foram necessários para que a homossexualidade (outrora chamada de homossexualismo) deixasse de ser um transtorno de personalidade e passasse a compor o grupo “aceitável” de manifestações do comportamento humano. O que faz da heterossexualidade um conceito – que se traduz em comportamento – tomado por natural, enquanto as não-heterossexualidades são até hoje alvos de preconceito, de violência e, em última instância da vida, de morte? Em que momento a heteronormatividade se instaurou como aquilo que é natural e biológico enquanto os demais foram “surgindo”, como se fossem descobertas novas formas de existir?
Em que momento a constituição cromossômica deu lugar ao que se entende por homem e mulher nas pesquisas acadêmicas? A natureza do sexo é realmente natural?
Esses dias li duas afirmações publicadas em veículos acadêmicos: 1ª) “Outro inibidor de oxitocina é a testosterona. Altos níveis deste hormônio inibem a sua produção. Por consequência, pessoas que apresentam altos níveis de testosterona são mais egoístas, que exigem mais dos outros“[2]; 2) “mulheres deveriam ser sensíveis para perceberem parceiros capazes de obter e investir recursos na prole, sendo um relacionamento de longo prazo mais vantajoso para elas. Já para o homem, um dos problemas a serem resolvidos é ter a certeza de que a prole na qual está investindo é sua”[3]. Nenhuma dessas frases são casos isolados nem são despretensiosas, muito menos são frases neutras. E, embora sejam normalizadas, elas falam muito de um modo de pensar que penetra o imaginário social e que constrói/mantém a diferença sexual como algo supostamente natural.
Existe uma urgência em refletirmos sobre questões que contornam e atravessam as discussões sobre sexo, gênero, identidade de gênero, orientação sexual e performatividades. Nem todas as pessoas se sentem confortáveis ao confrontar ideias que são mantidas como sagradas há séculos dentro das paredes das universidades; abrir mão do sexismo e do binarismo de gênero é uma tarefa que exige movimento contra a corrente científica mais dominante. Mas isso é necessário. O discurso não se sustenta se adicionarmos à toda produção dessa área os efeitos da cultura, das interações sociais e as alterações contemporâneas que influenciam o comportamento humano. Se por um lado se sustenta o ponto de vista evolucionista com a perspectiva do ambiente evolutivo ancestral, por outro lado estamos testando essas hipóteses em Homo sapiens que se desenvolvem diariamente numa ampla rede social que ultrapassa os limites de conectividade e de influência cultural jamais possível no Pleistoceno, por exemplo.
Como analisar o comportamento humano, incluindo a sexualidade humana, se não levando em consideração a influência da globalização, do capitalismo e das novas dinâmicas sociais, nas quais a troca cultural é a maior já observada na história humana? Muitas pessoas, sobretudo de orientação científica, não se dão conta do quanto se aprisionam ao defender uma corrente de conhecimento que mantém nela e para ela o discurso de que evoluímos no caminho da diferenciação sexual; ainda querem justificar cada comportamento social atual baseando-se nessas diferenças. O que por si só é possível se houver um processo de contenção que reprima novas abordagens.
Esse cenário conservador tende a apresentar poucas chances de mudanças enquanto a influência cultural, histórica e contextual recente não fizer parte de modo efetivo das análises. Pesquisas disruptivas estão emergindo na superfície da produção acadêmica, mas ainda há muito que se lutar. Incluir outros grupos e novas maneiras de mensuração é um caminho, mas não é nem a única nem a principal alternativa. Movimento e lutas transexuais, como o ativismo travesti e intersexual, tem sido muito importante para denunciar determinadas produções de conhecimento, trazendo novas perspectivas para a área de sexualidade humana (Diamond, 1997; Stone, 2009; Dreger, 2006; Jesus e Alves, 2010; Barker et al., 2011; Jesus, 2014; Jaeger et al, 2019; Siqueira et al., 2021), como também tem acontecido para estudos da sexualidade humana (Kinsey et al., 1948; Kinsey et al., 1953)..
O entendimento e a aceitação de que sexo e gênero são constructos sociais talvez seja o ponto de maior resistência dentro dos estudos da sexualidade, sobretudo se pertencer às áreas de orientação biológica (DuBois & Shattuck-Heidorn, 2021). E quem resiste a essa ideia não são apenas pessoas leigas, cristãs e fundamentalistas; boa parte das pessoas acadêmicas se opõem a esse debate, ou sequer se interessam em aprofundá-los. Existe sim um movimento intelectual tímido e incipiente olhando para essa discussão sobre sexo, gênero e diversidade sexual; mas ainda fazem isso com medo de sofrerem rejeição da comunidade acadêmica [e conservadora].
Dizer que “homens fazem de um jeito porque são homens e mulheres fazem de outro porque são mulheres” é uma simplificação que pouco acrescenta se esses dados não compreenderem as influências histórico-culturais; às vezes são apenas transformados em dados frios e descritivos plotados em tabelas e gráficos, que alimentam os scores curriculares. Há de se analisar as estruturas de poder e interesses que limitam a construção do saber desde uma diversidade de corpos (negros, indígenas, transgêneros, periféricos, portadores de deficiências) e de uma pluralidade geopolítica, pois um fazer científico crítico requer a compreensão dos contextos histórico-sociais que influenciam as interações humanas e as respectivas relações de poder (Freire, 1987).
“O racismo e o colonialismo são igualmente culpados no desenvolvimento de categorias carregadas de valores de sexo e gênero e nas normas de comportamento às quais estão frequentemente vinculados” (DuBois & Shattuck-Heidorn, 2021). Por isso é preciso um diálogo mais intenso e aprofundado entre teoria e prática; entre a academia e a sociedade (Cullin et al., 2021). A academia hegemônica precisa ser destruída para que uma nova floresça.
* * *
Agradecimentos
Agradeço imensamente a leitura crítica e os apontamentos feitos por Gabriel de Castro Siqueira, estudante de doutorado do departamento de Psicologia Social da Universidade de São Paulo. Suas observações foram muito construtivas e enriquecedoras.
* * *

Andreone T. Medrado
Devaneios Filosóficos
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Obs: imagem utilizada para confeccionar a capa dessa publicação foi obtida aqui.
NOTAS E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] Racismo no mundo acadêmico: um tema para se discutir na universidade: https://www.unicamp.br/unicamp/index.php/ju/noticias/2019/11/19/racismo-no-mundo-academico-um-tema-para-se-discutir-na-universidade
[2] Link: https://www.fronteiras.com/resumos/a-molecula-da-moralidade-sp
[3] Shiramizu e Lopes, 2013.
REFERÊNCIAS
Allen, P. G. [1986] 1992. The Sacred Hoop. Recovering the Feminine in American Indian Traditions. Boston: Beacon Press.
Allmark, P. (2004). Should research samples reflect the diversity of the population? Journal of Medical Ethics; 30:185–189. doi: 10.1136/jme.2003.004374
Al-Shawaf, L., Lewis, D. M. G., Ghossainy, M. E., and Buss. D. M. (2019). Experimentally Inducing Disgust Reduces Desire for Short-Term Mating. Evolutionary Psychological Science, 5, 267–275. https://doi.org/10.1007/s40806-018-0179-z
Arday, J. (2022). No one can see me cry: understanding mental health issues for Black and minority ethnic staff in higher education. High Educ 83, 79–102. https://doi.org/10.1007/s10734-020-00636-w
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