Perguntaram à pedra se ela se sente sozinha;
ela disse que na maior parte do tempo, sim;
mas no fundo queria mesmo é dizer que era o tempo todo.

O que é estar só?
Ela diria que nada tem a ver com estar desacompanhada;
quiçá respondesse até que a maior solidão é aquelas companhias;

aquelas companhias viciadas na proteção, no cuidado e na vigilância alheia;
aquelas companhias para as quais nenhuma queixa contranormativa poderia ser feita,
para as quais não se pode ser contramoral, não se pode ir contra aquilo que disseram ser o certo.

A pedra é assim, uma pedra; embora nem sempre tenha sido;
cansou de insistir comunicar aquilo que ninguém queria ouvir,
deixou de falar e guardou suas coisas para si;

aquela criatura…

aquele coração duro, frio, trincado…

de tanto ver que não podia falar de si sem ser alvo de piedades,
não tem mais em si desejo de revelar suas grandes verdades;
de tanto abafar suas ânsias por comunicação, deixou de exclamar todas as suas vontades presas no coração;

de tanto escondê-las,
de tanto retê-las e de por tanto negá-las;
a criatura de petrificou.

Virou pedra.
Mas, obviamente, que ninguém notou.
E, não notando, a ela alguém perguntou…

Perguntaram à pedra se ela se sente sozinha…
ela parou para pensar em quando não fora assim.
Parou de querer responder, apenas disse que sim.

Seu desejo mais pedregoso é seu segredo mais interno.
É aquilo que ninguém sabe, pois se souberem…

* * *

Andreone T. Medrado
Devaneios Filosóficos

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