Não pergunte sobre mim,
não pergunte como estou,
não queira saber do meu dia.
Não me force a mentir outra vez.
Não supunha coisa alguma,
não me enfeite a vida,
não ponha a mesa,
não ajuste os pratos,
não passe o café.
Não estou mais aqui.
Não coloque as roupas na máquina,
não abra as janelas,
não ajuste o pano do sofá,
não ligue os Leds,
não trave a porta na parede.
Não use meus rituais.
Não chame pelo meu nome,
não toque minhas mãos,
não fale nada.
Não me chame.
Não me abrace,
não me beije,
não me aperte,
não sussurre ao meu ouvido.
Não me ame.
Em vez disso me corte:
corte meus braços,
separe minhas pernas,
arranque as minhas mãos,
divida a minha língua,
remova os meus olhos.
Me enterre fora desse lugar.
Espalhe cada parte pela cidade morta,
não deixe nada atrás da porta,
leve-me para longe,
onde o vento foi e nunca mais voltou.
Me jogue outra vez fora, esqueça onde você pisou.
Mas não olvides o coração;
este não leve para outro lugar que não seja o rio das lágrimas,
no recanto da solidão.
Enterrem meu coração ali, na curva do rio,
onde param os entulhos e destroços trazidos pela força das águas,
num lugar cheio de tudo,
mas de valores, vazio;
Enterre-o ali,
onde o indesejado repousa,
onde entrar ninguém ousa.
E que seu grito ninguém ouça.
Mas não volte para visitá-lo,
Não faça preces,
Não olhe,
Não pense,
Não lembre.
Não me procure mais.
Vá!
Não olhe para trás.
Vá, e não volte mais,
não pergunte se estou,
não espere pelo que não ficou,
não espere pelo que já se desfez.
Não voltarei mais!
Não dessa vez.
* * *

Andreone T. Medrado
Devaneios Filosóficos
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