Existe na calmaria da noite, no silêncio do outono, um vento.
Este, tão sereno e misterioso, sopra sobre os campos outrora verdes e move as folhas vindas do verão.
Uma após a outra se vão; são levadas para longe de nossos olhos e olhares; para além da consciência e da perene existência. Mas sempre aqui – o lá fora é aqui dentro.
É, assim, um preparo necessário para o inverno dos seres passageiros. Recolhem-se os pensamentos à meditação – à casa da sabedoria, ao abrigo da tribulação, ao banquete das gentes famintas. Mas não tarda até que logo venha a primavera.
Aquele organismo insistente que realmente viveu o silêncio, sentiu o vento e apreciou o calor e o frio, e somente quem isso fez, sentirá então o florescer de ideias.
Como são lindas essas ideias! Nem se pode acreditar que existia dentro daquela sequidão um potencial que de sem cores passou a preencher os bosques das vidas.
Sim, são elas, as flores, as ideias, as mudanças, a pulsão que vive, a pulsão que – se atingida – deixa a vida, dizem.
Cabe anunciar que também isso não é tudo… que a ordem das coisas é assim, como eu as faço aqui, nas minhas estações, nas minhas inversões… mas que também ela [a ordem] pouco importa.
Os trezentos e sessenta graus hão de se formar para uns muitos indivíduos, e tudo há de se repetir sem reencarnações e sem juízo final. Sem anjos nem demônios.
Hoje, homens e mulheres, jovens e velhos, egos e egoísmos… amanhã, asas de moscas, nefrídios de minhocas, verdes de verão, folhas de outono, precipitações de inverno.
A única regra à qual as classes se curvarão em um acordo tácito e irrevogável; a norma à qual ricos e pobres, burgueses e proletários se submeterão mesmo contra suas vontades e exigências: a inevitabilidade do rearranjo de seus átomos. Seja lá o que você se diga hoje, aqui… amanhã, depois das estações, serás como os pequeninos e insignificantes seres que hoje você pisa e espanta.
Hoje, homens e mulheres, jovens e velhos, egos e egoísmos… amanhã, diplópodes, blattarias, túbulos de Malpighi, verdes de verão, folhas de outono, precipitações de inverno.
Vento após vento, primavera após primavera, tudo será transformado pouco a pouco, ser a ser. Tente escapar!

 

vjppp

 

Andreone T. Medrado,
Adaptado do original: 26 de Maio de 2017
Devaneios Filosóficos

 

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NOTA: a imagem usada para compôr a capa dessa publicação foi obtida aqui.

 

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