INTRODUÇÃO

Dizer de tudo, e sobretudo bem dito, é, além de impossível, bem complicado. Eu, por exemplo, limito-me principalmente a textos ora longos ora médios [raramente curtos]… mas, confesso, falta-me mesmo condições intelectuais para dizer grandes coisas em poucas palavras. Mas dizer isso, em si, é nada mais que uma doce hipocrisia da minha parte; em relação à limitação intelectual, só disse verdades… contudo, de outro lado, eu realmente não ligo de escrever bastante…. apenas vou escrevendo – e certos escritos são do tipo “preciso fazer isso agora“, amanhã será outro dia, incerto como todos. Imprecisão e acaso definem o viver. Por isso, hoje será assim, escreverei certos “postulados inacabados”; e já te adianto logo: embora tenha algo escrito sobre tais postulados ao longo do Blog, eles poderão ou não ser desenvolvidos (ou mais desenvolvidos) num futuro tecnicamente possível. Mas, como eu disse, imprecisão e acaso definem o viver.

Vale dizer, de antemão, que nesse texto não detalharei os cinco postulados. Eles aparecerão como meras afirmações que, caso tenham sido tratadas no Blog de alguma maneira, serão encaminhadas via link, mas não necessariamente. São conclusões pessoais que, sem sombra de dúvidas, carecem de uma maior explicação aqui. Mas que não a farei nesse instante. Por fim, e não menos importante, elegi apenas cinco postulados, mas eu teria outros tantos…

* * *

Postulado Primeiro
Não existe liberdade.
§ 1º – 
A fraude mais bem difundida que eu já ouvi é a de que podemos ser livres de nossas amarras, sejam sociais, psicológicas, biológicas, ou quaisquer que sejam. Por essa razão, vale lembrar: em um sistema que apresenta mecanismos capazes de, num conjunto complexo de ações e poderes, modelar pensamentos, comportamentos e ideias, qualquer prenúncio de liberdade esconde uma potencial armadilha. Em outras palavras, em um sistema que decide tudo por você antes mesmo do seu nascimento, qualquer prenúncio de liberdade é uma fraude.

§ 2º – Em consonância com o item anterior: você não é exatamente quem você acha que é. E, na melhor das hipóteses, ainda que você soubesse de si, o corpo social impõe sobre você impedimentos tais que você não pode, por mais que queira, se apresentar como se vê sempre.

§ 3º – Não somos livres nem para possuirmos certas coisas que aparentemente são nossas por ‘direito’: o nosso corpo não nos pertence; o nosso tempo não nos pertence; a nossa força de trabalho não nos pertence; a nossa vida talvez nos pertença, mas já está emprestada ao conjunto social desde que nascemos – ou até mesmo antes. Tenho sérias dúvidas se as nossas ideias e os nossos pensamentos nos pertencem.

§ 4º – Podemos [até] ser livres para fazer o que desejamos, mas não somos livres para escolher o que desejar.

 

Postulado Segundo
O amor, tal como é dito até hoje na História, não existe.
PARÁGRAFO ÚNICO – o que chamamos de amor está mais próximo de egoísmo, ou, no mínimo, de um sentimento que parte de nós e mira um alvo que apresenta condição potencial de nos realizar/satisfazer.

 

Postulado Terceiro
Tudo na vida é movido por interesses.
§ 1º – 
Dizer “tudo” significa, literalmente, tudo.

§ 2º – Ilusão resume a crença de que alguém é capaz de agir sem que exista algum tipo de interesse envolvido nessas ações.

§ 3º – “Interesse” não deve ser avaliado do ponto de vista do senso comum. Interesse é o motivo pelo qual algo é feito e que, sem ele, a atitude não seria realizada.

§ 4º – Toda ação necessita de uma propulsão – interesse.

§ 5º – Ninguém faz atitude alguma visando única e exclusivamente o alvo ao qual se direciona essa ação. O interesse é sempre na fonte da ação, em quem a pratica – o(a) interessado(a).

§ 6º – Behavioristas alucinados(as) podem substituir o termo “interesse” por estímulo e reforçamento positivo; psicanalistas podem optar talvez por pulsão, desejo, etc.; cognitivistas que se virem na atribuição. O recado é esse, a nomeação é por conta do leitor e da leitora.

 

Postulado Quarto
Não existe justiça na história.
PARÁGRAFO ÚNICO – não existe mesmo.

 

Postulado Quinto
Depois da morte o resto é trote.
§ 1º –
Após a morte, o corpo entra num processo conhecido na biologia como decomposição. Nele, ocorre, como o nome sugere, a desintegração do corpo humano, bem como de seus sistemas, órgãos, tecidos, células, moléculas até se tornarem átomos disponíveis no meio ambiente. É bem possível que a mosca que você espantou ontem tenha em si átomos que pertenceram a alguém lá do velório perto da sua casa. Cuide melhor dos insetos.

§ 2º – Quase com certeza Deus não existe (nenhum cientista que se valorize como tal afirmaria que Deus não existe, seria brigar no escuro com algo inútil).

§ 3º – Considerando o Postulado Quinto, § 1º, fecha-se com ele o pressuposto de que depois da morte existe um lugar para onde irão as almas (estas, também fictícias); ou, ainda, encerra-se nele qualquer ideia de que existe algo depois que o corpo cessa seu metabolismo coordenado sobretudo pelo cérebro. A morte é fim, o resto é especulação barata de viciante – puro delírio.

§ 4º – A ideia de religião, que assegura um espírito ao ser humano, o qual seguirá vivo mesmo depois da morte do corpo biológico (Postulado Quinto, § 1º) não passa de uma alucinação coletiva que pretende incutir na cabeça de seus seguidores uma doença chamada fé.

I) é dizer que o falso e inexistente é uma verdade.
II) é o comodismo de que a supressão de uma verdade está validada pelo conforto imediato de uma mentira.
III) Ter é aceitar a ilusão; abraçar o desconhecido como se o fora conhecido; dedicar-se à inação; sucumbir à espera alienada e alienante; ser preso ao falso prenúncio.

§ 5º – Sem exceção, todos e todas morreremos. Aceitar que depois disso não seremos nada mais que átomos custa o preço da sujeição ao doentio, ao inescrupuloso e ao pútrido desejo pela eternidade. Nessa brecha que seduz humanos como se fossem mariposas enganadas pela luz das chamas estão a mística, a religião e os devoradores de ingenuidade e de perspectiva de vida. A morte é inevitável e final. Tudo que vem depois dela é trote, ilusão, criação, e jogos de poderes.

* * *

Entre os postulados que não estão nessa lista, mas que [tecnicamente poderão surgir], vale destacar alguns que, de tão absurdamente óbvios, não mereceriam mais que menções rápidas e sem explicações:

A) Somos animais.
B) A terra não é plana.
C) Vacinas funcionam e são necessárias.
D) O Brasil é um país com explícitos comportamentos racistas, misóginos e homofóbicos.
E) Existe fome no Brasil.
F) O “povo brasileiro” não é cordial.
G) Fake news matam.
H) Jair Messias Bolsonaro é um humano-tipo constituído de absurdos e incoerências – quem o apoia em pleno outubro de 2019 não apenas se reflete nele – mas são de mesma origem-tipo. É igualmente decadente, igualmente desprezível e nocivo(a).
I) O aquecimento global é uma realidade.
J) Eu posso estar certo.
K) Eu posso estar errado.

 

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vjppp

Andreone T. Medrado
Devaneios Filosóficos
Escrito dia 10 de outubro de 2019.

 

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NOTA: as utilizada para compor a capa dessa publicação foi obtidas aqui.