- “Ghosting” é um termo comum usado para descrever o ato de uma pessoa ignorar abruptamente outra, deixando de responder a mensagens, telefonemas ou outras formas de contato, sem nenhuma explicação ou aviso prévio. Por exemplo, se duas pessoas estiverem saindo juntas e uma delas simplesmente parar de responder às mensagens da outra sem motivo aparente, essa ação seria considerada “ghosting”. É uma forma de término de relacionamento ou de comunicação que pode ser muito dolorosa para a pessoa ignorada, especialmente se ela estava investindo tempo e esforço nessa relação ou amizade. O “ghosting” também pode ocorrer em situações profissionais, como quando um empregador não responde a um candidato a emprego após uma entrevista, ou quando um cliente deixa de responder a um vendedor após uma negociação. Em geral, o “ghosting” é considerado uma forma desrespeitosa e insensível de lidar com as pessoas e deve ser evitado sempre que possível.
- o “ghosting” não deve ser entendido como uma prática de liberdade, pois envolve uma falta de comunicação e responsabilidade para com a outra pessoa envolvida. A liberdade implica em ter autonomia e escolha, mas também em agir com responsabilidade e consideração pelos outros. O “ghosting” é uma forma de evitar um confronto ou uma conversa desconfortável, mas isso não significa que seja uma escolha saudável ou madura. Ignorar a outra pessoa pode causar ansiedade, frustração e incerteza, e pode deixar a outra pessoa se perguntando o que fez de errado ou o que poderia ter feito para mudar a situação. Em vez de simplesmente desaparecer, é melhor ser honesto e transparente sobre seus sentimentos e intenções. Isso permite que ambas as partes possam seguir em frente e, possivelmente, manter uma relação amigável. O diálogo é uma habilidade importante em todas as áreas da vida e é a chave para relações saudáveis e significativas.
Esses dois item foram colocados aqui na íntegra conforme escritos pela Inteligência Artifical, ChatGPT (https://chat.openai.com/), que coleta dados e textos escritos na internet e que alimentam seu sistema. Os itens 1 e 2 foram criados pela IA em resposta às respectivas perguntas: O que é ghosting? e O ghosting poderia ser entendido como uma prática de liberdade? Essa busca foi feita quando eu estava terminando de escrever este texto, e me ocorreu pensar o que existe por aí sobre isso e como um programa de inteligência artificial organizaria essas informações. O texto original que motivou a publicação a seguir foi postado no Instagram (no dia 20 de abril de 2023). Hoje o trouxe para o blog na intenção de disponibilizar o material em outra plataforma e poder expandi-lo um pouco mais. Foi só quando acabei de escrever o texto a seguir que tive a ideia de perguntar ao ChatGPT. Alguns pontos nitidamente não foram inseridos nessa definição da IA, e outros podem ser muito mais trabalhados. Por isso, te convido a ler o que escrevi e ampliarmos esse debate.
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Nomear nossas ações e nossas formas de entender o mundo pode nos auxiliar a compreendê-las. O modo como lemos e interpretamos alguns contextos pode inclusive nos localizar dentro das relações e nos permitir entender em alguma medida aquilo que vivemos. Por exemplo, a leitura que fazemos do significado do termo “Ghosting” possivelmente direciona o modo como pensamos essa prática na nossa vida. Resumidamente, a palavra “Ghost”, do inglês, significa “fantasma”, em português. Então, a palavra “ghosting” diz respeito a um desaparecimento, uma fantasmagorização do sujeito. Ghosting é uma prática que se dá no sumiço, na ausência completa de contatos outrora criados e propostos como desejáveis; torna-se um fantasma, pois passa a não existir no campo do material.
Na perspectiva que eu adoto do termo e da prática ghosting, essa ação diz respeito a um ato abrupto cuja ruptura se dá num contexto de afastamento brusco. Ou seja, uma vez havendo criado um contexto afetivo, uma vez instaurada uma conexão que permita minimamente uma troca de afetos e de experiências que se propõe contínua e desejável, e uma vez indicada a intenção de continuidade das trocas, o ghosting aparece como uma quebra de qualquer dinâmica construída. Essa quebra se dá no silêncio, a interrupção de toda e qualquer comunicação e, no contexto da internet e comunicações virtuais, pode ocorrer a partir da desconexão de todas as redes sociais a partir das quais se mantinham contatos. Em geral, pelas redes sociais o ghosting se materializa ou na completa ausência de respostas, ou até no bloqueio às redes pessoais de quem pratica o ghosting.
Apesar disso, para algumas pessoas, dar ghosting é um ato “revolucionário” que pode até ser lido como uma prática de liberdade. Ou seja, se numa lógica neoliberal os afetos também se tornam mercadorias nas relações humanas, os critérios que significam os afetos passa por eles serem úteis, lucrativos e vantajosos, mas do ponto de vista exclusivo do sujeito – num individualismo essencial. Nessa lógica, ao centralizar os desejos única e exclusivamente em um indivíduo, as lógicas que se constroem passam a desconsiderar os efeitos das ações de uma pessoa sobre a outra. Será, então, que essa é mesmo uma prática de liberdade e de autonomia, ou seria isso uma prática individualista de viver os afetos? Se ela é libertária, a quem está libertando? Quem, numa sociedade desigual e estruturada em desvantagens raciais, de gênero, de sexualidade, de estética e de classe, pode enxergar no ghosting um ato de liberdade e de autonomia?
Praticar a liberdade afetiva sem considerar que nossas ações afetam pessoas ao nosso redor nem sempre é uma tarefa simples. No entanto, quando ela já se inicia no ponto de partida em que se pretende desconsiderar as outras partes somente porque elas não nos servem mais, isso pode configurar um tipo de narcisismo – uma ética que privilegia e posiciona o indivíduo no centro das dinâmicas, o qual passa a desvalorizar tudo que não reflita seus desejos, seus gostos e seus ideais no seu grande espelho de projeções pessoais.
Por exemplo, acreditar que a não monogamia é uma maneira de viver os afetos “livremente”, no qual nossas atitudes e desejos não precisam estar sob custódia nem no poder de outras pessoas, pode suscitar o pensamento de que “não devemos satisfações” nem “prestações de contas” a ninguém. De fato, no caminho de descolonizar os afetos um dos pontos importantes é não deixar nossas emoções e vontades sob o domínio de outrem ou de alguma instituição. No entanto, a própria ideia de dever algo a alguém, guarda em si associações mercantilizadas dos afetos, uma dinâmica baseada na troca mercadológica como princípio neoliberal das relações. E nesse modo de agir pode ser germinar uma lógica, uma maneira de enxergar o ghosting como uma suposta prática de autonomia: “não devo nada a ninguém, logo me afasto se esse alguém não me oferece lucros”. Mas essa autonomia é contraditória com a própria ideia de não monogamia, posso dizer que ela é praticamente a sua inversão; e por que não mencionar: isso é brancogamia.
Visando descolonizar os afetos, um caminho interessante na não monogamia seria não atuar sobre os afetos como se fossem objetos descartáveis. O afastamento abrupto de uma cena em que se cria conexões é uma ação própria e intrínseca da colonização: ela se aproxima, institui seu vínculos, assegura seu espaço temporário, explora, cria uma rede de obtenção de recursos, saqueia esses recursos e, quando nada mais importa naquele território, sem olhar para trás, apenas se retira e busca novos territórios para repetir a cena predatória. Aplique essa lógica nas relações afetivas e terá um padrão que utiliza do ghosting como estratégia de ruptura. Dar ghosting, portanto, costuma ser uma prática bastante recorrente quando a única intenção é objetificar o corpo alheio, sentir prazer nele e descartá-lo logo em seguida.
Em vez da pessoa assumir suas intenções (ou a ausência delas) diante das outras pessoas, e pelo menos dizer que não tem mais interesse em prosseguir com aqueles contatos, o afastamento que poderia ser comunicado por palavras é simplesmente tratado a partir do abandono. Pessoas que ocupam um lugar de mais privilégios sociais tendem a se colocar no lugar de quem escolhe mais, e nessas escolhas costumam desconsiderar os afetos de com quem se relacionam. O exercício do ghosting não raramente é visto como uma prática branca.
Um ponto que merece ser dito é que, diferentemente de praticar o ghosting, pode ocorrer afastamentos em quaisquer relacionamentos. Relações se iniciam e acabam; se intensificam, fervem e esfriam. E isso não necessariamente é um ghosting. O que diferencia esses afastamentos citados de uma prática de ghosting é que na primeira atua o curso possível das relações, que se intensificam à medida que encontram possibilidades afetivas que permitam sua construção, continuidade ou descontinuidade; enquanto na outra existe a intensidade, ou a presença e o interesse, e uma das partes escolhe afastar-se bruscamente, deixando a outra parte totalmente sem entender o que pode ter acontecido. Arrisco o palpite de que, numa identificação com uma figura punitivista e vingativa do colonizador (seja ele o Deus Judaico-Cristão ou sejam os colonizadores Europeus), numa alimentação de um ideal de supremacia, a pessoa pode usar o ghosting como modo de querer punir, manipular e controlar suas relações. Assim, essa prática pode acontecer mais de uma vez: dá-se o ghosting, mantém-se um afastamento que pode variar de meses a anos, e quando se retorna, utiliza-se de tecnologias semelhantes.
[Deixo o questionamento de se em algum momento da vivência cotidiana da pessoa praticar ghosting se estrutura como o modo a partir do qual ela passa a resolver seus problemas; digo, será que praticantes de ghosting assimilam tanto essa prática em suas vivências que ela passa a se configurar como o primeiro modelo de respostas para as adversidades e para dinâmicas insatisfatórias em suas vidas? Isso abre margem para pensarmos sobre mecanismos psicológicos que pode ou ter o ghosting como consequência de suas ações, ou como origem delas. Mas é uma discussão que merece um espaço só para si em outro momento.]
Mas cabe aqui o questionamento de se todo ghosting é uma ação intencional e/ou mal-intencionada. Nesse ponto, penso que independentemente de ser uma ação baseada na intenção ou se for um ato “inconsciente”, essa prática produz nas pessoas afetadas um sentimento que pode implicar na baixa autoestima, no engatilhamento emocional e na ansiedade, para dizer poucas consequências, criadas pela ruptura abrupta de uma vivência. Assim, se temos noção de que esses pontos podem ser produzidos e/ou aflorados, cabe o pensamento de que podemos repensar nossas atitudes para evitá-los. Mesmo que a ideia não seja praticar o ghosting, a ação final pode configurar essa prática e produzir os efeitos que ela em geral produz: sofrimentos.
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Primeiramente, vale contextualizar que, apesar de ser um debate bastante importante, essa discussão se iniciou quando un amigue me enviou um print via Whatsapp. Eu resolvi postar esse print nos stories do meu perfil no Instagram (@andreone.medrado) e abri uma caixinha de perguntas anônimas, que recebeu várias respostas. Mesmo que o s tweets em questão (ver imagem a seguir) não necessariamente ter o intuito em si de dizer que de fato é nisso que a pessoa do tweet acredita (ou ao menos não quero eu afirmar o que não sei), ele é bastante cabível nessa discussão. Algumas pessoas me disseram no privado que esse perfil do tweet costuma fazer piadas e ironias – de todo modo, nada melhor que causos do cotidiano para aprofundarmos em discussões que nos afetam.

Quando feita a problematização, e quando pessoas comentam suas experiências, podemos ver que é algo totalmente verossímil com o que se passa na realidade concreta de muitas relações. Ou seja, o que se coloca no tweet condiz muito com o que infelizmente muitas pessoas vivem em suas relações cotidianas. Novamente, visite o meu perfil e acesse o destaque “Ghosting” para ver as respostas, caso queira.
Disso tudo, o que você pensa? Seria um percurso de construção afetiva baseada no individualismo? Seria uma maneira de não precisar lidar com suas próprias emoções nem com o efeito delas nas outras pessoas? É sinônimo de narcisismo e de egoísmo?
Por mais que existam camadas subjetivas diferentes para cada pessoa, e que possam tornar o processo mais simples ou mais dificultado, se você não tem mais interesse numa conexão que está sendo construída e você sabe que a outra parte tem um interesse em você, tente comunicar sua intenção. Não simplesmente desapareça como se nada importasse. Dizer “não estou mais afim”, “não sinto que a gente faça mais sentido juntes para essa proposta de relação” ou informar que “nesse momento não estou conseguindo me envolver afetivamente” podem ser frases não tão leves de serem ditas, embora sejam frases simples de serem pensadas. No entanto, não dizê-las e simplesmente desaparecer pode ser uma atitude violenta.
Faz parte de um processo de maturidade emocional aprender a comunicar nossas emoções. Por um lado, e “na melhor das hipóteses”, dizer que não existe mais interesse na outra pessoa pode ser uma ação difícil, porque pode acontecer de temermos produzir uma mágoa. Não é preciso odiar uma pessoa para que uma relação com ela não tenha um sentido e um significado em ser mantida; podemos inclusive amar uma pessoa mas não desejarmos mais construir a mesma relação que foi construída até então. E nesse momento, comunicar a ruptura daquele tipo específico de vínculo pode produzir tristeza na parte que recebe a informação. Por isso, algumas pessoas optam por um afastamento abrupto na esperança de que assim tudo se desmanchará rapidamente e logo a situação será resolvida. Porém, nisso se instaura uma armadilha geradora se muito sofrimento: por não querer magoar a pessoa ao informar seus sentimentos, o afastamento por ghosting produz um sofrimento que pode ser sobremaneira maior. E sua magnificação pode se dar justamente porque a parte abandonada será pega de surpresa e não saberá o que aconteceu, e poderá desenvolver narrativas de culpa, de autodepreciação e de autocondenação por pensar que talvez o erro seja todo dela. Sendo assim, por mais complexo que seja, que repensemos nossas práticas de cuidado afetivo.
E em se tratando de não monogamia, destaco que não é sobre não precisar prestar contas a ninguém e por isso poder desaparecer das relações como “prática de autonomia, mas é sobre compreender que pessoas diferentes vivem suas emoções de modos diferentes. Praticar a brancogamia, desconsiderando os diferentes percursos afetivos, é uma ação que dialoga com tecnologias de colonização.
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Andreone T. Medrado
Devaneios Filosóficos
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NOTA: a imagem usada para compor a capa deste texto foi obtida aqui.
Total de pessoas brancas que me deram ghosting: 0
Total de pessoas pretas que me deram ghosting: 6
Eu: Branco. Homem.
Elas: Todas mulheres.
Não coloque como regra ou use palavras como “brancogamia” para justificar seus preconceitos de classe, isso é racismo. Se ler a constituição e leis sobre o que é o racismo, vai entender que qualquer justificativa montada em cima de discriminar cor (independente de qual), é racismo. Ghosting é apenas uma prática de quem não tem maturidade emocional o suficiente para lidar com suas próprias questões. No caso delas, todas elas tinham em comum a questão da insegurança. O preterimento que mulheres pretas sofrem estava reinando sobre qualquer pensamento ou julgamento. Tomando conta de suas emoções com o medo. Uma das reações do medo é fugir, então todas elas fugiram. Não julgo, entendo os motivos delas. Nem todo comportamento abusivo, é sinal de que a pessoa é narcisista ou abusiva. As vezes é só reflexo do que ela viveu e como aprendeu sobre afetos durante a vida.
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nem tudo eh sobre vc caro homem branco especialista em mulheres pretas
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e racismo contra branco mano vai caçar o que fazer pelo amor de deussss
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