PARTE I
Pensando em relacionamentos

Pensar em relacionamento interpessoal, em muitas de suas possibilidades, é pensar sobre a questão da posse do corpo (tanto de seu próprio corpo, quanto do corpo da pessoa com quem você se relaciona). E essa questão ainda é um tabu enorme, mesmo em sociedades com mais acesso à informação. Iniciar um relacionamento, de qualquer tipo que seja, sem a noção mínima de a quem pertence o seu corpo é o mesmo que apropriar-se do corpo alheio, ou, em alguns casos, entregar-se para completar [ou saciar] um outro corpo.

Relacionar-se é trocar afetos; e entenda-se por afetos a capacidade de afetar e de ser afetado. Quando decidimos compartilhar a nossa vida com outra pessoa, como o próprio nome em destaque sugere, estamos permitindo que a outra pessoa tenha acesso a parte de nossas experiências. O que é bem diferente de dizer que estaríamos nos doando a ela, ou ela a nós. Entender que, independente do tipo de relacionamento, o corpo da outra pessoa nunca será nosso é de fundamental importância. Na essência, quando nos relacionamos com alguém – ainda que esse alguém seja nós mesmos – estamos compartilhando possibilidades afetivas, que podem ou não ser condizentes com as nossas ansiedades e expectações. Ver-se em um relacionamento é um comportamento amplamente negligenciado – e muitas vezes rejeitado –, mas que deveria incluir respeitar genuinamente o espaço, as dores, as expectativas e as frustrações, bem como as oscilações de quem está conosco. Nunca foi real a ideia de que pessoas que se relacionam compartilham apenas o sexo e um amor doce e romântico. Essa ideia configura-se como uma criação humana, fruto de imaginações altamente dependentes de um apoio emocional – que tem suas consequências historicamente comprovadas na forma de violência.

Apesar da necessidade quase que doentia de se utilizar sempre um pronome possessivo quando se fala de relacionamentos, isso não precisa ser assim – ao menos não com tanta fixação. Dizer que uma pessoa é minha namorada, minha noiva, minha esposa, minha mulher ou meu homem, raramente é contestado. Mas você já parou para pensar que isso é uma forma introvertida de garantir a nossa posse sobre outrem? Mesmo que essa seja uma posse teórica e subtendida, ou mesmo que afirmá-la soe radical demais para o nosso mundo social, ela existe. Parece ser uma característica referencial humana dizer que tudo que se relaciona conosco deva ser referenciado com um pronome possessivo (meu vizinho, minha mãe, meu pai, meu amigo e minha amiga, por exemplo). Eu disse e repito: apesar desse costume referencial, a dura verdade é que ninguém é nosso – tentar não incorporar o discurso de posse na vida real pode nos livrar de tantos casos de abuso que são noticiados diariamente. Se algo nessa história nos pertence, eu diria que é a ilusão de que algo nos pertence – essa sim é toda nossa.

Relacionamento deveria ser nem prisão, nem tortura, mas companheirismo. Portanto, em uma síntese, eu diria que relacionar-se é permitir-se ser conhecido e reconhecido, tocado e sentido; é poder afetar e ser afetado numa parceria autorizada conscientemente e de maneira construtiva. Havendo algumas transformações, elas também devem ser conscientes e desejadas por ambas as partes (ou por mais, a depender do tipo de relacionamento, como é no relacionamento aberto ou poliamor). Em um relacionamento saudável ninguém se transforma nem é transformado sem que haja consentimento – se isso acontecer, estaremos diante de um relacionamento abusivo, e todo tipo de relacionamento abusivo deve ser imediatamente desfeito, desde que seja percebido [você precisa assistir a esse vídeo].

 

PARTE II
Amamos apenas uma pessoa, ou somos forçados a acreditar nisso?

Sabendo-se que em um relacionamento não temos o direito sobre o corpo da outra pessoa e que é inadmissível supor qualquer tipo de controle sobre o outro, podemos pensar a respeito das necessidades afetivas e de afinidade de cada um. Popularmente, em relacionamentos ditos tradicionais, o termo “amar” é visto como desejar envolver-se afetiva e sexualmente com alguém. Nesse sentido, é notório que somos levados a acreditar que um ser humano só pode “amar” apenas um ser humano por vez – quando não, dizem que deve ser apenas um por toda a vida. Entretanto, pensando mais profundamente, isso não faz muito sentido por no mínimo duas razões: (I) amar e fazer sexo são coisas independentes, que podem até se complementar, mas não é uma união obrigatória; (II) a partir de um conjunto ético-normativo e de condutas sociais impostas sobre um determinado grupo, podemos controlar nossas atitudes externas, mas é ingênuo pensar que temos controle pleno sobre quando um sentimento por alguém surgirá, seja na forma de uma atração física, sexual ou somente intelectual. No caso I, pessoas podem se relacionar por anos sem nunca praticarem sexo ou praticando com pouca frequência, o que é fortemente combatido pela mídia comunicativa, que aponta a alta atividade sexual como um indicativo de que a relação vai bem – e, claro, isso não é verdade. No caso II, e sem perder de vista o Ise você for uma pessoa sincera o suficiente, não tentará se enganar afirmando que só é capaz de sentir atração pelo seu parceiro [a menos que vocês vivam isolados em uma ilha, sem mais nenhum outro Homo sapiens]. Então, você pode até não manifestar nenhuma reação diante de alguém atraente, mas não pode dizer ao seu corpo “Cale a boca agora mesmo!“. Não somos tão livres e autônomos quanto pensamos.

Certa vez, em uma daquelas leituras que trazem questionamentos inteligentes, um trecho muito importante dentro dessa nossa conversa explora essa temática com bastante brilhantismo, ironia e precisão. O biólogo evolucionista Richard Dawkins, em seu livro Deus, um Delírio, disse o seguinte:

“A antropóloga Helen Fisher, em Por que amamos, exprimiu lindamente a insanidade do amor romântico, e quão exagerado ele é se comparado ao que seria estritamente necessário. Observe comigo. Do ponto de vista de um homem, por exemplo, é improvável que qualquer mulher que ele conheça seja cem vezes mais desejável que suas concorrentes, mas é assim que ele a descreverá quando “apaixonado”. Mais que a devoção monógama fanática a que somos suscetíveis, uma espécie de “poliamor” seria mais racional. (O poliamor é a crença de que é possível amar vários integrantes do sexo oposto simultaneamente, assim como se pode amar mais de um vinho, um compositor, um livro ou um esporte.) Aceitamos sem problemas que somos capazes de amar mais de um filho, mais de um progenitor, mais de um irmão, mais de um professor, mais de um amigo ou mais de um animal de estimação. Pensando assim, a exclusividade total que esperamos do amor conjugal não é esquisita? Mas é o que esperamos, e é o que tentamos obter.”

[Richard Dawkins. Deus, um delírio. Companhia das Letras, SP.  pg. 244. 2015.]

Não sei qual foi a sua reação ao ler tudo que escrevi até aqui. Suspeito de que tenha se contorcido o bastante ao ponto de pensar seriamente se prossegue ou não com a leitura. Se isso aconteceu, tudo bem, eu te entendo. Está Ok se de vez em quando nos incomodarmos com determinados assuntos que caminham no sentido contrário ao que estamos mais habituados. Não somos ensinados em quase nenhum momento das nossas vidas a encarar o amor como algo plural e que não precisa nem deve ser restrito a conceitos criados por humanos – quem deseja saber sobre algo precisa necessariamente buscar as informações, pois elas são evitadas pela maior parte da sociedade.

Dentro do que se chama de normatividade social, pensar em relacionamentos nos dias atuais é inconcebível se o mesmo não figurar como um par que seja necessariamente entre um homem e uma mulher. Além disso, esse par deve unir-se ainda na sua juventude e permanecer junto até que a morte os separe. A ideia de separação ainda é um terror para muita gente sobretudo no mundo cristão, em que principalmente as mulheres são mal vistas caso interrompam um casamento – há casos em que muitas delas esperam anos, ou até décadas, por um “milagre divino” que fará o marido parar de beber ou de espancá-la, simplesmente porque disseram que não separe o homem aquilo que Deus uniu“. Há um princípio que pratico na minha vida, chamado “Não gostou, não funcionou, não deu certo? Separem-se.”, ele ainda me parece o mais honesto, o qual poderia livrar muitas pessoas de um relacionamento que mais se assemelha a uma prisão psicossocial. Pense seriamente sobre isso! Já não bastam todas as obrigações às quais somos presos, por que fazer isso também com o nosso relacionamento só porque disseram que deve ser assim?

 

PARTE III
Relacionamento Aberto – Respostas & comentários

Haja vista o que foi dito, agora eu gostaria de falar diretamente do tema desse texto, que é Relacionamento Aberto. Para isso, usarei de um formato misto: (a) lançarei mão do modelo Q&A (do inglês Questions and Answers – Perguntas e Respostas) e também (b) coletarei algumas afirmações disseminadas na internet e na minha vida pessoal e as comentarei expondo o meu ponto de vista; para algumas frases muito citadas na internet, quando possível, colocarei a referência de quem a disse (por questões autorais), mas destaco o fato de que elas serão comentadas pelo que está escrito nelas, sem saber o contexto em que foram ditas; todavia, a frase por si só representa um ideal muito compartilhado no senso comum. Assim, não custa lembrar que nem todas as perguntas ou afirmações a respeito desse tipo de relacionamento são feitas com o intuito de entender mais sobre a questão; às vezes, dada a resistência ao que é diferente, elas são feitas com o objetivo de ofender a ideia de relacionamento aberto em si e fortalecer o tabu acerca desse assunto. Então, não se espante com o que possa aparecer, tampouco com o que possa ser respondido. Eventualmente, nas respostas o termo Relacionamento Aberto será abreviado em RA, para facilitar a fluidez do texto.

O que é um relacionamento aberto?
É um relacionamento em que os envolvidos não se consideram exclusivos um do outro. A parceria, a confiança e a amizade que se esperaria de qualquer relacionamento tradicional (ou monogâmico) permanecem, com o diferencial da permissividade mútua de se relacionar intimamente (sexualmente ou não), com outras pessoas. Na verdade, é até estranho quando dizem que um casal que vive uma relação aberta está disposto a ter relações fora do casamento – se o próprio casamento é aberto, não existe o “fora do casamento”, essa terminologia se aplica a relações monogâmicas.

O que a bíblia diz sobre o relacionamento aberto?
A opinião bíblica torna-se irrelevante [para mim] nesse contexto, uma vez que nem mesmo o tipo de relacionamento que ela propõe ocorre com respeito ou dignidade. Muito pelo contrário, os tipos de relacionamentos sugeridos pela bíblia [desde o antigo até o novo testamento] parecem mais uma espécie de escravidão, uma subserviência explícita em que uma das partes deve ser sempre subjugada pela outra – e você deve saber muito bem qual é sempre a parte desprezada. Ou vai me dizer que não sabe?

O que leva um casal a optar por um relacionamento aberto?
Os motivos pelos quais um casal abriria o seu relacionamento são variados. Eu digo que querer conhecer melhor a si e à pessoa com quem se vive pode ser uma razão. Apesar desse conhecimento mútuo também ser possível em um relacionamento fechado, no caso de um RA consegue-se expandir muito mais a noção de união e afetividade. Quando se abre o relacionamento, é como se dissesse que o que une não é a posse exclusiva do corpo (como eu disse, isso é uma construção social bem absorvida), mas outras tantas qualidades que de fato deveriam tornar compreensível a ideia de alguém desejar compartilhar a maior parte de sua vida com outrem. Portanto, abrir uma relação é abrir-se ao entendimento do próprio corpo e da própria condição existencial. Vale ressaltar que, caso as pessoas desejem manter um relacionamento monogâmico, tudo bem! isso não significa que elas não poderão entender os limites e os desejos mais íntimos dos envolvidos. Mas, caso optem por experimentar um relacionamento aberto, por que não poderiam fazê-lo?

“Quem tem um relacionamento aberto provavelmente não ama a outra pessoa.”
Essa informação é bem recorrente, porém desprovida de sentido. Ter ou não um RA não faz a menor diferença quando o assunto é amar uma pessoa. Se fizesse alguma diferença, eu diria que nele as pessoas se amam ainda mais, pois não se apropriam umas das outras. Mesmo assim, prefiro guardar essa ideia e dizer que não é o relacionamento que define se amamos ou não alguém. Quem ama, ama! Relacionamentos servem, entre outras coisas, para desenvolver o que já existe e não para fazer brotar amor nos corações – como costumam acreditar; até porque amor não brota. Será que estou muito enganado, ou nos relacionamentos tradicionais nem sempre as pessoas se amam?

“Relacionamento aberto é uma desculpa para sair com todo mundo.”
Essa é mais uma informação descabida. Ninguém deveria precisar de desculpas para sair com todo mundo. Simplesmente deveriam sair com todo mundo caso fosse esse o desejo. Qual é o problema de alguém desejar se relacionar com mais de um Homo sapiens ao longo da vida? A ideia de que isso pertence ao mundo do RA é no mínimo absurda. Se, por um lado, em uma relação aberta as pessoas têm a liberdade de se relacionar com outras tantas quanto considerar adequado e que isso envolve transparência e combinação entre os pares; por outro lado, em relações tradicionais isso também ocorre, com a diferença que acontece de forma escondida, portanto desonesta, desleal e traiçoeira. Uma pessoa dizer que precisou ficar até tarde no trabalho; ou que fará uma viagem emergencial a negócios; ou que foi movida pelos instintos animais; ou, ainda, que deu brecha para o diabo e acabou cedendo à tentação, tudo isso me parece uma verdadeira falta de respeito, que se aproxima muito do que entendo por ser miseravelmente uma desculpa para sair com todo mundoSe o relacionamento fosse aberto, certamente que nenhuma dessas invenções seriam necessárias, pois as pessoas envolvidas saberiam [ou, espera-se que soubessem] dos desejos e dos relacionamentos uma da outra.

“Usar uma aliança sem entender ou sem guardar o seu real significado no coração é o mesmo que um relacionamento aberto.” (Reges Medeiros)
Tentou falar bonito, mas só falou bosta bobagens. Fica até difícil querer explicar algo sobre relacionamento para uma pessoa que realmente acredita que uma aliança diz respeito à união em si. O significado é muito além dessa pobre simbologia, que custa caro em lojas de joias. Mais uma vez, esse tipo de comentário traz a mensagem de que em um RA tudo é permitido, menos o respeito. E obviamente que não é verdade. Por isso, vale a pena insistir: não é o tipo de relacionamento que deve ou não ser respeitoso, são as pessoas. Um indivíduo que não valoriza o espaço, as necessidades e a companhia do outro jamais estaria pronto para qualquer que fosse o tipo de relacionamento. Digo, ainda, que uma pessoa assim não está pronta nem para conviver com ela mesma.

“Relacionamento aberto significa alguém pulando pela janela quando você entrar pela porta.” (Ricardo Barbosa)
Que disse isso foi a mesma pessoa a quem atribuem a frase “Filmes de terror não assustam. Tenho medo dos romances. Neles, as pessoas se casam“. O nome desse indivíduo dialoga bastante com as narrativas populares, de uma pessoa que justamente se esconde no guarda-roupas ou que pula a janela quando o marido chega. Mas nessa estória popular a relação é sempre monogâmica. Sem sombras de dúvida o tal Ricardo – e quem pensa parecido com ele – não sabe nada do que é um RA, e acredita que nele as coisas acontecem às escondidas, como em alguns casos de relacionamentos tradicionais. Talvez seja um profundo incômodo que faça as pessoas usarem de outros nomes para nomearem suas próprias relações, uma vez que sujar a fama de um “casamento ideal” pode ser muito feio e humilhante.

O que é considerado traição em um RA?
O conceito de traição deve ser esclarecido, antes de pensar nele dentro de um RA. Por isso, sugiro fortemente que, caso queira mesmo saber sobre o assunto, antes assista ao vídeo da professora Maria Homem. Se você o assistiu, percebeu que não existe uma definição universal de traição que caiba a todos os pares. Falando da minha opinião, traição é descumprir algum acordo que tenha sido amplamente discutido. Quando as duas partes entendem que determinadas práticas são desagradáveis e que fazê-las ferirá de alguma maneira a dignidade de apenas uma que seja, isso pode ser considerado como traição. Por exemplo, se está acordado de que não serão feitas comparações entre os relacionamentos que venham a surgir (seja sobre as partes íntimas, sobre o nível de prazer sentido, ou sobre preferências), isso deve ser respeitado, do contrário pode ser visto como uma traição. Neste caso, como na maioria, será uma traição da confiança – que é a essência de uma relação.

Existem regras?
Dando continuidade à questão anterior, responder se existem regras não é tão difícil. Como em qualquer outro relacionamento, no RA existem algumas orientações mutuamente estabelecidas que, se seguidas, tornam o convívio mais harmônico, natural e transparente. Alguns preferem chamar essas orientações de regras, seja como quiserem. Eu chamo também de acordos, estratégias de companheirismo, ou qualquer outra coisa do gênero. Um exemplo disso, e que considero fundamental, é a transparência. Sempre que se conhecer uma pessoa nova, as partes devem estar cientes. Se serão fornecidos detalhes da pessoa – como nome, fotos e hábitos – ou se serão transmitidas as conversas que eles mantém, isso depende do consentimento conjunto de ambos. Eu considero que quando se vive um RA é importante que as duas partes se vejam sobretudo como grandes amigas; isso tende a modificar a relação no sentido de tornar mais fluida a comunicação. Assim como grandes amigos comunicam-se sobre seus encontros, suas paqueras e suas intenções, em um relacionamento aberto isso também pode ocorrer. Particularmente, considero muito mais saudável.
Algumas pessoas têm regras como “nunca se relacionar com amigos em comum, ou parentes da outra parte; ou, ainda, com pessoas potencialmente conhecidas em comum. Há também aquelas que preferem nem saber sobre os demais parceiros. Tudo isso diz respeito ao modo como se enxerga não apenas a relação, mas a vida das pessoas que participam dessa relação. Não sei se é ruim ou estranho se relacionar com pessoas conhecidas em comum – que diferença isso faria já que ninguém está se escondendo de ninguém? Eu acharia até natural que a pessoa “”oficial“” trouxesse alguém com quem ela está se relacionando para conhecer a mim, a nossa casa, o nosso estilo de vida e, porque não, desenvolver inclusive uma amizade. É claro que isso exige um desprendimento das amarras sociais e um desapego enorme da síndrome de possessividade – oriunda do que chamei de característica referencial (conforme comentei na Parte I desse texto); mas não se chega a lugar nenhum sem ao menos se arriscar algo.

Como lidar com o ciúme?
Embora não seja ideal nem necessário, o ciúme se mostra passível de acontecer em qualquer que seja o tipo de relacionamento. Essa é mais uma questão de maturidade e reconhecimento de si e do outro do que uma questão específica de relações abertas. Só posso dizer que o ciúme atrapalha qualquer tipo de relacionamento – se você puder (e você pode), elimine-o da sua vida! Já!
Ressaltando, lidar com ciúmes não é uma tarefa desempenhada com facilidade em nenhuma circunstância da vida, uma vez que o ciúme envolve fortemente aspectos psicológicos com consequências materiais tanto na pessoa ciumenta quanto no alvo ou objeto do ciúme. Eu preparei um texto sobre Relacionamentos & Ciúmes. Caso você tenha interesse em saber como eu enxergo essa questão, fica o convite para você dar uma lida. É só clicar aqui.

“Relacionamento aberto? kkkk Está maluco? Não divido nem o lanche.” (Veja a publicação original)
Essa frase não precisa de uma explicação exclusiva, você deve ter depreendido do que leu antes que não se pode dividir aquilo que não é seu. Logo, é realmente impossível dividir uma pessoa com alguém. Acordar para perceber que não somos donos de ninguém é um passo indispensável para a maturidade de qualquer relação pessoal – pense nisso! Lembrando que em relacionamentos abertos não dividimos ninguém, só compartilhamos e somamos experiências. #ficaadica

“Tenho horror a relação aberta. Tenho temperamento forte, sou possessiva, ciumenta. Se quiser experimentar um relacionamento aberto, vá experimentar sozinho.” (frase atribuída a Adriane Galisteu)
Essa frase é apenas para reforçar o quanto as pessoas pensam que são donas de outras pessoas. Por isso, a resposta anterior cabe muito bem aqui. E, não, a Adriane Galisteu não parece saber o que é uma relação aberta – seria muito bom se ao menos ela soubesse o que é um relacionamento – mas não consegui identificar nada nem perto disso nessa frase.

Quais prejuízos podem ter quem toma a decisão te manter um relacionamento aberto?
Os prejuízos podem ser exatamente os mesmos que de qualquer outro tipo de relacionamento. Desde distúrbios psíquicos até DST, qualquer coisa pode acontecer quando dois ou mais Homo sapiens decidem se relacionar – no caso das DSTs isso vale quando o relacionamento está aberto também para a prática sexual (não sei, achei necessário deixar claro… vai que…). Até hoje a humanidade não descobriu uma maneira efetiva de como evitar os vários tipos de prejuízos que podem surgir quando seres humanos se relacionam – não é um relacionamento aberto que resolverá essa questão.

“Eu optei por ter relacionamento aberto, mas isso não significa que todo mundo deva ter um.” 
Exatamente isso! Uma relação aberta será sempre um opção, jamais uma regra. De regras já estamos cheios. Escolham o que melhor lhe traduz os seus sentimentos, desejos e afetos. E deixe que cada um decida a sua vida dentro de suas possibilidades.

“Quem pratica um relacionamento aberto é superior aos que praticam o monogâmico.”
Nem há muito o que comentar. A resposta é definitivamente NÃO! Ninguém é superior a ninguém pelas escolhas de um formato no relacionamento.

“Optar por um relacionamento aberto não é só uma questão de sexo.”
Perfeito! Como explico ao longo do texto, o sexo não é parte fundamental de um relacionamento, e isso vale também para um RA. Logo, relacionar-se pode ser uma ação feita com palavras, carinhos não sexuais, companheirismo e, sobretudo, uma amizade sadia e honesta.

“Acho besteira esse negócio de relação aberta, a única diferença dessa relação pra quem é solteiro é que você tem um parceiro fixo, e o outro (a) que entra na história é uma variação do cardápio, prefiro ser solteira nesse caso aí, e sair com quem eu quiser.” (Veja a publicação original)
Primeiramente, segundo a lógica da vida, quem é solteiro o é por não estar se relacionando com mais ninguém. Em segundo lugar, pessoas não são partes de um “cardápio“, que selecionamos apenas para nos saciarmos com elas. Pessoas são pessoas, que têm uma vida, um universo de experiências e de expectativas que precisam ser considerados em uma relação, independentemente sob qual formato ela se apresente. Por isso, essa frase é duplamente cega: solteiros são solteiros; pessoas têm valores e não são cardápios. E quem escreveu essa frase também não sabe o que é de fato um relacionamento aberto.

“_Mas se ambos querem ficar com outras pessoas, por que não ficam solteiros? Isso não entra na minha cabeça! E olha que não sou uma pessoa antiquada, mas parece putaria.
_É putaria. É a putaria com nome bonitinho e com DST de brinde.” 
(Veja a publicação original)

Deveria ser desnecessário, mas estamos aqui para dizer: ser humano, as coisas não precisam entrar na sua cabeça para que existam. Pelo contrário, geralmente colocamos na cabeça justamente as coisas que não existem – coisas reais acontecem. E dizer que essa pessoinha não é antiquada soa quase como uma suspeita de que ela trocou as palavras – em vez de “antiquada”, talvez ela quis dizer “inteligente”.
No comentário seguinte a merda é grande, a outra pessoa diz que, além de putaria, os RA têm DST de brinde. Bom, por saber que um RA não é algo amplamente praticado e que em relações tradicionais não há o perigo de existirem DST, então devemos ficar em paz e parar de nos preocuparmos com doenças sexualmente transmissíveis. Pena que isso é um enorme absurdo. A preocupação com DST é questão de saúde pública e deve ser cuidada em todos os tipos de relacionamentos. Eu disse em todos.

“E se um de nós se apaixonar por outra pessoa?”
Isso realmente pode acontecer, quem é que controla por quem se apaixonar? A única coisa a ser feita, sem nenhum tipo de universalização, é manter firme o diálogo entre os participantes da relação. Sem diálogo, amizade, compreensão e respeito é impossível que haja qualquer tipo de relacionamento sadio; portanto, o mesmo vale para o RA.

Há riscos de perder o parceiro ou a parceira? Como pensar sobre isso?
Dizer que não há riscos de perder o parceiro seria pelo menos incoerente. a) não se perde o que não se possui; b)perder“, no contexto de “terminar o relacionamento” porque uma das partes decidiu isso, deveria ser aceitável. Pessoas têm o direito de finalizar uma relação quando sentirem que isso precisa ser feito. É uma questão de liberdade, e isso jamais esteve ligado a um tipo específico de relacionamento. Lembre-se daquele princípio que utilizo: Não gostou, não funcionou, não deu certo? Separem-se.”.

 

PARTE IV
Por que esse tema permanece como um grande tabu na sociedade?

Sugiro fortemente que você considere a leitura do texto Há um muro que nos separa do diferenteEle levanta questionamentos sobre como determinados tabus são construídos e mantidos na nossa sociedade. Por hora, a única coisa que posso dizer sobre relacionamentos abertos é que envolvem uma série de conceitos e de costumes que estão fortemente arraigados na nossa cultura e naquilo que entendemos por intimidade e por relação humana.

Geralmente, quando alguém ouve o termo “Relacionamento Aberto”, imediatamente se pronuncia contra e logo levanta questões como as levantadas na Parte III. Como pudemos perceber, e como também se mostra para os mais variados assuntos não tradicionais na nossa sociedade, a maioria das pessoas não conhece aquilo a que critica. Mas decide criticar porque, talvez, acredite que fazendo isso estará extirpando algum tipo de maldição da humanidade. Portanto, em resumo, acredito que esse tabu permanece tão fixado na nossa sociedade porque ainda não aprendemos a conhecer as coisas antes de construirmos nossas opiniões sobre elas. E, entenda, está tudo bem se você não quiser manter uma relação aberta – basta não manter. Mas também não faz sentido criar um monstro e lançá-lo sobre os outros. Respeito e empatia ainda são importantes! #VocêJáParouParaPensar?

 


PARTE V
Links externos

Embora a maior parte das perguntas ou afirmações utilizadas na Parte III deste texto sejam de autoria do Blog Devaneios Filosóficos, algumas delas foram retiradas dos links abaixo:

8 perguntas que você deve fazer antes de ter um relacionamento aberto
https://noticias.bol.uol.com.br/ultimas-noticias/entretenimento/2017/09/16/8-perguntas-que-voce-deve-fazer-antes-de-ter-um-relacionamento-aberto.htm

17 coisas que casais em relacionamentos abertos querem esclarecer
https://www.buzzfeed.com/br/victornascimento/coisas-que-casais-em-relacionamento-aberto-gostariam-de

 

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Andreone T. Medrado
Devaneios Filosóficos

 

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NOTA: a imagem utilizada para compor a capa desse publicação foi obtida aqui.