“Que sorriso lindo”
Esse era geralmente o único elogio que eu recebia da minha “aparência física” durante boa parte da minha vida. O que é o sorriso senão uma movimentação de algo físico que temos e que, quando expresso, em geral, participa daquele contexto quase que em concordância simbólica? Não que estejamos sorrindo porque necessariamente concordamos com o que se passa ali no contexto da cena, mas estamos de alguma forma não-rejeitando o acontecimento explicitamente. Seja o que for, o sorrir pode ser simpático, e supostamente o meu o era. Pois sempre o elogiavam.
Aprendi a gostar de sorrir. Aprendi que se algo bom havia em mim era isso: sorrir das e para as coisas. Verdade é que sorrir – por sorrir – não é/era uma dificuldade para mim, nem nunca foi. Mas agora que escrevo penso se meu sorriso chegava antes ou depois dos eventos, se ele chegava antes ou depois de mim. Será que aprendi a sorrir para me proteger de uma frustração da baixa autoestima, ou seria o sorriso algo de fato meu? Eu sorrio porque as coisas me tocam? Ou as coisas me tocam porque sorrio? Bom, seja como for, parece mais sensato que eu diga que essas duas coisas – o antes e o depois – estão hoje misturadas, miscigenadas de tal forma que não se sabe o que vem antes nem depois, só se sabe que é e que está. Aprendi a gostar de sorrir, pois também silenciosamente disseram que era bom. Mas talvez também aprendi a fingir, para dizerem que eram lindo.
O mesmo não ocorreu com a minha cor. Essa, que com toda certeza chegava antes de mim e que permanecia para além da minha vontade, não tinha uma aceitação tão agradável, tampouco produzia um elogio, tal como o sorriso. “Cor de jambo”; “Moreninho”; “Marrom”; “Mulatinho”; “Escurinho”; “Color de súcio”; “Muy negro”, etc. Esses eram os atributos que minha cor produzia quando, por razões racistas e inesgotáveis, muitas pessoas resolviam abrir a boca e comentar a respeito dela. Esses foram termos que ouvi inúmeras vezes, desde muito cedo, e que foram significando a concentração de melanina que havia na minha pele.
De certa forma, hoje sei que não é xingamento uma pessoa ser chamada de negra/preta. Mas sei disso não tem muitos anos. Por muito tempo, ter a pele negra significava para mim um conjunto de simbologias que na somatória representavam o indesejável, o não-atraente, o sujo e o “passado do ponto”. Na maior parte das vezes (para não dizer todas), os adjetivos que sempre marcaram (e arrisco dizer que ainda marcam) a cor da minha pele apareciam em contexto que destacavam uma anormalidade. Não era normal ser uma pessoa negra, embora a maioria brasileira assim se declara. Não era normal ser aquilo que dentro de um ideal de branquitude não pertencia ao desejável modelo de ser humano universal. Aqueles adjetivos surgiam sempre como um método historicamente implementado e insistentemente aplicado para destacar uma separação entre o branco e o não-aceito. Ingênuo e até agressivo comigo mesme seria dizer que não tentei aprender a fingir uma não-negritude. Assim, na mesma lógica do sorriso, porém com um movimento contrário, aprendi criar maneiras de lidar com aquilo, mas nesse caso aprendi a desgostar da minha cor. Com a diferença que, se por um lado posso forjar um sorriso e fazer com que acreditem nele, por outro, nenhum fingimento tiraria de mim a minha cor e o que ela representa socialmente. Ela está ali mesmo que eu não diga e não faça nada.
Aprendi a desgostar da minha cor ao ver que ela chegava antes de mim e dos contextos, e chegava anunciando que eu não deveria chegar; e disso não tenho dúvidas. Ela chegava antes, estava lá no meu silêncio, a viam sem que me vissem antes; não importa o nome, o gênero, a idade, a subjetividade, a cor estava ali, sendo vista e classificada. Aprendi a desgostar não só da cor, mas de tudo que a produzisse enquanto uma marcação social. Aprendi a desgostar de mim.
Queria me afastar do que me marcava enquanto sujeito escuro. Ser uma pessoa negra não me parecia algo atraente nem interessante. Mesmo numa criação religiosa em que supostamente (e bem ilusoriamente) as pessoas se amavam, o ser-negro não entrava na lista dos elementos desejáveis. Era preciso a pele clara e os cabelos lisos.
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Ali, naquela comunidade fechada, restrita no amor de um deus branco e de um jesus europeu ridiculamente branco, quanto mais clara a pele, quanto mais lisos os cabelos e quanto mais doce a brancura, maior a confiança, o prestígio e a confiabilidade.
Ali dentro, mulher de verdade, aquela que era dita “mulher para casar e ter uma família; uma pessoa realmente temente a deus”, era aquela de cabelos compridos, bem compridos, que não eram cortados, e que estavam sempre exibidos como símbolo de obediência e virtude. Quais mulheres daquele meio – e aqui considere a cisnormatividade em toda sua essência – tinha cabelos lisos e compridos senão a mulher branca? É até desnecessário dizer que quanto mais claros os cabelos mais linda se considera a “serva de deus”. Foi nesse meio que cresci, numa produção profundamente heteronormativa e racista, aprendendo que pessoa linda e desejável era esse perfil. Perfil que em geral se relacionava com seus pares estéticos: homens brancos, de cabelos lisos e desejáveis. Se você queria o maior símbolo de sucesso e de sorte no amor, deus teria de te agraciar com essa simbologia viva. O racismo operava suas dinâmica no afeto, na geração, no amor [branco].
Mas aqui entra outra dimensão do racismo que daria tema para um outro texto: O Amor e a Negritude. Deixemos esses aspectos para depois. Por hora vamos focar no processo de rejeição de si a partir de um outro elemento: o sol.
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“Olhe, um preto!” Era um stimulus externo, me futucando quando eu passava. Eu esboçava um sorriso.
“Olhe, um preto!” É verdade, eu me divertia.
“Olhe, um preto!” O círculo fechava-se pouco a pouco. Eu me divertia abertamente.
“Mamãe, olhe o preto, estou com medo!” Medo! Medo! E começavam a me temer. Quis gargalhar até sufocar, mas isso tornou-se impossível.”
(FANON, 2008, p. 104-105)*.
Branca eu sabia que não poderia ser a minha pele, isso de modo algum pertencia ao conjunto de ações possíveis. Mas há um “inconsciente coletivo” que nos direciona, como pessoas negras, a buscar por uma brancura inalcançável. Inclusive, considero de uma extrema ingenuidade supor que existe uma única maneira de se buscar pela brancura. Na verdade, suas possibilidades são tão amplas quanto inimagináveis; desde o clareamento geracional, passando pelos símbolos sociais de ascenção, até a prática comportamental de ações de branquitude (ver um texto no blog sobre isso). Nesse contexto, eu fui na direção não apenas de querer ser respeitade como um sujeito branco, mas principalmente caminhei na fuga daquilo que poderia ressaltar que eu era uma pessoa negra. Eu fui direto contra aquilo de que aprendi a não gostar: a cor da minha pele.
Por muito tempo acreditei que odiava o calor porque ele me fazia suar; o que não é em si um equívoco. Mas sempre achei insuportável a ideia de tomar sol porque depois disso eu estaria suade, já que suo com facilidade. Não um suor que escorre pelo corpo, mas aquele mais pegajoso, esteticamente oleoso. Difícil é saber se o pegajoso foi uma noção posterior ao não gostar de suar, significada dessa maneira para acentuar outras rejeições, e por isso o adjetivei dessa maneira, ou se de fato era isso por que simplesmente representei desse modo.
Depois de muita introspecção, de muitos fantasmas [re]visitados e depois de muito pensar sobre as dinâmicas racistas que me fizeram ressignificar inúmeras coisas da minha vida, desde afetos até sensações térmicas, algo hoje me parece muito plausível de dizer: num exercício de rejeição de mim mesme, rejeitei primeiro aquilo que chega antes de mim onde quer que eu vá: a minha cor. Se a cor era algo tão repulsivo assim em mim, não o era porque eu não gostava dela necessariamente; tampouco essa rejeição se dava por eu de fato acreditar que ser uma pessoa negra era realmente um defeito per se. Em vez disso, todo um sistema racista induzia em mim, dia após dia, noite após noite, a sensação de não existência; ou de uma existência não-válida. Quiçá eu quisera tanto existir que para validar a minha existência precisava “apagar” aquilo que me apagava enquanto ser humano.
Para cada pessoa o racismo pode ter mecanismos diferentes que as afetam em sua subjetividade. Entre outras coisas, uma das consequências do racismo se dá na nossa noção pessoal de que somos nós o problema, que está em nós a mazela que não nos insere no conjunto social. O racismo, produzido em práticas silenciosas, gritantes, veladas, vociferantes, opera mecanismos de autorrejeição. O prior preconceito é aquele que produz na vítima de uma prática sócio-histórica o sentimento de que realmente ela é o que o preconceito diz ser. Uma das piores mazelas do racismo é fazer a pessoa negra olhar para si e se achar feia por ser o que ela é, sem questionar o que produziu essa sensação.
Muitas vezes, num movimento ainda mais perverso, o racismo desloca a noção de ser-negra para outras marcações sociais, que se somam ao racismo, deixando-o em um plano operativo não visível e elencando outras marcas utilizadas e significadas como defeitos. É assim que pessoas negras podem se rejeitar por sua classe, seu acesso à educação, seu corpo, sua identidade de gênero, etc. Tudo que dentro de um conjunto de nomeações socialmente discriminadas possa somar negatividades ao ser negro pode também ser tomado pelo sujeito como um defeito a ser evitado, consertado, reparado e, se possível eliminado. Em mim teve um pouco de cada coisa, mas o que guiava o conjunto geral de rejeições era, novamente, a melanina.
Tentei ser o mais inteligente que podia ser; queria ser sempre a primeira pessoa nas colocações intelectuais, queria saber de tudo, entender sobre qualquer coisa, filosofar sobre o universo e sobre a mente. Queria uma chance de ser alguém visto como alguém. Nessa somatória de esforços, até consegui ser considerada uma pessoa inteligente, cheguei em lugares que a maioria das pessoas negras não chegam, fiz e falei coisas que muitas pessoas como eu não tiveram a oportunidade de falar e fazer. Mas nunca tive condições próprias de validar esses títulos. Olhar ao redor e ver o poder do racismo derrubando pessoas como eu só por elas serem negras era como reforçar na minha mente que nada era o bastante – e que eu sempre poderia ser a próxima pessoa a tombar. Ver que eu tinha de fazer 10 vezes mais que uma pessoa branca medíocre e descomprometida para ainda assim não alcançar as mesmas possibilidades que elas me fazia provar várias vezes de um sentimento de desgaste, fortemente acompanhado pelo sentimento de impotência. Hoje não vejo graça nisso que chamam de vida; em algum lugar perdi aquilo que chamam de otimismo e de esperança.
Apesar disso, ou justamente por isso, a minha mente retrospectiva revive narrativas, costura o tempo, cava túneis e retoma momentos de uma vida que me construiu. O mais longe que consigo ir na minha memória de significados associados a minha cor é quando eu tinha por volta dos dez anos de idade, quando viajei para a Bahia. Fui com minha mãe, irmãos e irmãs visitar meus avós. Quando estive ali, por ser de maioria igual a mim – pessoas também negras – não me senti em deslocamento social – eu era só mais uma pessoa, alguém comum, gente da gente; tampouco me senti alguém exótico (exceto pela ausência de um sotaque baiano que eu já havia perdido, pois nasci na Bahia, mas minha família se mudou para São Paulo quando eu ia fazer 2 anos – conto um pouco dessa história aqui). Mas foi na volta a SP que me lembro onde começou a evitação profunda à minha cor, e sua ligação à repulsa ao sol. Como assim?
Quando eu voltei para São Paulo eu estava com a pele muito mais escura do que costumava ter. Eu estive por quase 30 dias na Bahia, sob o sol que ali fazia. Eu brincava o dia todo, ficava sem camiseta, raramente ficava em casa, sempre na rua. Voltei para SP com a pele bem mais escura, de tanto sol que tomei; mas voltei contente, aquilo tudo era uma festa.
No entanto, se lá eu era só mais uma criança, aqui eu era uma criança diferente – no mínimo me sentia assim. Por estar com a pele escura eu estava [e me sentia] mais diferente ainda. Talvez, antes, alguma semente estava em mim que me fazia não querer parecer negra; mas quando voltei da Bahia a semente já havia germinado, e era uma planta, pois um dia, quando precisei tirar uma foto 3×4 para o colégio, olhando para a foto na minha mão, achei aquela pessoa muito escura, mas tão escura que não queria que fossa daquela maneira. Não tenho mais aquela foto comigo, ao menos não a encontro, mas tenho algumas antes disso, e outras depois. Não posso afirmar categoricamente, mas até onde sou capaz de lembrar – e olha que a minha memória costuma ser razoável – foi a partir daquele dia que eu passei a evitar tudo que possibilitava um escurecimento estético.
Foi também nessa época, pouquíssimo depois desse episódio, que eu e meu irmão mais velho precisamos começar a ajudar nosso pai nos serviços dele. Trabalhávamos com ele em suas lojinhas de materiais elétricos; depois no depósito de materiais para construção e, finalmente, passamos a ajudá-lo instalando antenas parabólicas em residências. Antenas são fixadas em telhados, logo precisaríamos estar diretamente em exposição ao sol. Eu tinha de ficar ali, ao sol, mesmo sabendo que não queria aquilo. A única maneira de fugir do sol era entrando debaixo da telhado. E fazia um calor infernal sob as telhas. Odiava passar aquele calor, mas queria menos ainda ficar com a pele escura.
Ao mesmo tempo, parecia errado não querer ser quem eu era. Parecia errado – por razões várias, desde “não aceitar o modo como eu nasci”, como também parecia vazio de sentido ir contra minha “natureza”. De toda maneira, eu não precisava ter consciência de coisa alguma para não querer ficar com a pele mais escura. Além disso, gostar de algo não é o suficiente para não rejeitá-lo. Da mesma forma, compreender que uma coisa não é correta nem sempre é o bastante para que não a façamos involuntariamente. E no contexto racial isso tem todo sentido; ao menos no meu universo de experiências subjetivas e materiais era um sentido bem consistente.
Saber que minha cor era natural não impedia de eu sentir que não queria tê-la em várias circunstâncias. Penso que, ao poucos, dia após dia, sol após sol, passei a ressignificar o racismo.
Como raramente se discutia raça na minha casa e família, já que naquele contexto religioso “éramos todes iguais perante deus”, também não aprendi a amar a minha cor. Se amando a cor já é difícil ser uma pessoa negra, imagine se não sabemos que ela pode ser amada?
Passei, então, a culpar o sol por me enegrecer. Mas culpar o sol por isso talvez fosse ilógico para as pessoas. Muita gente gosta de tomar sol; pessoas brancas gostam do sol, pessoas negras também. Não seria uma boa estratégia odiar o sol. Como justificaria que o sol me queima e que odeio isso? Soaria ridículo. Novamente, não aceitariam que eu me odiasse. O racismo quer que façamos isso de uma forma ou de outra, mas não podemos assumir o ódio, ele precisa ser velado para não ser revelado em sua maldade. Mas eu queria alguma maneira de evitar o sol e que simultaneamente me poupasse de ter de explicar às pessoas o porquê daquilo.
Estar ao sol me esquentava, me dava calor, me fazia suar, e realmente não gosto de sentir calor. Foi quando aprendi a velar o racismo dizendo que odeio sentir calor. E as pessoas aceitavam de bom tom que eu odiasse o calor pelo calor. Logo, a maneira que achei para justificar minha aversão ao sol – e consequentemente à cor que ele me dava – era dizendo que odeio passar calor. Novamente, preciso reiterar um ponto para prosseguir: eu sinto muito incômodo com o calor; não consigo dormir se sentir calor; não me concentro em atividades; não fico vontade. De fato não tolero bem o calor. Eis mais uma possível análise: por não gostar do calor e não gostar de ficar suando, passei a usar isso de bode expiatório para evitar o sol. Usei de algo que de fato existia e tinha senso de realidade para recusar me expor ao sol e ganhar cor. Tanto é que, em casos extremos, eu usava roupas que evidentemente me fariam suar (como terno, de camisa e grava em pelo calor do meio-dia para ir à igreja), mas não me expunha ao sol. O calor foi tão ressignificado que passou a assumir o lugar do sol, quiçá inconscientemente; e o objeto aversivo foi alocado para um campo pouco notado, e significado por uma sensação física que o media.
De fato eu não gostava e nem gosto do calor, mas esse não gostar se tornou o caminho pelo qual trabalhei um disfarce de não gostar de mim. Um lugar revelava e revela bem essa dinâmica: a praia. Sempre que eu ia à praia (isso depois de adulte) eu via as pessoas ali sem camiseta, andando, brincando, correndo… mas eu nunca fazia aquilo; sabia que poderia ter a pele ainda mais escurecida se me expusesse ao sol. Aprendi também a não gostar de ficar sem camiseta (primeiro por isso, segundo por não gostar do meu corpo). O racismo é bastante perverso. Eu estava bem posto num processo de adestramento social tal que não precisava mais pensar tanto em ficar mais escuro e sofrer mais racismo; isso não precisava mais ser um caminho mental a ser percorrido quando pensava no sol. Era um processo automático. Se tem sol, me escondo. Pronto.
Só depois de 36 anos de idade, recentemente tirei a camiseta na praia pela primeira vez. Depois de muito me questionar sobre a negritude, depois de muito refletir sobre racismo no Brasil e olhando atentamente para o meu processo de racialização e para um processo mais geral e histórico, entendi que minha rejeição ao calor é hoje legítima, mas que minha rejeição ao sol não é genuína, mas construída socialmente.
Esse é apenas um relato de como a construção social da autoimagem, da autoestima e do amor à negritude encontra obstáculos de várias ordens. Existe uma estruturação social do racismo que produz nas pessoas negras um senso de autodefesa contínua. Com isso nos defendemos tanto do racismo que passamos a nos defender de nós mesmes. Enquanto eu fugi a vida inteira do sol para não reforçar minha cor, pessoas brancas já falaram para mim que resolveriam facilmente a questão de usar cotas raciais em processos vestibulares: “Ah, nada que meia hora de praia não resolva para eu ficar escurinha”. É perversa, é suja e é oportunista a branquitude que encontra acesso inclusive pelas vias que elas construíram para oprimir todo um grupo.
Hoje sou uma pessoa bem diferente daquela de 26 anos atrás. Tenho uma consciência racial que na época era inimaginável. Olho para trás e vejo como criamos estratégias subjetivas de sobrevivência que constroem significados e coerências que, ao menos na mente da pessoa racializada, permite uma fuga temporária de um sofrimento evidente, mesmo que para isso seja preciso criar outros tons de sofrimento. No meu caso, nunca foi por não me reconhecer uma pessoa negra, talvez o que mais motivou isso tudo foi justamente a certeza de ser negra. No entanto não é assim para todes. Uma aluna de quase 40 anos de idade certa vez me enviou um e-mail dizendo que estava aos prantos digitando aquela mensagem, pois no dia anterior durante a aula eu falava sobre o livro Tornar-se Negro, de Neusa Santos Souza. No e-mail ela dizia que naquele dia estava percebendo que era uma pessoa negra, mas que não tinha se visto daquele jeito até então. Nossa identidade negra ou é apagada pela branquitude, ou, quando a percebemos demais, queremos evitá-la de ser reforçada.
Por isso que precisamos falar sobre o racismo, mostrar seus mecanismos objetivos e subjetivos. Precisamos ensinar nossas crianças que elas são lindas, que são normais, que são gente. Mais que isso, precisamos acolher os medos e receios que o racismo estrutural produz em nossas mentes todos os dias; não precisamos tratar como alucinação ou delírio os mecanismos que construímos para lidar com o as práticas racistas cotidianas. São estratégias psicossociais que fazem sentido na cabeça de quem [ainda] tenta sobreviver aos efeitos do racismo. Estamos construindo um reflexo positivo de sermos como somos, valorizando a nossa cor? Em uma sociedade diariamente racista, precisamos diariamente nos lembrar que merecemos viver.
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(*) FANON, Frantz. A experiência vivida do negro. In: FANON, Frantz. Peles negras, máscaras brancas. Salvador: UFBA, 2008.
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Andreone T. Medrado
Devaneios Filosóficos
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Digo que a sexualidade no homem é digamos confirmada na passagem para a adolescência e minha primeira ejaculação e expontânea, foi com colega “cor de jambo” e que pernas maravilhosas ele passou a ter naquela “ebulição hormonal”! Chegava a ir a minha casa para irmos juntos a escola, uma amizade “multiracial” e como desejei ele me iniciar, mas ficava ele no charme! Aos 40 anos que pude senti-lo em Motel: durante o trajeto meu corpo se abria para acolhê-lo: ambos suados, dispensamos a banheira, na cama ele perplexo do encaixe que pode me fazer e logo ele teve gostosa ereção! Apenas uma dúvida fiquei da nossa adolescência: será que alguma vez ele ejaculou por mim, também espontaneamente, afinal maturidade de ir me buscar para irmos juntos a escola ele teve, uma deferência dos adolescentes que buscavam flertar e principalmente quem flertar!
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