Vou começar essa publicação com uma pergunta que considero importante (e que já foi feita em outro Post): Quantas religiões você conhece?
Essa pergunta, apesar de simples, é muito importante, pois não é raro um debate superficial a respeito da diversidade religiosa e, consequentemente, e infelizmente, não é nada raro que exista um imenso e descabido preconceito sobre o tema. Fala-se muito sabendo-se quase nada. A propósito, vale dizer que esta introdução não te será absolutamente útil para consolidar o seu conhecimento teórico sobre o assunto de maneira significativa – uma vez que ela servirá essencialmente como um mapeamento daquilo que você supostamente saiba -, todavia é uma excelente oportunidade (e ferramenta) para se conhecer a imensidão religiosa que existe/existiu ao longo da história humana.
Veja a imagem ampliada neste link, ou clicando sobre a figura abaixo:
https://000024.org/religions_tree/religions_tree_8.html
Depois de você investir alguns minutos do seu tempo ampliando a imagem e buscando as ramificações de pelo menos uma religião da árvore, suspeito de que não considerará tão coerente dizer que uma crença seja superior à outra. Não seria interessante, tão pouco inteligente, supor que dentre tanta variedade religiosa haja a necessidade de se destacar essa ou aquela como sendo superior ou inferior. Você concorda?
Tenho para mim que o conjunto das Religiões representa um universo complexo que existe ainda que você decida não acreditar nele. A propósito, você não precisa seguir nenhuma religião para reconhecer a influência social, histórica e cultural que ela exerce e sempre exerceu sobre a formação da humanidade sapiens. Isso é uma questão de reconhecimento de mundo! Ademais, poder enxergar a essência de cada uma delas e perceber o quanto são ricas é uma questão de sabedoria.
Você segue alguma Religião?
Essa é uma pergunta muito comum quando duas pessoas acabam de se conhecer. Às vezes, ela é feita antes mesmo de se perguntar “o que você faz da vida?“, ou “o que você gosta de fazer?“. Particularmente, não acho que “Você segue alguma religião?” seja uma pergunta muito útil. Que diferença faz eu saber a sua religião? Eu passaria a evitá-lo se eu fosse muçulmano e você umbandista? Não deveria fazer a menor diferença! O caráter e a conduta Humana deveriam ser muito mais significativos na avaliação de um relacionamento. E, cá entre nós, ninguém sai por aí perguntando “você é honesto?“, ou “você costuma tratar bem as pessoas sem esperar algo em troca?”.
Por outro lado, em se tratando de um post que eu – espontaneamente – decidi escrever, buscarei responder a esse questionamento sem rodeios: Não! Eu não sigo nenhuma religião específica.
Por mais de duas décadas (quase três) eu segui uma religião chamada Cristianismo. Eu frequentava uma determinada igreja do tipo evangélica pentecostal que é muito difundida do Brasil desde o ano de 1910. Eu era um frequentador assíduo, participava de todas as atividades e, inclusive, tinha um cargo ali. Mesmo assim, eu sempre fui muito questionador sobre tudo (para variar…); não bastava me dizer uma coisa, eu queria entender o porquê daquela coisa – quando o assunto é conduta de Vida, ou eu entendo o que faço, ou prefiro não fazer. Ter uma resposta pronta para tudo, a qual cabia dentro de um único livro, não era suficiente para mim.
Nesse sentido, dada toda essa minha “inquietação existencial“, passei a expandir o meu olhar. Quis enxergar além do “universo” no qual eu estava inserido; comecei a observar o mundo e as diferentes manifestações humanas que fazem parte dele. Foi quando tive meus primeiros contatos com livros que abordavam temas religiosos que não o Cristianismo. Desde então, muita coisa começou a mudar em minha mente. Existem tantas ideias e “ensinamentos” que estão cada um em uma religião que eu não conseguia mais guiar a minha vida a partir de um único livro – a saber, a Bíblia.
Eu percebia que, à medida que eu me vinculava à uma determinada religião, eu necessariamente descartava as demais. Isso porque, em geral, os religiosos não consideram adequado que você apregoe o Cristianismo e, ao mesmo tempo, admire toda a grandiosidade dos ensinamentos Budistas; encarar o pentateuco como algo válido a ser seguido – como no caso do Judaísmo e do Cristianismo – não casa bem com uma inclinação pelas filosofias do Egito Antigo; da mesma forma, compreender os relatos bíblicos e segui-los pode parecer incompatível com o desenvolvimento de um fascínio pela Mitologia Grega. O que dizer então da relação entre Politeísmo e Monoteísmo? Como considerar a variedade de todo o Panteão Hindu enquanto você frequenta uma religião na qual é ordenada a adoração exclusiva a um único e soberano Deus?
A princípio, você pode estar achando que eu optei pelo sincretismo religioso, mas isso é um equívoco. Depois de densas e profundas reflexões pessoais e após muitas observações, cheguei à conclusão de que o meu propósito na vida não é de seguir uma religião. Isso deixou de me atrair. [Hoje]Meu grande propósito é ser cada dia mais Humano. Eu quero ser um fator de soma na vida de todas as pessoas quais eu puder tocar. Vivo cada dia com o intuito de ser menos egoísta e mesquinho e passar a ser mais generoso, fraterno, amigo, honesto e Humano. São transmutações complexas, que exigem uma enorme força de vontade e mudança de orientação; exige o “temido” ato de pensar.
Acontece que, buscar por um propósito dessa natureza requer uma ampliação do campo de visão. Desconsiderar toda a sabedoria que foi deixada pelos nossos antepassados e procurar criar algo totalmente original e impensado seria tão incoerente quanto começar do zero a montagem de um submarino, enquanto poder-se-ia contar com o apoio de todas as áreas do conhecimento e com todas as informações já disponíveis. Em outras palavras, diversos foram os sábios que deixaram registrados, de uma forma ou de outra, seus conhecimentos; descartar esses conhecimentos ao invés de enxergá-los como boas sugestões de como podemos estruturar uma conduta mais Humana seria o mesmo que estagnar-se em um único patamar, sem jamais crescer.
Por tal razão, eu faço uso da Filosofia como uma ferramenta que me ajuda nessa caminhada. Não pertenço a nenhuma religião, não me prendo a nenhum deus e nem fecho os meus olhos para a diversidade. [Convido-te a ler uma publicação que falo da filosofia, nela você entenderá o que essa palavra representa para mim] Nada se compara à liberdade de poder beber de diversas fontes do conhecimento. Ser livre para poder buscar um feixe de luz aonde quer que ele esteja, sem a acusação de heresia ou sem que haja uma condenação, é realmente um diferencial na busca pelo crescimento Humano.
Pode ler o Bhagavad Gita e aprender sobre a sabedoria da Antiga Índia nos faz enxergar como o comprometimento com a verdade e com a honestidade são importantes; conhecer o budismo tibetano através de obras como A Voz do Silêncio (de Helena P. Blavatsky) e Transformando a Mente (do Dalai-Lama), é realmente algo reformador do ponto de vista filosófico; o que dizer dos ensinamentos de Confúcio, no livro Os Analectos? Como desconsiderar todo o conhecimento grego, por exemplo, a partir de Sócrates, Platão, Aristóteles e Epicuro? Sem dizer que da Roma antiga temos excelentes heranças, como os pensamentos de Sêneca e Marco Aurélio. Quem já leu sobre a filosofia egípcia de Hermes Trimegisto, trabalhada em O Caibalion, sabe que é um conhecimento preciosíssimo – indispensável na formação de um entendimento mais profundo sobre a vida e sobre sua dinâmica metafísica. Existe uma abundância de conteúdos Mitológicos que abarcam inúmeras tradições antigas, eles estão recheados de muito conhecimento de ouro! Como e por que desconsiderar tudo isso?
E em relação à Bíblia Sagrada? Esse livro, que foi amplamente distribuído pelo mundo e que influencia grande parte do Ocidente, merece sim ser considerado na formação de um filósofo humilde e dedicado ao conhecimento. É um livro que, embora infelizmente também seja utilizado para determinados fins [lucrativos e alienantes], tem em si um conjunto de mitos e ensinamentos – sobretudo os de Jesus Cristo – que sem sombra de dúvidas contém grandes sugestões de como nos tornarmos seres humanos melhores. As referências de pensamentos preciosos são muitas, e estão distribuídas em diferentes pontos na linha do tempo, compreendendo desde Hermes Trimegisto, passando por Sidarta Gautama e Lao-Tsé até Nilakantha Sri Ram e Carl Jung. Junto a tudo isso, temos os conhecimentos da Antropologia, da História, da Sociologia, da Psicologia e das Ciências Naturais. É muito conhecimento para ser rejeitado somente por se escolher situar a crença em um único ponto.
Portanto, como você já deve ter percebido, eu não tenho como me encerrar em nenhuma religião – admiro todas, porém não sigo nenhuma. Sendo o meu propósito como dito anteriormente, só me resta descobrir a mim mesmo e ao mundo fazendo uma ponte com todos aqueles que têm coisas preciosas a me ensinar. Quero poder ser sempre livre para aprender com toda e qualquer fonte de conhecimento que me aproxime de ser um humano mais sábio. Atualmente, sou apenas um aspirante à Filósofo – estou a quilômetros de distância daquilo que considero um ser Humano Sábio. Contudo, hoje tenho clareza de para que eu quero viver e como quero gastar estes meus anos de vida. Já te adianto que não quero aprisionar a minha existência apenas no meu mundinho egoísta, mas quero dividi-la com o maior número de pessoas possível. O conhecimento e a sabedoria estão aí por toda parte para todos aqueles que desejam crescer verticalmente – e só cresce quem realmente o quer!
Andreone T. Medrado
Devaneios Filosóficos
Segundo texto que leio aqui e que expõe meus pensamentos de maneira muito mais rica e estruturada. Vou reler e tirar notas, inclusive de livros cujo conteúdo fiquei curiosa para desvendar.
Eu sou ecumênica, não sei se acredito em Deus, acredito em algo maior porque seria muita arrogância minha achar que tudo que existe no universo é o que consigo ver. Quando me perguntam sobre isso, sempre respondo que Deus é a política, a filosofia, a ciência, a religião… Enfim.
Todas as crenças tem algo a nos ensinar.
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Ah! Eu nunca fui “obrigada” a seguir nenhuma religião, mas minha infância foi em uma família de espíritas Kardecistas. Tínhamos aulas que nos ensinavam a respeitar todas as religiões e assistíamos diversas palestras sobre assuntos bem palpáveis, como abraçar seus familiares ao chegar em casa, respeitar os idosos, dar bom dia, essas e muitas outras coisinhas simples que me ensinaram a seguir um caminho menos torto e mais bondoso.
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Creio fielmente que seguir uma Religião com todos seus Dogmas e particularidades só o torna um Religioso, seja ele um Religioso Cristão, Budista, Gnóstico, ou seja lá qual for, a melhor reflexão sobre o assunto encontrei em seu texto, por ser em primeiro lugar sincera, como eu acredito devemos buscar sempre por respostas, nunca se fechar em pseudo verdades, até porque como aspirantes á Filósofos sabemos que verdades absolutas não existem. Devemos fugir sim das Religiões e principalmente dos Religiosos, se queremos encontrar o caminho certo nos resta absorver de tudo e reter o que nos faz bem, com a mente de sermos cada dia melhores, parabéns pelo texto e pela coragem, afinal vivemos em uma sociedade onde a maioria se acovarda ao precisar tomar uma posição.
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Muito boa reflexão, Andreone. É corajoso tornar pública uma decisão individual e que mexe com as pessoas que não conseguem compreender a importância de ser livre intelectualmente à diversas acepções.
Infelizmente a sociedade tenta nos forçar a ter uma definição, quando na verdade, não sabemos o que acontecerá após o último suspiro, tampouco, podemos nos rotular e viver apenas aquele pedaço de realidade que escolhemos. A vida fica mais bonita quando se tem infindáveis possibilidades, quando nossa liberdade nos permite experimentar tudo sem uma inconsciência repressiva, que diz que estamos forjando algum dogma ou conduta específica e, por esse motivo, não somos pessoas puras.
Sei bem como é difícil o trabalho de criar um texto com um tema delicado como esse, especialmente no respeito que você concerne às visões que talvez sejam luz de muitas pessoas que possam ler, mas, que compreendem o porquê da sua cosmovisão e, talvez, até possam concordar com muita coisa. Eu também não sigo nenhuma religião. Nasci católico, não tinha liberdade de definir o que queria, de experimentar, ler, conhecer e entender outras culturas. Existem pontos de convergência em muitas religiões, talvez um exemplo bem notório pra mim seja aspectos do Zoroastrismo (religião persa) e o monoteísmo ético cristão – inclusive o fato de ambas serem monoteístas -, essas características sempre me chamaram atenção. Especialmente o fato de unir indivíduos num bem comum, para que tivessem determinada conduta. Creio que muita coisa seja positiva nisso. Mas, infelizmente, existe a parte ruim de servir de instrumento de alienação para parcelas detentoras de alguma hegemonia política, econômica, social, etc… E depois que comecei a aprofundar a história do nosso país (pegando o nosso cenário como exemplo), ressaltando o fato de não ser algo recente, há alguns anos reflito sobre isso. Minha conclusão é que não faz sentido (para mim) seguir uma religião. Isso também tem a ver com a minha inadequação em crer que o ser humano conheça o que está além da morte. A religião tem um papel importante de confortar o nosso desconhecimento do pós morte. Traz uma sensação de plenitude. É bonito saber que quando partirmos vamos para um lugar melhor, que nossa consciência da existência não desaparecerá. Que nosso indivíduo continuará a existir em outro plano. Tal como também é maravilhoso pensar como os egípcios. Que a morte é a continuidade da vida; isso acaba tirando essa angústia que é viver sabendo que nossos dias estão correndo em contagem regressiva. Independente dos pontos de convergência ou divergência das cosmovisões dessas sociedades. Eu não me sinto confortável em crer que nós saibamos o que vem pela frente. Ou simplesmente encobrimos nossa angústia com algo que nos conforte, mas que não responda as infinitas questões que surgem. Eu vivo cheio de questões, não consigo simplesmente aceitar uma suposta verdade, e ser feliz, após isso. Eu preciso sempre duvidar. E isso – talvez – seja a minha visão de mundo. Pelo menos eu sei que minha missão é tentar encontrar a verdade. E melhorar como humano. Esse é o mundo que conheço, que posso tocar, sentir, viver, aprender, experimentar… Não sei se existe algo além disso. Se o universo nos fez de repente criar consciência da própria existência. Nunca saberei. E é por isso que não consigo me adequar em nenhuma religião, apesar de compreender que elas são necessárias para algumas pessoas, para confortá-las. E até mesmo achar importante que elas existam, e que através delas também é possível compreender o porquê os humanos criam religiões, e precisam de respostas. É tudo muito interessante. Mas, hoje… Tenho a oportunidade de fazer escolhas. Poderia prolongar ainda mais o comentário retomando a parte que me foi imposta e falando do colonialismo, da catequização, de Padre Antônio Vieira e das ideias que ele trazia para justificar coisas deploráveis como a comparação da escravidão com o sofrimento de Jesus Cristo crucificado… São muitas coisas. Mas, deixarei isso para um futuro diálogo. (risos).
Muito obrigado pelo texto, desculpe por algumas imprecisões. E parabéns pelo texto riquíssimo, corajoso e ousado.
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Que comentário rico! Merece uma publicação à parte! Sempre aprendo com os seus comentários, meu Amigo!
Obrigado a ti pelas belas palavras!
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Muito obrigado, Andreone!! É muito bom ser instigado pelos seus textos!! Aprendo muito com eles, inclusive com sua escrita impecável. Isso é ótimo para vestibulandos!! rsrs
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É uma reflexão que carrego comigo, e fico feliz em saber que não sou o único. Imagino que o estudo da religião, fora da “caixa de religiões” é bastante secular.
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É verdade! O pensamento fora da caixa pode ser mais construtivo para todos.
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